Atriz e 'transpóloga' Renata Carvalho apresenta "Manifesto Transpofágico" no FITEI

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Porto Canal com Lusa

Porto, 13 mai 2021 (Lusa) -- A atriz e dramaturga brasileira Renata Carvalho, que se descreve como 'transpóloga', apresenta na sexta-feira, na versão 'online' do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), "Manifesto Antropofágico", a partir do próprio corpo.

Apresentado em estreia nacional no FITEI Digital, pelas 21:00 de sexta-feira, ficando disponível por 48 horas, o manifesto é um novo passo num trabalho de mais de uma década da atriz, encenadora, dramaturga e 'transpóloga', isto é, antropóloga transgénero, fundadora do Movimento Nacional de Artistas Trans.

O espetáculo parte do próprio corpo de Renata Carvalho para "narrar a historicidade da sua corporeidade", como "a construção social e imagética do corpo transgénero, a sexualização, os estereótipos, a transfobia estrutural, a criminalização, o encarceramento em massa, a violência, a patologização que permeia esses corpos".

"Uma vez perguntaram ao diretor do espetáculo, o Lubi [Luiz Fernando Marques], quanto tempo demorei a escrever a peça. Ele respondeu 38 anos, que era a idade que tinha na altura", conta a atriz, em entrevista à agência Lusa.

"Manifesto Transpofágico" vem do trabalho de pesquisa e de campo que tem desenvolvido desde 2007, e sobretudo do momento em que se apercebe "que os artistas trans não estavam presentes nos espaços de atuação nem de criação", mas as suas histórias sim.

"Aí eu percebo a construção social, mediática, carnavalesca, patológica, religiosa, criminal, que permeia o que é ser uma travesti. Este ser travesti, o que as pessoas imaginam ser, impede-nos de estar nos espaços de criação e atuação artística", comenta.

Em 2012, coloca em cena o primeiro solo, "Dentro de mim mora outra", e este novo espetáculo é um novo passo nesta "pesquisa empírica, científica e viva" que faz a partir da própria vivência, e uqe passa também pelo filme "Corpo sua autobiografia".

"O que pretendo com o espetáculo é perguntar a quem assiste: em qual lugar da transfobia ainda está? Porque todos somos transfóbicos e reproduzimos a transfobia. Ninguém passou ileso por essas estruturas, nem nós, pessoas trans", atira.

A apresentação no FITEI consiste nos melhores momentos de duas apresentações prévias, mostrando o espetáculo, de cerca de uma hora, como tendo "dois momentos", um primeiro "mais artístico, pautado pelo corte desse corpo sem rosto, mais cubista", na qual os corpos travesti/trans se mostram como "recortados, montando uma corporeidade", com "toda uma estratégia de comunicação não violenta" envolvida na abordagem à plateia.

"Num segundo momento, vou para a plateia e provoco-a a debater alguns assuntos em torno do que foi apresentado no espetáculo, e coloco o corpo como um molde. As pessoas podem tocar-me", explica.

As perguntas funcionam de um lado para o outro, ou seja, se Renata Carvalho pergunta "se alguém já passou o Natal com uma travesti, se já amou uma travesti, o que é cisgénero", entre outras coisas, o público também pode questionar e abrir um debate.

"Quando está no palco, está afastado de nós e não somos responsáveis. (...) O espetáculo faz-te questionar em que ponto da transfobia estás, e a partir de onde trabalhar para limpar e fazer uma 'faxina' nessa imagem do que é ser uma travesti ou pessoa trans", acrescenta.

A ideia não é tanto a de responsabilizar o público perante esses corpos e essas existências, mas antes "saciar" a curiosidade do olhar cisgénero, diz, e "levar a que as pessoas se questionem", para que se consciencializem que se pode "mudar o 'statu quo' no dia a dia".

"As travestis brasileiras também estão em Portugal, na Europa. A dispersão travesti tem o sonho de vir para a Europa, porque aí não são mortas na rua. Falo disso no espetáculo. [Há] a importância de Portugal hoje ficar a conhecer uma travesti brasileira mas não como uma prostituta, e nada contra, mas que não somos só isso. Portugal vai conhecer uma travesti brasileira que é atriz, dramaturga, transpóloga, pela sua produção artística", atira.

Nascida em 1981, em Santos, São Paulo, Renata Carvalho cumpre em 2021 25 anos de carreira artística, tendo fundado o Coletivo T, primeiro coletivo artístico integralmente formado por artistas transgénero no Brasil.

Tem trabalhado no teatro e no cinema, além da antropologia, e assinado vários documentos, como a criação do Manifesto Representatividade Trans.

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