“Gostava, assim como qualquer jornalista, de fazer parte desse consórcio”

Manuel Tavares, Diretor-Geral do Porto Media, questionado a propósito da fuga de informação publicada pela Panama Papers, no passado domingo, e que vieram a público através de um consórcio internacional de jornalistas, diz que “gostava, assim como qualquer jornalista, de fazer parte desse consórcio” no entanto diz que “isso coloca um problema para as grandes marcas do jornalismo e da informação, porque deveriam ser essas marcas a arcarem com esse trabalho”.

O comentador afirma que “esta revelação, que é muito maior que a do Wikileaks” necessitou e teve uma investigação a nível global, acerca da colocação de dinheiro nas offshores, e que foi isso que permitiu a “fuga impressionante de capitais prejudicando os estados enquanto receptores de impostos.

Manuel Tavares considera que “a atual geografia dos implicados é muito circunscrita, e, felizmente, pelo menos para já, coloca de fora as democracias que nós reconhecemos como democracias avançadas, o que é bom do ponto de vista político”.

O Diretor-Geral do Porto Media lembra que “o povo diz, e cada vez com mais razão, que o dinheiro não tem cor e, portanto, o que está aqui em causa é como é que empresas, pessoas, agentes, conseguem acumular lucros não respeitando o que é essencial nas sociedades solidárias, no sentido mais básico do termo, que é pagar alguns impostos para que os mais desfavorecidos, as questões de saúde, o ensino, estejam adquiridas".

Manuel Tavares deixa ainda o apontamento que “toda esta gente que foge com milhões dos sítios onde acumulam lucros, e falta saber que lucros são, alguns deles são de atividades criminosas, não faz com que nós vejamos que em breve, num ano, dois ou três, dez, isto mude”.

Questionado acerca da atuação ser ou não à escala global, uma vez que os crimes também se espalham à escala global, e de termos líderes mundiais envolvidos nesse combate, o jornalista diz que “o mais fácil é encontrar líderes mundiais cujo poder assenta numa comunhão de interesses com algumas máfias locais, por exemplo, e há muitos livros escritos sobre isso, e, portanto, o que eu acho é que o combate a isto passa sempre por uma questão política, que é aprofundar as democracias, onde elas não existem, tornando o campo antidemocrático das ditaduras cada vez mais curto, e combater a pobreza. Não vejo outro caminho, é um caminho que não se faz de hoje para amanhã, faz-se caminhando.

Para concluir Manuel Tavares concorda que nos próximos dias se assistirá a consequências destas revelações, como por exemplo a demissão de líderes, como é o caso do primeiro ministro islandês. “Uns cairão, porque apesar de tudo o grau de democracia nos países vai permitir isso, os outros não cairão”, remata.