“Cavaco sempre olhou para as funções com uma perspetiva muito minimalista"
João Cerejeira, professor da Universidade do Minho (UM), defendeu, esta quarta-feira, que Aníbal Cavaco Silva desempenhou uma função "desajustada", "à defesa" e "distante da população", enquanto Presidente da República, durante estes últimos 10 anos. No dia em que Marcelo Rebelo de Sousa sucede a Cavaco Silva, Cerejeira acredita que o professor e ex-comentador da TVI vai ter "alguns desafios" no seu mandato.
No dia em que Marcelo Rebelo de Sousa toma posse como Presidente da República, João Cerejeira fez, esta quarta-feira, um balanço dos dez anos de governação de Aníbal Cavaco Silva. O professor da UM defende que o Ex-Presidente da República desempenhou uma função “desajustada”, numa “perspectiva muito minimalista” durante os dois mandatos.
“A função de Presidente da República, para Cavaco Silva, foi sempre algo que estava desajustada, aliás nós víamos demasiada rigidez (…) parecia que não estava à vontade no cargo”, defende, acrescentando que “Cavaco sempre olhou para as funções, enquanto Presidente, com uma perspetiva muito minimalista. Isto é, um Presidente (…) com um cargo um pouco distante da população, muito institucional, quase que diria que jogou muito à reserva durante os seus mandatos”.
João Cerejeira fala também de algumas dificuldades com que Cavaco Silva teve de lidar enquanto Presidente da República, dando o exemplo da queda do Governo de José Sócrates e com “agravante” de, tempo depois, o mesmo ter sido preso, “coisa que nunca tinha acontecido na democracia portuguesa”. Outra questão em cima da mesa foi a intervenção da Troika, resultado da crise das finanças públicas e da crise económico financeira do país. Para o professor, nesta última, Cavaco Silva podia ter feito mais, uma vez que a sua intervenção deveria ter sido mais prematura.
Apesar de tudo, o Ex-Presidente da República continuará a ser o “principal político português no ativo destes últimos 40 anos de democracia”, realçou ao Porto Canal.
“Se nós tivermos perante uma crise política como é que Marcelo vai reagir e como vai usar os poderes que tem?”
Marcelo Rebelo de Sousa tomou posse, esta quarta-feira, como novo Presidente da República de Portugal. João Cerejeira considera que o político vai ter alguns desafios durante o seu mandato e questiona a forma como Marcelo Rebelo de Sousa reagirá se uma nova crise política surgir em Portugal.
“Eu acho que Marcelo vai ter aqui alguns desafios e nós não temos dados suficientes para saber como vai reagir". “ Ele conduziu uma campanha de afetos e consensos” (…) tomando uma posição ao centro, conseguindo um “ eleitorado mais vasto”, ao contrário do que seria previsto: uma candidatura partidária (PSD).
No entanto, o professor da UM questiona-se: “se nós tivermos perante uma crise política como é que Marcelo vai reagir e como vai usar os poderes que tem? Esta é uma das dúvidas levantada por João Cerejeira, que clarifica ainda que o Governo de António Costa é minoritário e que a Assembleia da República é maioritariamente constituída pelo PSD, liderado por Pedro Passos Coelho.