Liderança, precisa-se!

14-06-2016 12:32:32 | Porto Canal
 
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Jorge Araújo

Começou o Europeu 2016. E, como sempre, os mesmos cidadãos nacionais, tantas vezes pessimistas e quase sempre incapazes de, na sua vida social e política, se mobilizarem ao redor de um objectivo comum, estão a responder à chamada de Fernando Santos quando apontou como objetivo para a nossa seleção nacional de futebol vencer esta competição.

E mais uma vez nestes últimos anos, as únicas experiências verdadeiramente massivas de unidade nacional, estão a ser comandadas por um treinador de futebol...

Uma verdadeira mobilização geral que, ironicamente, tanta falta tem feito para ajudar a superar as actuais dificuldades sociais e financeiras com que nos debatemos.

Afinal, um treinador de futebol é o líder em que o País se reconhece, tentando criar e impulsionar uma identificação colectiva invejável.

Como? Através de uma Visão suficientemente mobilizadora para recuperar em cada um de nós o orgulho de ser português e de cantar o hino nacional vestido com as cores da bandeira e, em muitos casos, empunhando-a ou desfraldando-a nas janelas, nos automóveis, nos autocarros.

Quantos dos nossos políticos invejam esta capacidade inspiradora? Muitos, naturalmente!

Principalmente por reconhecerem que chega a ser doloroso verificar como é difícil em Portugal em termos sociais lutar por objectivos comuns. Ou romper com as teias habituais do medo do ridículo e do risco sempre contido no soltar das nossas emoções e, pura e simplesmente, pintarmo-nos de verde e encarnado, colocar cachecóis e cabeleiras garridas, saindo por aí a gritar palavras de ordem e dançando ao sabor das músicas que mais e melhor nos façam sentir solidários.

Esperemos entretanto que tal como tristemente aconteceu com Scolari, Fernando Santos não seja vítima da terrível teia que constantemente pressiona quem lidera, no sentido de nos momentos mais difíceis pensar primeiro em si, que naqueles que dirige. Porque se for assim, quando tudo menos o indique revelará a sua humanidade e será incoerente. E, principalmente, deixará de revelar a confiança que até aqui parece inabalável e, pior ainda, começará a dar indicações de alguma incoerência. Aqui entre nós, preocupou-me a forma como Fernando Santos respondeu ontem a algumas das perguntas dos jornalistas acerca do estado de saúde do Ricardo Quaresma... Para quem pretende liderar, não é recomendável adoptar “um diz que não diz” como aquele a que ontem assistimos...

Aguardemos entretanto pelo primeiro jogo com a Islândia para vermos como reagem a equipa e os jogadores.

Está hoje perfeitamente demonstrado que, no que respeita à liderança de pessoas e equipas, não são as palavras, muito menos as boas intenções expressas pelos líderes que repercutem mais profundamente naqueles que dirigem. Mas sim o impacto das suas atitudes e comportamentos, o exemplo que sabem ser, a coerência que expressam, a confiança que suscitam, a honestidade e frontalidade que utilizam ao serviço dos objectivos comuns, a autoridade que lhes é reconhecida e que não precisa de ser imposta.

Dizer e defender algo para o colectivo, exige a quem lidera ser um modelo e uma referência no que respeita ao respectivo cumprimento. E, até agora assim tem acontecido. Esperemos que continue e que a conferência de imprensa de ontem tenha sido um mero percalço.

A partir de agora e quando for necessário que o todo e as suas individualidades sejam suficientemente coesos e errem o menos possível, bem vamos precisar de uma liderança de Fernando Santos à altura da ambição que que muito bem soube manifestar até ao momento.

A seleção nacional de futebol, tal como o País, precisam ser liderados de forma emocionalmente convincente. Sem invalidar que, tal como atrás ficou suficientemente expresso, é cada vez mais difícil prolongar no tempo uma liderança coerente, consequente e eficaz. O que hoje resulta, amanhã e em diferentes circunstâncias deixa de ser solução. E, na maioria das vezes, a razão de tal acontecer resulta de quem lidera pensar ser possível continuar a dizer as mesmas coisas, ainda que com muito menos convicção, sem que aqueles que dirige não se apercebam da diferença. Pura ilusão, que habitualmente custa muito caro a quem assim proceda.

Somos humanos, logo falíveis e vulneráveis, ainda por cima enquadrados num meio ambiente cada vez mais complexo, sempre em mudança, turbulento, que cada vez mais nos pressiona no sentido de nos isolar uns dos outros. E não é fácil a quem lidera ser capaz de, em tais contextos, não só revelar consistência de resultados, como principalmente, manter intocáveis a sua autoridade reconhecida, mais do que imposta, tal como a sua coerência de atitudes e comportamentos, face aos valores e regras de vida colectiva que diz defender.

Mas é fundamental que Fernando Santos esteja atento e se prepare para isso!

Aliás, aproveitando o que tem sido o apoio entusiástico do sr. Primeiro Ministro e do sr. Presidente da República à nossa seleção nacional de futebol.

Pertence-lhe envolver tudo e todos nos objectivos colectivos a serem alcançados. Tal como compatibilizar ambições individuais e colectivas, para que ninguém ao serviço do colectivo, abandone as suas expectativas e ambições individuais. Conseguindo que indivíduos e organizações se superem, a caminho do sucesso e da afirmação individual e colectiva.

Mas as dificuldades não ficam por aqui!

Não é fácil conseguir um verdadeiro compromisso emocional, onde existam objectivos e interesses comuns, se complementem objectivos individuais e colectivos e se definam regras da vida colectiva (disciplina assumida) e tarefas, (o quê, quando, como). Idem no que respeita a uma participação, responsabilização e envolvimento de tudo e de todos. Tal como uma adaptação à tarefa e gostar do que se faz, retornos intrínsecos e extrínsecos e gestão das expectativas individuais. Ou incrementar quanto baste uma fundamental distinção e reconhecimento e conseguir que quem lidera seja sempre um Modelo e uma referência. A capacidade de superação de indivíduos e organizações, depende, acima de tudo de os líderes conseguirem que os seus desafios também sejam os daqueles que dirigem. Envolvendo-os num projecto colectivo, onde os desafios a enfrentar sejam assumidos por todos sem excepção.

Para que haja superação, os desafios da seleção nacional têm de ser os dos jogadores que a compõem, numa profunda identificação colectiva em que o todo seja maior que a soma das partes.

Tudo isto enquadrado numa filosofia de liderança por parte de Fernando Santos onde não pode haver ilusões quanto à importância de ter muito claro que, se quem joga são os jogadores, estes requerem reunir um conjunto de qualidades. Que tal como o meu mestre norte americano John Wooden um dia definiu, deverão ser, “mais do que jogadores fortes fisicamente, possuírem uma agressividade mental que os distinga dos restantes.” e que, “mais do que jogadores rápidos em termos de deslocamento, revelem maior rapidez em termos de tomada de decisão.”

E se na vida aprendemos que para haver superação, tem de existir pressão, exigência, aqui e ali mesmo adversidade, que neste Europeu não esperemos facilidades de qualquer tipo. E que nas dificuldades com que a nossa seleção irá deparar consigam os nossos jogadores e a equipa nacional superar-se a caminho da concretização do objetivo apontado por Fernando Santos e tão veementemente apoiado por Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa.

Liderança, precisa-se!

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