Discurso misógino na voz de quatro atrizes em nova peça da Mala Voadora no Porto

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Porto Canal com Lusa

Porto, 01 out 2019 (Lusa) -- A peça "Locker Room Talk", do escocês Gary McNair, coloca quatro atrizes a apropriar-se de discurso machista na encenação da Mala Voadora, em estreia na sexta-feira, no Mosteiro de São Bento da Vitória, no Porto.

Integrado na programação do ciclo da companhia portuguesa "Uma Família Inglesa", dedicado ao teatro feito no Reino Unido, a produção própria marca também a primeira coprodução com o Teatro Nacional São João (TNSJ), que gere o Mosteiro, ao cabo de 16 anos de existência.

O espetáculo funciona "como um espelho" para o discurso misógino e machista, colocando as mulheres nesse papel, num texto dramático chocante que, aqui, invoca por interesse "a deslocação da fala" para entender não só o lado político, mas também "mecanismos próprios do teatro", aponta à agência Lusa José Capela, da Mala Voadora.

O encenador Jorge Andrade, por seu lado, revela que o espetáculo nasceu de um encontro de McNair com declarações do atual presidente norte-americano, Donald Trump, ainda durante o período de campanha eleitoral, quando descartou ter mantido conversas sobre assédio a mulheres, em jeito de "locker room talk", ou 'conversa de balneário', em tradução livre.

"Ficou impressionado e decidiu fazer a peça a partir dessa frase e foi ter conversas com homens sobre mulheres quando estas não estão presentes, de médicos a arrumadores de carros, sobre o que acham das mulheres", conta.

Dentro da visão "muito direcionada sobre masculinidade tóxica", o texto, assente em entrevistas e documentos reais, "não pretende ser uma radiografia do homem", sugerindo antes uma questão: "Será que Trump, quando diz o que diz, é só um tipo detestável, ou fala por uma maioria silenciosa?".

Este "mapa nada bonito" criado a partir de entrevistas feitas em Inglaterra, Estados Unidos e Austrália, é interpretado por quatro mulheres -- Crista Alfaiate, Isabél Zuaa, Tânia Alves e Teresa Sobral --, que "se apropriam de um discurso que é tido sobre elas".

"Não se pretende que comentem ou representem. Não [estão] propriamente [a] encarnar uma personagem, mas antes a apropriarem-se do discurso na primeira pessoa, confrontando-o com um outro contexto. E depois é ver o que sai", acrescenta o encenador.

Apesar de ter essa responsabilidade, Jorge Andrade nota que o espetáculo "está nas mãos das atrizes, com uma encenação muito residual", já que "não fazia sentido artilhar a apropriação de algo impositivo", explorando antes "o virtuosismo das atrizes na partilha dos textos, e a palavra é o que está mais presente".

"Locker Room Talk" insere-se ainda na temática de 2019 de "Uma Família Inglesa", dedicada ao feminismo e a questões em torno da mulher, de que são exemplo também espetáculos como "#womenandpower", de Maria Jorge, que é aqui assistente da direção de Jorge Andrade, ou "Oh Yes Oh No", de Louise Orwin.

O espetáculo pode ser visto na sexta-feira pelas 21:00 e no sábado pelas 19:00, no Mosteiro de São Bento da Vitória.

SIF // MAG

Lusa/fim

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