Economia de esforços

17-06-2016 13:08:30 | Porto Canal
 
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Pedro Arroja

A decisão da UEFA de aumentar de 16 para 24 o número de jogos da fase final do Euro teve certamente uma racionalidade económica. O número total de jogos aumenta de 19 para 33 proporcionando maior receita à organização.

Mas a selecção vencedora, até erguer a taça, terá agora de disputar sete jogos, em lugar de seis, no curto espaço de um mês - um aumento do esforço em 17%, em cima do esforço despendido pelos jogadores durante a época nas várias competições nacionais e internacionais em que estiveram envolvidos.

Ao aumento do número de jogos, junta-se um critério de qualificação muito brando na fase de grupos que permite que das 24 equipas em competição, dezasseis passem à fase de eliminatórias - as duas primeiras de cada um dos seis grupos, e ainda as quatro que consigam os melhores terceiros lugares. Mesmo uma selecção de ranking médio tem uma elevada probabilidade (67%) de chegar aos oitavos-de-final.

Com tantos jogos esperados pela frente e com a qualificação praticamente certa, os jogadores das equipas mais cotadas têm um incentivo óbvio a economizar esforços na fase de grupos, tornando os jogos lentos, pouco competitivos e, às vezes, literalmente "chatos".

As consequências são várias e estão à vista. Primeiro, o baixo número de golos. O número de golos marcados até agora no Euro 2016 é inferior ao dos últimos Campeonatos da Europa no mesmo número de jogos.

Segundo, ao final da primeira semana de competição, a maior parte dos resultados são empates (5) ou vitórias pela diferença tangencial (8), e não existem goleadas, o resultado mais volumoso sendo uns magros 2-0 (5).

Nos primeiros jogos da fase de grupos, o empate não compromete a qualificação de qualquer das equipas, e os três pontos da vitória são assegurados pela diferença mínima de golos, não compensando aos jogadores despender esforços para aumentar a vantagem. Quanto a goleadas, seria puro esbanjamento de energias que vão ser muito necessárias na fase de eliminatórias.

Terceiro, os golos - e sobretudo os golos decisivos - tendem a ser marcados nos últimos minutos de jogo. Para quê marcar cedo, se depois é necessário despender esforços para conter o ímpeto do adversário até ao final do jogo? O ideal é marcar nos últimos minutos e em seguida ir para o balneário.

Em suma, jogos lentos, pouco competitivos na maior parte do tempo, que se decidem por empates ou pela diferença mínima, e que só ganham intensidade nos minutos finais, altura em que tendem a ser marcados os golos decisivos. Esta é a imagem até agora do Euro 2016, e é uma imagem não muito interessante.

Tudo isto esteve presente no Portugal-Islândia. A selecção portuguesa, com uma cotação acima da média na Europa, entrou para o jogo praticamente certa da qualificação e esperando ainda vários jogos pela frente além da fase de grupos. Aplicou-se pouco. Para os jogadores portugueses este era um jogo "para cumprir calendário", ainda por cima contra uma das menos cotadas selecções em competição.

Excesso de confiança e economia de esforços ditaram o resultado final. A diferença de qualidade entre as duas equipas foi compensada pelo maior empenho dos islandeses que, não esperando ir longe na competição, deram tudo em campo. A esta luz, o resultado de 1-1 não é surpreendente.

No próximo Sábado, os jogadores portugueses irão entrar em campo ainda convencidos de que se vão apurar, embora ligeiramente menos do que na passada Terça-feira. O empenho no jogo será maior do que contra a Islândia. Porém, é preciso ter presente que a Áustria, tendo perdido com a Hungria, joga a sua sobrevivência. Embora Portugal seja favorito, um outro empate não seria surpreendente, deixando a qualificação pendente para o jogo com a Hungria.

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