Já ganhámos!
Jorge Araújo
Perguntará o leitor se estarei na plena posse das minhas faculdades. Não duvidem! No imediato, já ganhámos o futuro.
Quanto ao jogo final com a França ainda estamos a prepará-lo. Mas atenção! Segundo o Fernando Santos, as finais são para se ganhar. E como eu estou de acordo com ele! Chega de meias palavras e de termos medo de arriscar!
Quanto ao (desde já!) termos ganho o futuro, refiro-me a se a próxima geração de jovens futebolistas que vai emergindo na nossa seleção nacional de futebol atingir a mesma maturidade hoje revelada pelo João Mário jogador da seleção nacional (com 21 anos!) na conferência de imprensa habitual.
Absolutamente surpreendente a forma como durante 30 minutos respondeu com toda aquela serenidade e sabedoria (num jovem!) a tudo e a todos! Só possível se treinado, influenciado, “marcado” pelo treinador e naturalmente bem apoiado por todo o “staff” da Federação que rodeia a seleção nacional.
E confirmei de imediato algo que há muito venho defendendo. Existe uma diferença muito grande entre aprender para a vida, ou para o canudo.
No processo de aprendizagem para a vida, constituem suportes decisivos, o treino, que ajuda à melhoria contínua e o aprender com os erros, através de uma constante reflexão potenciada por pais, professores, treinadores, etc.
Na busca exclusiva do canudo, pouco importa o que aprendo ou como aprendo, muito menos me interrogo para que irá servir aquilo que aprendi. Limito-me a ir em busca da licenciatura, de um mero papel onde conste que, com qualidade ou sem ela, sou doutor, engenheiro, no meu caso professor de educação física.
Pois a minha conclusão acerca de toda aquela disponibilidade e capacidade de se expressar em público do João Mário, nem nasceu com ele (há muito que isto está desmistificado!) nem o aprendeu na escola. Ter potencial, revelar talento, não basta. É fundamental muito esforço e paixão por aquilo que se faz!
E é óbvio que o João Mário aprendeu para a vida através da experiência e do treino que lhe tem vindo a ser ministrado enquanto jogador profissional de futebol. Obviamente, também apoiado pelos pais, professores, amigos etc., cujo impacto educacional se apresenta cada vez mais com enorme importância.
Chega da habitual e piedosa preocupação com a melhoria da qualidade da formação e habilitação técnica e comportamental dos nossos jovens e, por favor, abram caminho para um ensino e uma aprendizagem onde a experiência da vida e um fundamental convívio com colegas, professores, treinadores e meios ambientes o mais diversificados possível preparem os nossos jovens para serem capazes de se revelarem ao nível a que se apresentou o João Mário.
Segundo MANFRED SPITZER no seu livro “Aprendizagem, neurociências da vida” “é fundamental aprender a observar e interpretar a realidade que nos rodeia do modo mais sério e honesto possível, mesmo que tal nos custe bastante incomodidade”.
Diz-nos ainda o mesmo autor que “em comparação com a noção de saber fazer (capacidade para aplicar) a noção de saber (conhecimento) é bem mais modesta (não basta saber é preciso saber fazer, aplicar o que se sabe).” “Não aprendemos para a escola, mas para a vida.” “A aprendizagem não diz respeito só ao que aprendemos, mas também onde será feita e aplicada essa aprendizagem: na vida e durante a vida.” “A aprendizagem é influenciada em grande parte pelo mundo no qual se aprende.” “Quanto mais atractivos, lúdicos e divertidos forem os conteúdos, mais fácil será a sua interiorização e, naturalmente, a sua aprendizagem.” “Por exemplo a informação massiva presente na Internet, está para a aprendizagem, como um supermercado para uma boa refeição que requer muito mais que os seus ingredientes. Pede combinação e preparação.” “Uma boa refeição é mais do que os seus ingredientes e o mesmo acontece com a alimentação intelectual à nossa disposição na Internet.” “Quantas vezes revistas e vídeos são frequentemente consumidos da mesma forma que bolachas, batatas fritas, chocolates, etc?” “Uma boa refeição orienta-se segundo as preferências, tendências e experiências prévias e também a alimentação intelectual requer esse equilíbrio.”
E, claro, a possibilidade de aprender não é de forma alguma apenas um problema da Escola, mas muito mais um problema da sociedade e da sua respectiva cultura.
Sem haver orientação da atenção para os estímulos a aprender, nada acontece! Aprender, tem como questão central quem ensina, como o faz e principalmente onde o faz! E ensinar arrasta a necessidade de activar a atenção para o que deve ser aprendido.
Como nos diz ainda Manfred Spizer, “formar, ensinar, treinar, etc., subentende a necessidade de actividades de grupo (relação inter pessoal, trabalho em equipa) e também um desenvolvimento de competências conformes com as necessidades contidas na realidade.”
Obrigado João Mário!