"Quem esticou a corda até à última foi o Governo grego"

Dezassete horas de negociações e o anúncio feito pela manhã desta segunda-feira em Bruxelas: havia sido alcançado o acordo. José Palmeira, professor de Ciência Política na Universidade do Minho, discutiu esta segunda-feira no jornal das 13h, o anúncio de acordo entre Atenas e a Europa.

As medidas de austeridade previstas no acordo pecam, na opinião do Professor, por tardias, o que terá levado ao agravamento das propostas a que o povo grego disse 'não' em referendo. "A priori, se as medidas tivessem sido tomadas aquando da entrada do Governo, não seriam tão duras como as que agora vão ter lugar". José Palmeira crê que a situação da Grécia se "deteriorou muito" desde a tomada de posse de Tsipras.

"A questão da Grécia coloca-se em vários patamares: económico, patamar social para os gregos em primeiro lugar, patamar político mas também no patamar da confiança pessoal". Segundo José Palmeira, o que o Eurogrupo e o Conselho Europeu tentaram foi restabelecer a confiança perdida desde a entrada do Governo do Syriza, que se terá acentuado com a realização do referendo. "Não parece muito crível que estando o Syriza do lado do 'não' no referendo, agora venha propor medidas que são mais duras do que aqueles que votaram 'sim' estariam à espera que fossem aplicadas", acrescentou.

O ponto de 'quase ruptura', com o prenúncio a várias vozes da saída da Grécia da zona euro, o chamado 'Grexit', terá sido provocado pelo Governo grego, que "esticou a corda até à última". O Professor reforça que "o Governo estava em má situação desde que tomou posse, na medida em que ganhou as eleições na base de uma promessa no que ia no sentido de aliviar a austeridade e isso não aconteceu".

Por outro lado, faltam ainda os votos de pelo menos seis países do Eurogrupo sobre a ajuda financeira, além da necessidade de as reformas serem aprovadas no parlamento grego, o que leva José Palmeira a considerar que "isto não está encerrado".

"Não podemos fazer a leitura simplista de que quem queria a saída da Grécia do euro lhe queria o mal, e quem queria a permanência queria o bem". José Palmeira aconselha que se aguarde, uma vez que "não sabemos se estas medidas vão resultar, desde logo se o Governo vai ter capacidade de as implementar, e caso tenha essa capacidade se elas vão resultar ou não".

O Professor destaca a estranheza de uma situação, em que se prevê a aprovação das medidas em parlamento "com a maior parte dos votos da oposição, uma vez que é natural que o Syriza se divida nesta votação". Apesar de ter existido uma tentativa de solucionar o problema, irá sempre "depender da capacidade do Governo grego e dos sinais que vai dar".

A possibilidade de adiamento no pagamento da dívida, que irá "suavizar as prestações", estará "sujeita a uma próxima avaliação da Troika".

Numa avaliação a estes primeiros meses de governação do Syriza, o Professor José Palmeira crê que "não é fácil ir contra o mainstream europeu, isto é, a Europa tem um modelo baseado em acordos estabelecidos do ponto de vista político e ideológico, ao 'centro', e é muito difícil um governo que venha de um sector mais radical, impor a sua vontade". O caso da Grécia terá demonstrado que tal "é praticamente impossível".