“A Comissão Europeia não está nada contente com o nosso Governo”

Pedro Arroja, comentador do Porto Canal, ‘exige’ que os nossos governantes adotem “ já medidas até ao dia 27 ou então sofrem sanções”. Este fim de semana, a Comissão Europeia mandou um ultimato a Portugal e a Espanha.

“As sanções traduzem-se, ou numa multa em dinheiro que pode ir até 0,2% do PIB, e na retenção dos fundos comunitários, que nos fazem imensa falta, uma vez que o Estado, por si próprio, não tem capacidade financeira, neste momento, para financiar certos investimentos”, disse o economista, que carateriza a situação como estar “a ficar negra”.

Pedro Arroja acredita que a afirmação do Ministro alemão acerca de um possível segundo resgate para Portugal tenha pressionado o Governo português a adotar medidas que reduzam o défice orçamental, porque a Comissão Europeia e a Alemanha, que têm grande poder, estão insatisfeitas com o Governo.

“Surgiu um rumor a partir de uma afirmação do economista alemão que Portugal estava a negociar um segundo resgate. O Governo português desmentiu imediatamente, e a ‘coisa saiu-lhe mal’, mas evidentemente que ele não faria tal afirmação se não houvesse coisa”, salientou.

Para o comentador, não existe nenhum documento assinado pelo Governo e pela Comissão que comprove, de certa forma, um segundo resgate para Portugal, porém vai ser tema discutido entre os dois. Admirado por Portugal ainda não ter tido outro resgate, o economista afirma que “vamos ter mesmo um segundo resgate já, para o mês que vem, daqui por três meses, eu diria no máximo a um ano”.

A insatisfação da Comissão Europeia, no ponto de vista de Arroja, deve-se ao Governo que está a "reverter todas as medidas de austeridade que o anterior Governo tinha implementado sob pressão da Troika", ou seja, pelos credores: a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Daria Internacional e que, desta forma, “existe aqui um confronto” entre o Governo e os credores.

“Os credores querem ver o seu dinheiro de volta e com a reversão destas medidas que o atual governo tem feito, a reversão do IVA sob a restauração, as 35h de trabalho na função pública, a reversão da baixa salários dos funcionários públicos, e etc, a Comissão Europeia não está na contente com o nosso Governo”, disse.

O economista defende que Portugal deve "portar-se bem", porque está a "precisar outra vez de dinheiro dos credores" e por isso, devemos "fazer aquilo que nos é pedido".

“O BE, acho, que não credibilidade” porque caso “tivéssemos que fazer referendos já o devíamos ter feito há muito tempo, não agora, sobretudo numa situação de fragilidade em que nos encontramos”, disse Arroja relativamente ao pedido do BE de um referendo.

“Nós somos o devedor, o devedor que não tem dinheiro, não tem, neste momento, meios para pagar a dívida que tem com os seus credores, designadamente a Troika, portanto isto vai-se decidir com o credor a prevalecer sob o devedor”, acrescentou.

Quando questionado se a Espanha terá mais ‘sorte’, diz que “os espanhóis são maiores”, pois “um confronto entre a Espanha e a Comissão Europeia tem outra dimensão internacional” assim como “para a própria UE”.

"Na última vez, os espanhóis tbm pediram dinheiro emprestado à Troika, só que não aceitaram planos de austoridade” e não permitiu “que a Troika fosse lá mandar em Espanha. Nós não temos esse poder, ou melhor, nós teríamos mas tbm não tivemos aquilo a que eu chamo a visibilidade suficiente para dizer ‘Isso não’, como os espanhóis têm. Pode ser que eles tenham por causa da dimensão. Já vimos que o confronto de um pequeno país com a Comissão Europeia perde o pequeno país. A Grécia já deu o exemplo há um ano atrás, pouco mais, a Grécia andava aí de mãos no ar contra a União Europeia e acabou por se calar”, frisou.

A conclusão a que chega é que Portugal tem de fazer aquilo que a UE mandar, uma vez que se deve respeitar o ultimato até dia 27.

“Os portugueses podem prepararem-se para os anúncios, de muito provavelmente, o aumento de alguns impostos. Eu diria sobretudo, se me perguntassem que tipo de impostos, provavelmente o IVA e muito provavelmente o imposto sob produtos petrolíferos. São impostos que dão dinheiro imediato e que UE gosta, porque reduzem de facto o défice”, sublinhou.