“Ao contrário do nosso Governo anterior que se demarcou do Governo da Grécia este Governo está na direção certa”
O professor Pedro Arroja, questionado acerca da visita do Primeiro Ministro à Grécia e da declaração conjunta de António Costa e Alexis Tsípras contra a austeridade disse que pensa “que é um sinal muito importante e muito positivo para Portugal. Ao contrário do nosso governo anterior que se demarcou do governo da Grécia, a partir do momento em que o Syrisa foi eleito, este governo está, penso eu, na direção certa”.
“É certo que dois pequeníssimos países em dificuldades não constituirão uma frente comum muito forte, mas é um bom princípio sobretudo se puderem agregar os dois grandes países da Europa do sul que sofrem dos mesmos problemas de Portugal e da Grécia, que são a Espanha e a Itália”, lembrou o professor.
“Os quatro têm o mesmo tipo de problemas, têm a mesma cultura, e isto é um ponto essencial porque as instituições europeias foram desenhadas no norte da Europa e ajustadas à cultura dos países do norte da Europa, especialmente à Alemanha, e não às nossas”, continuou Pedro Arroja.
“Este é sem dúvida um passo muito importante para que venhamos a sair deste impasse económico em que nos encontramos à cerca de 15 anos”, admitiu o professor.
“Este Governo apercebeu-se, ao contrário do anterior, que as medidas de austeridade não são solução, e embora tenha saído alguma coisa desses quatro anos de austeridade, a verdade é que não resolvemos nenhum dos problemas estruturais da economia portuguesa”, reconheceu Pedro Arroja.
Na opinião do professor o facto é que “não há crescimento, o desemprego continua elevado, a situação financeira dos bancos é frágil e o Estado ainda está por reformar. Portanto os problemas ainda são os mesmos”
Questionado acerca de se é possível esta união ser feita sem confronto, o professor diz “acho que sim, explicando aos outros países que os nossos países do sul da Europa têm uma cultura diferente”.
Relativamente ao estado do nosso país, Pedro Arroja considera que “uma das medidas que resolveria grande parte dos problemas, é a necessidade de nós protegermos as nossas economias. Se nos queremos manter no Euro temos de negociar com a União Europeia um estatuto, pelo menos durante alguns anos, que nos permita proteger as nossas economias, isso significa levar os portugueses a consumir mais produtos portugueses”.
O professor clarifica ainda que “exportar mais e importar menos significa mais emprego” e é disso que tanto o nosso país como a Grécia precisa.
“Precisamos também de mais produtividade”, referiu Pedro Arroja, porque “a nossa produtividade, devido à nossa tradição, é pouco mais de metade da produtividade da Alemanha, não porque o alemão trabalhe mais do que nós, a diferença está naquilo em que trabalhamos”.
Para exemplificar o professor disse “o alemão emprega uma hora do seu trabalho a produzir um BMW, o nosso trabalhador, na mesma hora, produz castanhas. Se calhar até trabalha mais, mas o valor acrescentado nas castanhas é muito menor do que o valor utilizado para produzir um BMW”.
O comentador do Porto Canal referiu também que “este Governo tem o seguinte diagnóstico que o nosso governo anterior não tinha e com o qual eu concordo, é que viram que as medidas de austeridade não funcionam. O que nós precisamos é de uma mudança radical”.
Nos Estados Unidos os estados mais ricos suportam os mais pobres, no entanto, refere Pedro Arroja, “aqui a receita é igual para todos. O que os mais ricos acham que é bom para eles, pensam que também é bom para nós, o que é um erro fatal. (…) há que ser considerado o factor diferença, nós na Europa não somos todos iguais”.
Portanto, voltando ao acordo, o comentador frisa que “é uma janela de esperança o que este governo está a fazer e que eu imitaria. (…) é um bom passo, espero que o Primeiro Ministro tenha sucesso numa aliança que procure captar Espanha e Itália e que, em conjunto, se sentem com os alemães e os países do norte e digam que isto não está a funcionar para nós, é preciso dar um jeito à nossa maneira”.