UGT diz que "'troika' fez portugueses de parvos" e que austeridade vai continuar
Porto Canal
O secretário-geral da UGT disse hoje que os portugueses vão continuar a sentir mais austeridade mesmo após o fim do programa de ajustamento e considerou que, nestes três anos, a ‘troika’ fez por vezes os portugueses de ‘parvos’.
“Contrariamente à saída limpa que esperávamos, esta saída limpa vai trazer mais austeridade. Vamos continuar com medidas punitivas para trabalhadores, com o recurso à emigração, com o aumento da dívida pública, com a penalização dos pensionistas, trabalhadores da administração pública e do setor empresarial do Estado e vamos continuar a onerar as empresas, porque sem confiança não investem e não dinamizam a atividade económica”, afirmou hoje o dirigente sindical, numa conferência de imprensa na sede da central sindical, em Lisboa.
O Secretariado Nacional da UGT reuniu-se hoje para analisar a saída do programa de ajustamento. Carlos Silva disse que foi registado como “fator positivo a saída limpa”, mas que isso é “prejudicado pela decisão anunciada três dias antes [pelo Governo] de agravamento dos impostos”, com o Documento de Estratégia Orçamental (DEO) a referir um agravamento da taxa máxima do IVA para 23,25% e da taxa social única (TSU) dos trabalhadores para 11,2%
Segundo o responsável, isso contraria o que a UGT pediu ao primeiro-ministro em abril, na reunião da concertação social, que “o pós-‘troika’ não devia significar mais penalizações aos trabalhadores”.
Carlos Silva fez ainda críticas à atitude da ‘troika’ (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) desde 2011.
Nas reuniões “nós confrontamos claramente a ‘troika’ com um conjunto de atitudes que assumiu estes três anos, nomeadamente o FMI, que fez os portugueses de parvos e de cobaias”, afirmou Carlos Silva, que considerou que, por vezes, os credores internacionais atacaram “gravemente a idoneidade” de Portugal.
Carlos Silva disse ainda que se o Governo tem uma dívida para com a UGT, depois de ter “pressionado a UGT para fazer o acordo de concertação social em 2012”, e afirmou que é prioritário desbloquear a negociação coletiva, lembrando que falta cumprir o acordo que o Governo fez em 2012 de dinamizar estes instrumentos. Ao mesmo tempo, pediu, é necessário terminar com as restrições às portarias de extensão.
“Em 2008, os instrumentos de negociação coletiva abrangiam 2 milhões de trabalhadores e, em 2013, os contratos e convenções coletivas publicadas abrangiam 200 mil pessoas do setor privado”, afirmou, questionando se é “esta desregulação que o país quer, se é esta desproteção dos trabalhadores que o país quer”.
Carlos Silva disse ainda que a UGT não foi questionada até agora pelo Governo nem sobre uma eventual reforma da Segurança Social nem sobre a reforma do Estado.