Irene Pimentel destaca poder dos militares e da Igreja durante a ditadura

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Porto Canal / Agências

Lisboa, 20 mar (Lusa) -- O poder da Igreja e dos militares foi decisivo para longevidade do Estado Novo, explicou hoje à Lusa a historiadora Irene Flunser Pimentel que publica este mês a "História da Oposição à Ditadura 1926-1974".

"A questão dos militares é muito importante em Portugal". porque "as questões corporativas dos próprios militares do MFA (Movimento das Forças Armadas) que têm muita importância inicial nos anos setenta também existia em 28 de maio de 1926", no derrube da I República, disse à Lusa Irene Pimentel.

A historiadora, que publica este mês a extensa investigação "Oposição à Ditadura 1926-1974", disse ainda que é muito interessante "ver o que o Salazar fez em relação às Forças Armadas", sobretudo a partir da segunda metade dos anos 1930.

"A primeira coisa que ele fez quando o regime está implantado -- em 1937 -- é domesticar as Forças Armadas. A Igreja e as Forças Armadas são as duas grandes instituições que apoiaram o regime", sublinha Irene Pimentel, acrescentado que as oposições ao regime são uma constante durante 48 anos.

"Reconhecendo o papel muito importante do Partido Comunista é preciso dizer que houve sempre outras oposições e que não foram sempre oposições partidárias. Por exemplo, o movimento de cineclubes, o movimento de coletividades e o movimento estudantil, importantíssimo para a hegemonia da oposição no final do regime", diz Irene Pimentel.

Para a historiadora, foi o próprio Estado Novo que instituiu o Partido Comunista como o adversário quando o Salazar diz em 1934, que "a grande heresia" é o comunismo tendo elegido o PCP como inimigo, depois de terem sido eliminados os "reviralhistas" e os anarco-sindicalistas.

A partir 1933, Salazar que controla todas as instituições vai passar a ter uma nova Constituição, uma polícia política, aparelhos de censura e de propaganda, assim como dispõe de um aparelho corporativo e o controlo dos sindicatos.

Para Irene Pimentel - como em todas as ditaduras - a "grande história" é a eliminação dos adversários políticos e no caso português existiu a vontade de "eliminação" da originalidade republicana do Estado e a perseguição aos comunistas como inimigo principal.

Na mesma ocasião, Salazar elimina os fascistas à sua direita e que inicialmente apostaram nele mas que começam a achar que não tinha o carisma suficiente para ser um verdadeiro ditador à semelhança de outros fascistas europeus.

"Os fascistas portugueses criticavam muito a Constituição por ter ainda algumas coisas liberais e queriam uma Constituição completamente corporativista. A grande visão de Salazar, quanto a mim, é primeiro aglomerar todas as direitas, eliminar a extrema-direita e depois todos os outros partidos à esquerda", explica a historiadora, sublinhando que o início da ditadura foi tudo menos pacífico.

"Há pessoas que participaram no 28 de maio de 1926 que rapidamente se afastam e que se erguem logo com armas. É todo um processo extraordinariamente conflituoso. As pessoas têm a ideia de que tudo aquilo foi muito pacífico, que houve um golpe de Estado e depois um dia veio o Salazar e mais ninguém reagiu mas as coisas não foram assim", diz Irene Pimentel.

A historiadora destaca os períodos entre 1926 e 1932 como os anos em que o "reviralho" luta contra a Ditadura Nacional, mas também a "luta antifascista contra o Estado Novo (1933-1945); "os anos de chumbo e da guerra fria (1946-1957); o "terramoto Delgado" e o início da guerra colonial (1958-1962); os últimos anos de Salazar (1963-1968) e o "marcelismo no beco sem saída" (1969-1974).

Nas conclusões do seu livro, com "caráter de ensaio", a autora aborda não só a questão do "derrotismo" das oposições mas também as lutas internas dos vários setores da oposição.

"Não só o sectarismo foi terrível durante estes anos todos", particularmente por parte do PCP, que tem uma grande "capacidade clandestina" e um "aparelho que renasce sempre que é destruído", impedindo "frentes contra o inimigo principal que era a ditadura", disse.

Na oposição, "havia um misto de triunfalismo e aventureirismo" mas também de "derrotismo", diz também Irene Pimentel, sublinhando o caráter excecional do Movimento das Forças Armadas.

"Uma das grandes questões do 25 de Abril é que foi muito bem pensado e muito bem estruturado e tinha chances de ganhar desde o primeiro momento", afirma a investigadora.

O livro "História da Oposição à Ditadura 1926-1974" de Irene Flunser Pimentel (774 páginas, editora Figueirinhas) incluiu fotografias, fichas biográficas e uma cronologia, vai ser lançado no final do mês.

PSP // PJA

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