O valor da eficácia
Jorge Simão
A eficácia nunca pode ser subestimada no futebol. Há poucas coisas tão fundamentais como a eficácia. A defender e a atacar. Muitas vezes uma equipa menos apetrechada pode ganhar o jogo se for mais eficaz. Dizem que isto é a beleza do futebol porque lhe associam uma imprevisibilidade que nos desconcerta. A carreira de Portugal neste Europeu está muito ligada à eficácia dos nossos jogadores. Atacam mais, rematam mais, mas ainda não conseguiram marcar mais vezes que os adversários. E não é difícil reconhecer que as duas selecções contra as quais jogámos não são equipas de top e, portanto, eram e continuam a ser acessíveis à nossa selecção.
Mas, por duas vezes, Portugal deixou escapar a vitória de uma forma frustrante porque fez, em ambos os jogos, o suficiente para ganhar. E isso para mim, como treinador, conta mais do que qualquer outra coisa. A nossa selecção é uma das equipas que mais remata na competição, é uma das equipas que mais posse de bola acumula e ainda é uma das equipas com maior percentagem de sucesso no passe. Isto não é apenas estatística. Para chegar a estes números, que são em alguns casos impressionantes, é preciso que os jogadores tenham qualidade individual e que a equipa esteja num nível satisfatório de afinação colectiva.
Por isso é que confio que Portugal vença o próximo jogo e, sobretudo, vença o grupo e se apure para os oitavos de final do Euro 2016. Não pode ser de outra maneira, tão grande tem sido o domínio da nossa selecção nos jogos disputados e tão convicta se tem demonstrado a colocar em campo a qualidade que lhe reconhecemos. Mas tem de melhorar a eficácia, porque é isso que tem separado Portugal dos melhores resultados. Frente à Islândia, primeiro, e agora diante da Áustria, a nossa selecção devia ter vencido os dois jogos e é desolador que não o tivesse conseguido, após tantas oportunidades que não conseguiu converter em golos. E isso teria bastado para que a discussão em torno de Portugal, actualmente, se fizesse em bases diferentes, reconhecendo a qualidade da equipa e dos jogadores e ignorando as questões tácticas que têm sido dissecadas de forma inútil.
Durante pouco mais de uma semana de competição, o que vi foram jogos muito equilibrados, disputados e resolvidos, na sua maior parte, de forma natural e com o talento a ser o elemento diferenciador. E, no caso de Portugal, esse talento existe e até abunda. O que tem saído fora da pauta é a eficácia na finalização. O que teria ajudado a superar os nossos adversários e a confirmar as expectativas iniciais que, mesmo assim, não creio que estejam desactualizadas. Pessoalmente, aposto no apuramento de Portugal para os oitavos de final do Euro 2016 e acredito que a selecção conseguirá os golos que lhe têm faltado. E com isso, a intenção do seleccionador e a qualidade dos jogadores sairão reforçados e mais uma vez se demonstrará como é perigosa a análise do futebol apenas com os óculos do “resultadismo”.