“Tem havido imensos incumprimentos ao longo dos anos e, nunca se falou sobre sanções a serem aplicadas a países membros”

Segundo a professora universitária, à medida que os anos vão passando, os incumprimentos têm acontecido cada vez mais e o assunto, de sancionar os países que pertencem à União Europeia nunca foi falado antes.

“Tem havido imensos incumprimentos ao longo dos anos e, nunca se falou tão pouco, sobre sanções a serem aplicadas a países membros portanto, com situações a este tipo”, disse Cristina Abreu referindo-se à aplicação de sanções a Portugal e à Espanha.

A especialista mostra-se ‘revoltada’, de certa forma, pelo facto das sanções terem sido, apenas, aplicadas a Portugal e a Espanha e não terem sido aplicadas à França e à Itália uma vez que, também não têm cumprido com aquilo que lhes é devido. E, questiona-se acerca do porquê desta decisão.

“Quando temos, desde logo, a França que está desde este momento, a 3,5% de défice” e “temos a Itália nas mesmas circunstâncias” revela que “ também não estão a cumprir e, todavia, fazem sanções a Portugal e a Espanha” e, por isso, Cristina Abreu questiona o “Porquê deste dois países? E, não os outros dois?”. “E mais, eu diria, relativamente a uns números (que tenho aqui), por exemplo: para Espanha, entre 2012 e 2015, num prazo de três anos, passou-se de um défice de 10.4% do PIB para um défice, em 2015, de 5.1%, ou seja, assistimos a uma redução, em três anos, de metade do valor. Sendo que a recomendação, porque são valores recomendados pela Comissão Europeia, de 4.2% do PIB, em 2015. E, eles ficaram em 5.1%.”, acrescenta.

No ponto de vista da professora, Portugal provou um bom andamento a nível econômico no valor do PIB num período de cinco anos. Contudo, os sacrifícios para atingir esse andamento comprometeu o crescimento da economia.

“Para Portugal, em 2010, nós tínhamos um défice de 11.2% do PIB e em 2015, 4.4% do PIB, ou seja, nós tivemos uma variação em cinco anos de vantagem , portanto de bom andamento da Economia na ordem dos 7%” que, na realidade significa que “o que parece estar aqui em causa, é um valor em absoluto, que se está a ler à décima ou à centésima, que eu diria que tinha uma leitura mais política do que económica porque, para nós economistas isto não faz qualquer sentido. Portanto, a devida interpretação e leitura, ela reside de facto no domínio político, até porque em Portugal, o valor recomendado para 2015 era de 2.5%. Ora, nós ficamos um pouco, a 3,2%, o que significa que fizemos uma trajetória com um sacrifício tremendo e, que comprometeu o crescimento da economia”, sublinhou.

Cristina Abreu acredita que os agregados macroeconômicos funcionam como o organismo humano que, caso falhe um órgão que o constituí compromete tudo o resto.

Os “agregados macroeconômicos, como eu costumo dizer, é como o organismo humano”, ou seja, “não se compartimenta, é um sistema todo ele e, portanto, se nós bloquearmos um órgão vital, estamos a comprometer todo o organismo. A economia funciona da mesma forma.”, defendeu. E, ainda ‘elogiou’ os métodos utilizados antigamente em que “num tempo de um outro projeto europeu, em que estas metas eram recomendadas, eram lidas com cautela”, isso permitia saber que caso “fossemos tremendamente rígidos em relação a nós, nós estaríamos a comprometer a vida destes mesmos organismos.”

É de relembrar que anteriormente, o Primeiro-Ministro António Costa afirmava que, caso as sanções fossem aplicadas, refletiam apenas o resultado que não foi atingindo em 2015. Contudo, agora o ‘discurso’ alterou-se, na medida em que, as sanções podem ser reduzidas a zero, caso Portugal e Espanha cumprirem as metas definidas pela Comissão Europeia.

Cristina Abreu mostra-se descontente acerca desse assunto e, destaca que, “no âmbito do campo político”, existe “estruturas supranacionais” que condicionam o Governo.

“As próprias estruturas supranacionais estão a tentar condicionar a política que será conduzida pelo Governo e a aliança, que no fundo, detém a maioria parlamentar. O que, portanto, eu diria que é feio, é baixo, não respeita a soberania nacional, é um inmiscuirse a nível de uma escolha que pretende ser e, seguir em determinado trajeto que nós sabemos qual é, que já vem do anterior Governo, que serve muitos interesses a nível europeu. É isso que é inadmissível”, mencionou.

A Espanha já tomou a decisão de que, para o próximo ano, iria aumentar os impostos. Quando questionada se Portugal deveria optar por esse ‘plano B’, a especialista em economia internacional, carateriza-o como “imaginário” e que tem como objetivo “criar ruído”. No desenrolar da conversa, a professora afirma que, a situação da Espanha é bem diferente que a de Portugal e que, por isso, não está em condições de subir a carga fiscal.

“Relativamente a Espanha temos uma situação diferente, a economia espanhola tem tido um crescimento, um desempenho económico excelente a nível europeu”, no entanto, “não conseguiu alcançar a tal meta rígida.” E por isso, defende que, Espanha tem “condições de subir a carga fiscal deste momento porque, tem tido, de facto, um desempenho que pode permitir absorver, de alguma forma, como choque agora duma carga fiscal um pouco mais pesada”, o mesmo não acontece com Portugal: “Nós temos uma taxa de desemprego, que continua altíssima” e, “quando começamos a ter alguns sinais de confiança para os investidores, para os consumidores, nós voltamos a um tipo de política linha austeridade”, gerando, “do ponto de vista financeiro, turbulência” e que, “não é desejável”, explica.

Cristina Abreu terminou a entrevista afirmando que a Europa está a separar-se e que, deve-se principalmente às lideranças europeias.

“Estas lideranças, que nós temos tido a nível europeu, têm sido os grandes responsáveis pela desagregação da Europa, e pelos visto, tendem a continuar”, concluiu.