Documentário recorda os que recusaram participar na guerra colonial

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Porto Canal / Agências

Lisboa, 23 mar (Lusa) - O realizador Rui Simões estreia em abril o documentário "Guerra ou paz", no qual aborda um tema que a sociedade portuguesa continua "a empurrar para debaixo do tapete": Os milhares de refratários e desertores da guerra colonial.

Rui Simões quis contar a sua história e a de uma dezena de pessoas - entre milhares - que há quase 50 anos decidiram sair de Portugal por discordarem da guerra em África, nas ex-colónias portuguesas.

Em entrevista à agência Lusa, o realizador afirmou que continua a ser um tabu falar dos "cem mil portugueses que se recusam a fazer a guerra. E não é por se terem recusado a fazer a guerra, uma guerra colonial, que devem ser tratados como traidores da pátria ou como gente que não merece o respeito dos portugueses".

"Guerra ou paz", que estreia a 04 de abril na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, regista o testemunho de portugueses e angolanos que procuraram asilo fora dos seus países de origem, por se oporem ao Estado Novo, à ideologia de Salazar, à política colonialista.

Entre os entrevistados estão o arqueólogo Cláudio Torres e a mulher, Manuela Torres, o músico Luís Cília, o cartoonista Vasco Castro, o sociólogo João Freire e o professor universitário angolano Arlindo Barbeitos.

Recordam como sairam do país, para onde foram, como viajaram, os motivos da saída, o que pensam ainda hoje sobre a guerra e o que está por fazer e refletir.

Há ainda um depoimento do ensaísta Eduardo Lourenço, num enquadramento sobre Portugal, excertos de discursos de António de Oliveira Salazar e ainda a leitura de uma carta ao primeiro-ministro, assinada pela jornalista e ativista Myriam Zaluar.

Foi a partir desta carta, partilhada por Myriam Zaluar há uns anos nas redes sociais, que Rui Simões decidiu fazer o documentário.

Na carta, Myriam Zaluar resume a história da família - que saiu do país durante o Estado Novo - e a sua atual condição precária, num tempo em que os portugueses são novamente obrigados a emigrar.

Antes de "Guerra ou paz", Rui Simões já tinha mergulhado na recente História de Portugal para fazer dois documentários históricos: "Deus, Pátria, Autoridade" (1976), que aborda os 48 anos do regime de Salazar até ao 25 de Abril de 1974, e "Bom povo português" (1980), sobre a situação política e social entre 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975.

Há uma "hipocrisia da gestão do ser português. Este debate não vem ao de cima, porque os políticos não deixam e a sociedade civil não se interessa muito; cria problemas e o português gosta de viver sem problemas", afirmou o realizador.

"Guerra ou paz" está pronto há dois anos, esteve na gaveta - porque "nenhum festival quis o filme, ninguém se interessou" - mas permanece atual, tendo agora uma efeméride ancorada: os 40 anos da revolução de Abril de 1974.

Rui Simões, que diz não ter mais nada a dizer - cinematograficamente - sobre o 25 de Abril, andará com o documentário "Guerra ou paz" em itinerância pelo país, mostrando-o aos espetadores portugueses, porque este é um filme que, argumenta, não consegue chegar ao circuito comercial.

Em abril, depois da Cinemateca, o documentário será exibido em Abrantes (dia 11), Barcelos (dia 17), Viseu (dia 22), Aveiro (dia 24) e Viana do Castelo (dia 25). Será mostrado também em Santarém, a 07 de maio.

Está prevista também uma edição emm simultâneo em DVD, com testemunhos adicionais de outros portugueses que se exilaram.

SS // CC

Lusa/fim

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