20 anos de "Viagens" trazem Pedro Abrunhosa a casa

Pedro Abrunhosa está a festejar, com uma digressão por todo o país, os 20 anos do álbum "Viagens" e deu uma entrevista ao Porto Canal revelando o desconforto com a nostalgia e a emotividade de actuar "em casa". A intervenção cívica é uma das imagens do músico portuense, que teme o desespero e a falta de esperança das pessoas.

"O futuro não me atrevia a imaginar (…) eu sabia que o meu trabalho estava a ser bem feito", disse Pedro Abrunhosa recordando o inicio da carreira. A visita ao passado causa "desconforto" ao músico que considera que esse tipo de visitas, no mundo do espectáculo, significa, por vezes, que a criatividade escasseia. Talvez este sentimento em relação à nostalgia, leve o músico portuense a sentir-se mais confortável no campo da crítica ao estado do país.

"Social e politicamente estamos pior, não tenho qualquer dúvida", diz Pedro Abrunhosa.

A "falência dos vectores políticos e financeiros" podem levar, segundo o músico, a atitudes inesperadas das pessoas que estão desesperadas e que "não têm esperança". O grave no nosso país é que as pessoas não falam, "empurram as coisas com a barriga", e "o pior que pode haver num pais é o silencio".

Relembrando o episódio em que se algemou às portas do Coliseu do Porto, Pedro Abrunhosa apelida-o de "acto simbólico" e desmente "intenções políticas" nas suas intervenções "de cidadania".

"Eu sinto-me forçado a dizer o que tem de ser dito (…) porque, a realidade, é que se vive um clima de medo, de insegurança, de incerteza e as pessoas não têm voz", diz o portuense.

Cantar "em casa" - no Coliseu do Porto - é sempre emotivo para o músico que espera que "chegar aqui" não seja o final de nada mas apenas mais um passo no percurso que espera continuar a percorrer.