"Aquilo que há a fazer pela Grécia, faça-se agora"

Domingo passado o povo grego respondeu com clareza às propostas dos credores europeus, com mais de 60% dos votos do referendo a recaírem sobre o "não". Para Guilherme Pinto, este foi um sinal de coragem dos gregos, numa altura em que se "anuncia uma desgraça, era a única hipótese de se afirmarem como povo. Se votassem 'sim', eram um povo rendido".

Para Guilherme Pinto, a Grécia está mal há muitos anos, devido a uma receita que não resultou, mas os gregos têm sobretudo um "pecado", a adulteração das contas feita por uma empresa internacional que hoje ainda se encontra nos mercados. Guilherme Pinto acredita que por esse facto, "a Comunidade Internacional deveria ter banido essa empresa". Apesar de considerar este um passo lamentável dos gregos, "não podemos passar a vida a penalizá-los".

O caminho a percorrer pela Grécia é extenso. O excesso de reformas antecipadas, gastos supérfluos e um "estado profundamente clientelar" são alguns dos principais problemas, que no futuro não podem existir.

Guilherme Pinto não compreende algumas atitudes europeias, como as declarações do vice-chanceler alemão, quando afirmou "estar disponível para reduzir a dívida grega, mas não já". Guilherme Pinto não está de acordo com a redução da dívida grega, acreditando que "basta escaloná-la no tempo, aplicando juros parecidos com os que o BCE aplica em alguns empréstimos que faz". No entanto, se existe essa disponibilidade, "aquilo que há a fazer pela Grécia, faça-se agora".

A larga vitória do 'não' de Domingo, leva Guilherme Pinto a sugerir que Alexis Tsipras "talvez tenha antecipado aquele resultado", saindo "claramente reforçado". Caso contrário, "iria ser imposto um acordo à Grécia, com uma perda total de capacidade do primeiro-ministro de poder influenciar os gregos a cumprir esse acordo, porque estariam contra".

Uma questão incontornável à volta da situação grega, prende-se com os esforços feitos pelos outros estados que apelaram ao resgate financeiro internacional. Para o presidente da CM de Matosinhos, o Governo português, tanto como o espanhol, são "dos primeiros a boicotar qualquer entendimento com os gregos", pois caso seja alcançado um acordo com a Grécia, serão questionados por "andarem a ceder a tudo o que é pressão dos credores".

Guilherme Pinto fala em "jogo de teimosos", analisando as divergências entre o Conselho Europeu e a Grécia, em que "aparentemente, quem está a ser mais teimoso e inflexível é o Conselho Europeu. Os gregos querem ter alguma capacidade para respirar". Uma das propostas pela Grécia seria o corte das medidas da defesa, como o armamento. O Conselho Europeu terá negado essa redução porque "quem vende o armamento é a Alemanha". Na opinião de Guilherme Pinto, "isto é um absurdo".

A crise grega traduziu-se, para Guilherme Pinto, num "aprofundar da União Europeia", o que do ponto de vista europeu poderá ser positivo - "este momento para a Europa, pode ser um bom momento, temos aqui uma oportunidade, desde que os líderes europeus tenham o bom senso de não estar à espera que a Grécia se porte bem, para lhe darem um rebuçado'".