Domingo, o dia do futebol por excelência
Rui Miguel Tovar
O convite do Porto Canal chega-me pelo ar, como uma bola lançada desde o meio-campo contrário. Recebo-a no peito, colo-a na relva e avanço por ali fora como se fosse um extremo. Quando me confirmam o domingo como dia da crónica, atiro à baliza. Enquanto ninguém grita, para o bem ou para o mal (a direcção do remate é sempre uma incógnita), faço um apanhado dos jogos da selecção no Europeu a um domingo, o dia do futebol por excelência.
Comecemos pelo início, como soi dizer-se. E o início é meeeesmo o início. Na primeira participação, em 1984, também em França, como agora, a selecção esbarra na campeã europeia RFA a uma 5ª feira (0-0) e só marca o primeiro golo ao domingo, vs Espanha. É uma bela combinação ao contrário: Chalana, solto no meio-campo, abre para Álvaro, este ganha uns metros a Maceda e atrasa para Sousa. O portista faz como se estivesse numa passagem de nível sem guarda: pára, olha, escuta e remata. O pontapé sai-lhe na justa medida. A bola sobrevoa o lendário Arconada e é golo. Na RTP, ouve-se o desabafo comentador: “Quem chuta assim não é gago.” Sousa não o é. Nené também não, daí que se sele o apuramento para as meias-finais no jogo seguinte, com o 1-0 à Roménia. Calma, aqui já é a uma quarta-feira. Nada a ver com o domingo, o dia do futebol por excelência. Já o havíamos dito?
Poissss. O domingo seguinte é aquele do beijo à bandeira de Sá Pinto. O cruzamento de Folha desde a esquerda apanha a defesa da Dinamarca, campeão europeia em título, em contrapé e o cabeceamento do sportinguista é primoroso, sem dar qualquer hipótese a Schmeichel. O pobre guarda-redes haveria de levar com este golo numa base diária durante os treinos do Sporting. “Entre 1999 e 2001, o Sá Pinto azucrinava-me o juízo sempre que me via. Éramos companheiros de equipa, podem imaginar a maçada.” Nesse mesmo Europeu, o de Inglaterra em 1996, a equipa de Oliveira voltaria a jogar ao domingo. O sol de Birmingham até nem incomoda por aí além e então? Poborsky não quer saber disso e faz um chapéu do arco da velha sobre Baía. Um-zero para os uns checos (com cobertura).
Domingo, domingo. Ora bem, temos o Euro-2004. É o tudo ou nada em Alvalade, com a Espanha, de novo. Scolari faz entrar Nuno Gomes e o 21 atira de fora da área para derrubar Casillas e companhia. A euforia dura duas semanas. No domingo, 4 de Julho, Charisteas acerta aquele cabeceamento e Portugal é o primeiro (e único) anfitrião a perder a final em casa. Tsss tsss.
No Euro seguinte, em 2008, o domingo volta a ser aziago para as nossas cores. Desta vez, sem uma carga dramática por aí além. A Suíça ganha 2-0 a um Portugal de segunda linha e já apurado para os quartos-de-final. O sorriso domingueiro voltaria aos nossos rostos em 2012. É preciso ganhar para chegar aos quartos e entramos a perder na heremética Kharkiv. Ora se o capitão da Holanda marca uma vez, o nosso reage com galhardia e toma lá duas batatas: Ronaldo 2 Van der Vaart 1. Se tudo correr bem, só jogaremos ao domingo em Saint-Denis, na final. Falamos no dia 10, boa?