Portugal e a seleção nacional, equipas de todos nós
Jorge Araújo
Que me perdoem os noruegueses! Mas só no recente jogo com a Inglaterra começou finalmente (a sério!) a perseguição à conquista do Europeu.
E, para já, dando algumas indicações preocupantes.
Que, confesso, me dividiram...
Por um lado, dou total apoio ao selecionador Fernando Santos quando apontou como objetivo vencer o Europeu.
Chega da habitual "conversa mole"! Cultivemos a ambição que por vezes nos falta!
Mas, claro, o recente confronto com a Inglaterra deixou-me algo intranquilo.
Diria que inclusive foi uma oportunidade perdida quanto ao ganho da necessária confiança coletiva para o próximo futuro.
E por razões que de novo nos "assaltam"!
Refiro-me a algumas reações emocionalmente negativas e evidentes sinais de continuarmos a carecer, quando ao ataque, dos tais últimos trinta metros do campo de que falava no passado o saudoso Jose Maria Pedroto.
Para já (e sem margem para dúvidas!), um excelente rendimento quando “à defesa”. Ainda que no meio de muita coisa boa feita a defender, aquele golo sofrido... Enfim...
Numa curiosa coincidência entre o atual estado da seleção nacional e o momento que atravessa o nosso país enquanto equipa de todos nós.
País e seleção nacional deveriam ser sistemas abertos onde cada um de nós (líderes incluídos), os objectivos comuns a alcançar (neste caso os grandes desígnios e vitórias nacionais) e o meio ambiente (realidade internacional onde nos inserimos), deveriam potenciar-se mutuamente.
Mas não é ainda isso que acontece.
Os objectivos a alcançar não parecem ser comuns para todos, os desafios e os problemas a vencer tardam a ser assumidos coletivamente e a nossa afirmação a nível internacional, com a excepção de algumas individualidades, raramente está na correspondência do potencial que temos revelado ao longo da nossa história.
Para o conseguirmos, teríamos de revelar inter acções e interdependência quanto baste, para além de possuirmos uma visão clara do que pretendemos alcançar no futuro próximo. Ter uma noção clara dos valores a perseguir, possuir princípios e regras de vida colectiva capazes de nos congregarem e tornarem cada vez mais coesos, sentir que existiam entre todos nós laços profundos de confiança e respeito mútuo.
Mas não é isso que na maioria das vezes acontece. Não revelamos a identidade coletiva que carecemos, muito menos existem sinais claro de processos de grupo positivos (relações sociais e afectivas, também designados como dinâmica da equipa ou clima social da equipa). Pressente-se mesmo um clima e uma cultura organizacional algo carentes da identificação colectiva necessárias. Urge por isso que saibamos inflectir caminho e ser capazes de, como um todo coeso e ambicioso, construirmos colectivamente:
- A Visão (objectivos futuros ambiciosos) para que queremos apontar e a Estratégia (como alcançar os objectivos) que pretendemos vir a cumprir para o conseguir;
- Os Valores (Cultura) com que verdadeiramente nos identificamos;
- A Organização (estrutura e processos) que consideramos dever apresentar;
- O Envolvimento (comunicação e trabalho em equipa) que julgamos necessários para que se verifiquem no nosso país as inter acções e relacionamentos que urge potenciar entre todos nós e quem nos lidera.
- O Empenho (sentido de urgência) com que devemos dedicar-nos no dia a dia às nossas responsabilidades sociais, profissionais e familiares, tendo em vista os objectivos a alcançar.
Afinal, trata-se de sabermos para onde ir e como lá chegar. Tal como de possuir uma cultura própria que enquadre, modele e oriente as atitudes e comportamentos de cada um de nós, interiorizando valores e modos de pensar e intervir que congreguem e tornem o país e a seleção nacional o mais coesas possível.
Criar estruturas e processos mais eficazes e sempre disponíveis para encetar as mudanças necessárias. Sermos complementares e sabermos reconhecer a importância dos contributos de cada um de nós, por mais diferentes que se revelem. Estabelecer relações inter pessoais, comunicação e trabalho em equipa sempre focados no objectivo comum. Revelar no dia a dia honestidade, coerência e preocupação com os outros. Cultivar a competência, a disciplina auto assumida, o rigor.
E, para isso, quem lidera tem de saber ser inspirador e mobilizador da fundamental motivação colectiva colocando-nos em sintonia uns com os outros.
Perante uma realidade internacional complexa, por vezes caótica, necessitamos de líderes capazes de nos levar a reconhecer a respectiva autoridade e competência, conscientes que o efeito de cada uma das suas mais simples acções, repercute na nossa realidade sistémica e interdependente, afectando-nos a todos.
Liderar um país ou uma seleção nacional, solicita um constante assumir de responsabilidades e a demonstração permanente de um empenho e sentido de urgência exemplares e inspiradores de todos nós.
Quando assim não acontece, mal vai o país ou a seleção nacional e, consequentemente, pouco é o respeito que os dirigidos têm por quem os dirige. Pior ainda, Portugal não será uma equipa. E a seleção nacional também não.
De Jorge Araújo
Presidente da Team Work Consultores