O resultadismo no Euro!
Jorge Simão
Nunca entendi competições curtas, como um Campeonato da Europa, como uma oportunidade para criar algo verdadeiramente novo ou impactante no futebol. Uma competição como o Euro é para se estar o melhor possível, dentro das limitações físicas impostas por uma época desgastante e obter os resultados que contam.
O resultado é que determina o sucesso, mais do que as exibições, numa competição curta. E jogar para o resultado não é uma limitação, é uma força que todos procuram colocar ao serviço das suas equipas. Em Portugal há um equívoco em relação ao que é jogar para o resultado. Chamam-lhe resultadismo, como se isso fosse uma doença infecto-contagiosa de que nos devessemos afastar. Errado. Todos os treinadores e todas as equipas jogam para o resultado, sobretudo numa competição tão magna como a fase final de um Campeonato da Europa.
O que se torna evidente é que existem várias formas diferentes de jogar para o resultado. Há o jogo directo, o jogo elaborado, o jogo curto, o jogo longo, enfim, uma variedade incrível de soluções e alternativas. O que este Europeu tem provado é que é um erro limitar a procura do resultado apenas a uma ou duas formas de jogar. O jogo é tão variado, tão imprevisível, tão incontrolável que tentar impor sobre as outras uma forma de jogar é apenas reflexo de uma ideia totalitária que contraria a própria natureza do futebol.
Tenho apreciado o Europeu exactamente por isso. Todas as selecções procuram o resultado. Sem excepções. Das mais varias maneiras. O País de Gales deu uma lição de contra-ataque frente à Rússia, a Croácia deu uma lição de talento frente à Espanha, a Irlanda do Norte deu uma lição de coragem frente à Ucrânia. Todas estas selecções ganharam de forma diferente e de forma igualmente merecedora. O futebol é isto. O futebol é diversidade e apenas por isso considero que o Euro 2016 já é um sucesso.
Não basta aos críticos e aos comentadores tentar impor uma ideia pré-determinada de jogo ou de sucesso para que as pessoas corram todas atrás da mesma corrente. Eu acredito que o imenso povo do futebol se tem divertido com a competição, com a incerteza, com o equilíbrio e com a relação de forças menos desigual do que nos anunciavam as previsões. No fim, provavelmente, voltará a ganhar a melhor selecção ou, pelo menos, uma das melhores. Porque, apesar da sua diversidade, o futebol raramente permite que os melhores não ganhem. Mas a grande vitória deste Euro 2016 já está conquistada. O resultado importa e importa para toda a gente. Nenhuma equipa abdicou de lutar por ele e se há algo de encorajador para o futuro é essa procura do resultado. Sempre de formas diferentes mas de um modo que protege o futebol e a sua evolução. Se dizem que o futebol é uma religião, convém que não seja monoteísta. Convém que se abra a várias correntes, a várias influèncias e, no limite, a vários procedimentos tácticos. O resultadismo não encurrala o futebol, pelo contrário, liberta-o, se se permitir a tolerância tática e o respeito pela forma como se tenta chegar ao resultado.