Fernando Santos

10-07-2016 18:36:29 | Porto Canal
 
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Júlio Magalhães

Um americano amigo meu disse-me um dia que o que os distinguia de nós era simplesmente a inveja. E arranjava uma boa forma de o descrever: dizia ele que um americano quando constrói um prédio de 100 andares, o vizinho enche-se de brios e sente-se capaz de logo a seguir construir um igual ou ainda maior. Um português, quando constrói um prédio de 100 andares, o vizinho em vez de tentar fazer melhor, fará tudo para destruir ou impedir que o prédio seja construído.

Ora este Europeu trouxe-nos o pior de alguns desses portugueses. Um treinador, uma equipa técnica e 23 jogadores decidiram construir um prédio que fosse um orgulho para a nação e confrontaram se com um série de gente com espaço mediático que fez tudo para o destruir.

Vaidade intelectual. Foi uma frase que ouvi do professor Henrique Calisto para classificar aqueles que ao longo deste mês encheram os telespectadores de teses, ciências, estratégias, blocos baixos , linha juntas e afins "malhando" sem cessar num grupo de trabalho que fez tudo bem neste europeu.

Pela primeira vez tivemos uma seleção sem problemas internos, sem empresários a volta, sem contratações a meio do campeonato, sem amiguinhos na Comunicação Social, sem jogadores proscritos, mas antes focados, e conscientes de que o sucesso se alcança à custa de um esforço coletivo. Aquilo que, de resto , sempre apreciamos nos outros. Ganha quem coletivamente é mais forte.

Chegaram mesmo ao insulto de tão baixo foram alguns comentários perante uma selecionador que é dos homens mais decentes que estão no nosso futebol.

Escrevo esta crónica antes do jogo da final, porque desde o primeiro jogo senti que o caminho era este. Nunca vacilei nas minhas crônicas , mesmo depois de passarmos em terceiro lugar a fase de grupos.

Porque acreditei sempre no selecionador, o primeiro que me lembre, que resolveu dizer que estávamos neste Europeu para ganhar e não para ir jogo a jogo, deixando de lado os milagres e a ajuda de santas e videntes.

Pela primeira vez um selecionador teve a ousadia de dizer que só regressava dia 11 a Portugal, no fim do campeonato. Muitos logo se apressaram em qualificar esta ambição como uma expetativa demasiado alta, risco irresponsável, alguns deles até treinadores..

Foi triste e lámentavel , como é triste e lamentável vê los agora, muitos deles, em Paris, em direto nas televisões e prontos para verem ao vivo o jogo a dizerem que afinal é possível, a puxar pela nação quando na verdade deviam estar corados de vergonha,.

Mas o que aí vem é previsível:

Se ganharmos vão dizer que as críticas deles ajudaram a seleção. E não deixarão de se colar ao sucesso.

Se perdermos por um resultado normal irao dizer que foi o previsível porque uma equipa que jogou assim, dificilmente ganharia este campeonato.

Se o resultado for robusto para a França voltarão à carga e virão dizer que foi a penalização do não futebol como eles tanto avisaram.

São estes que andam o ano todo a dizer que o nosso campeonato é pobre, que enchem de elogios os campeonatos inglês, espanhol, alemão ou italiano que agora acham que temos os melhores jogadores do mundo e não jogamos um futebol condizente com a nossa qualidade e grandeza.

São estes que agora estão muito indignados com as críticas que a imprensa francesa fez a nossa seleção.

A grande maioria não foi capaz de dizer que não houve um único jogo deste Europeu que Portugal merecesse perder. Que em 90 por cento dos jogos Portugal teve sempre mais posse de bola que o adversário. Que na primeira fase foi a equipa com mais remates fez à baliza. Que em três jogos três grandes penalidades ficaram por assinalar, que com a Hungria recuperamos três vezes do resultado. Que jogamos como uma verdadeira equipa. Que pela primeira vez um selecionador conseguiu que todas as estrelas, com Cristiano Ronaldo à cabeça se envolvessem no comportamento colectivo e não apenas no seu sucesso pessoal.

Nunca valorizaram o facto de Fernando Santos em todas as conferências ter falado de futebol, explicado as contingências do jogo, as opções, e a forma como quis organizar a equipa em função de casa adversário, algumas conferências foram mesmo casos de estudo e exemplos do que devem ser respostas a questões jornalísticas.

Toldados pela clubite muitos deles andaram preocupados em que o selecionador colocasse em campo os jogadores do seu agrado.

Uma ideia, um estilo, uma ambição, um objectivo. Tudo conseguido.

Fernando Santos é a grande figura deste campeonato. Digam o que disserem. Na nossa seleção apenas Pepe e Cristiano Ronaldo jogam ao mais alto nível. Os restantes ou são jovens ou já estão em campeonatos que não são os mais importantes da Europa.

Ainda assim o selecionador entendeu que o grupo era capaz de ser forte coletivamente. E por isso acreditou e prometeu. Prometeu e cumpriu. Quantas vezes isto nos aconteceu?

Quantas vezes vimos uma seleção em todos os jogos nunca vacilar coletivamente? Quantas vezes vimos um treinador português conduzir uma seleção nacional a uma final?

É para os portugueses cá e lá fora que está seleção já merece ficar na história. E podem e devem homenagear uma equipa técnica liderada por Fernando Santos porque desta vez chegamos a final e não saímos envergonhados com comportamentos que infelizmente deixavam muita roupa suja para lavar logo a seguir as competições.

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