Minutos finais
Pedro Arroja
A Hungria, já qualificada, não tinha nada a perder e arriscou. Arriscou e marcou cedo. E viria a desencadear aquele que foi provavelmente o jogo mais competitivo da fase de grupos do Euro e também aquele em que se marcaram mais golos - seis. Foi um jogo verdadeiramente excepcional.
Portugal, que até ao jogo com a Hungria, só tinha marcado um golo, mostrou que, quando pressionado, era capaz de marcar - e marcar rapidamente. Demorou vinte minutos a anular a desvantagem de 1-0, mas foi muito mais rápido e anular a desvantagem de 2-1 e, depois, de 3-2. Ficou a sensação, após o golo do empate a 3-3 que, a continuar naquele ritmo, Portugal iria facilmente ganhar o jogo.
Porém, nessa altura, Portugal deixou de jogar - estava qualificado. E a Hungria ainda mais. Voltou-se à rotina que largamente marcou esta fase de grupos do Euro 2016. Ninguém estava interessado em esforçar-se para além do estritamente necessário para ganhar a qualificação. Jogos sem interesse na maior parte do tempo, golos marcados nos últimos minutos do jogo, e resultados que acabaram maioritariamente em vitórias tangenciais ou empates.
Será também assim a fase de eliminatórias que agora se inicia - ainda mais vincadamente. Se os jogos que estão pela frente tivessem a duração de vinte minutos, e não a duração regulamentar de noventa, não se perderia grande coisa em termos de espectáculo.
Na fase de grupos, especialmente nos primeiros jogos, ainda se poderia arriscar - embora raras equipas o tenham feito - porque, em caso de as coisas correrem mal, ainda existiam jogos pela frente para recuperar. Não é esse o caso a partir de agora. Quem perder, sai. Quem sofrer um golo corre o risco de ser eliminado.
Não faz sentido marcar muito cedo. A equipa que o fizer, vai depois ter de aguentar durante muito tempo a reacção do adversário na tentativa de igualar, e isso obriga a um grande dispêndio de energia. Aquilo que é racional fazer é marcar nos últimos minutos, e depois ir para o balneário.
Nesta fase de eliminatórios, ainda mais do que na fase de grupos, os jogos serão arrastados até aos últimos minutos e, em muitos casos, serão mesmo arrastados para o prolongamento. O primeiros setenta a setenta e cinco minutos de jogo vão ser para queimar tempo.
Vários jogos serão levados ao limite e decididos pelos pontapés da marca de grande penalidade. É a forma mais racional de perder. Para quem perde - e haverá sempre uma equipa a perder - a melhor forma de o fazer é nos penalties. "Foi azar", será a explicação dada por treinador e jogadores - e os adeptos aceitam a explicação.
Quanto a Portugal, já fez a sua obrigação - passar a fase de grupos -, embora o tenha feito sem brilhantismo e no "fio da navalha". A minha previsão é a de que se fica pelos oitavos-de-final ou pelos quartos-de-final. Não tem equipa para chegar mais longe. Depende do Ronaldo. Ora, o Ronaldo já salvou uma situação aflitiva contra a Hungria, e em duas ocasiões. Isto acontece uma vez num Campeonato da Europa, mas não acontece duas ou três.