Produtores de leite e carne denunciam em manifestação situação "dramática" do setor

| Norte
Porto Canal com Lusa

Porto, 14 mar (Lusa) -- As associações representativas das centenas de agricultores que hoje protestaram, no Porto, naquela que garantem ter sido "a maior manifestação de sempre" do setor na região atribuíram a forte adesão à iniciativa à situação "dramática" vivida pela atividade.

"Há muito tempo que estamos a sofrer em silêncio e tínhamos que gritar que é preciso salvar a agricultura em Portugal", resumiu o presidente da Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) aos microfones do carro de som que encabeçou a manifestação de agricultores e tratores que, após partir de Vila do Conde ao início da manhã, se concentrou frente à Direção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP) do Norte, em Matosinhos, e junto de duas grandes superfícies comerciais da zona.

Segundo Carlos Neves, "os agricultores estão a morrer no campo" e impõem-se "medidas urgentes para salvar o setor", que se diz "esmagado" pelos baixos preços pagos à produção e pelas importações.

Para o dirigente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) João Dinis, a adesão à manifestação "excedeu as expectativas" das associações promotoras, o que "revela que as pessoas estão mesmo desesperadas dada a situação que está a viver o setor leiteiro e da carne, por falta de escoamento e baixos preços à produção em resultado das más políticas europeias e nacionais".

"O Governo tem que lutar em defesa da produção nacional, por exemplo conquistando de novo as quotas leiteiras, que garantiam o direito a produzir ao nosso país", afirmou, recusando "ajudas para reduzir as produções nacionais de leite e de carne suína", porque se os produtores "investiram aquilo que tinham e o que não tinham" foi para "produzir mais e melhor".

Manuel Bouça Nova, que há 32 anos trabalha numa exploração familiar de produção de leite do Norte do país, garante que os preços atualmente praticados à produção não lhe permitem "sobreviver": "Quando tínhamos as quotas era mau, mas provavelmente estávamos melhor do que agora, porque tínhamos um controle. Agora não há controlo do leite que entra e sai e que chega cá a preços muito mais baixos do que os da nossa produção", disse à Lusa ao volante do trator que conduziu desde Vila do Conde até ao Porto.

Já José Ramos, que há 15 anos assumiu a exploração leiteira herdada do pai, assegura que o preço oferecido ao produtor por cada litro de leite é, atualmente, inferior ao custo de produção, e critica que se importem milhões de euros de laticínios "quando há tanta matéria-prima em Portugal".

Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral da Federação Nacional das Cooperativas de Leite e Lacticínios (Fenalac), Fernando Cardoso, fez notar que a manifestação ocorre "num dia simbólico em que há um Conselho de Ministros [da Agricultura] da União Europeia (UE)", de onde esperam que saiam "medidas efetivas de regulação da oferta de leite".

"Eventualmente não serão as quotas, mas terá que haver outros mecanismos para que não haja tanto leite no mercado", afirmou, salientando que, desde o final das quotas leiteiras, em 2015, "os preços caíram a um nível que não é sustentável para a atividade".

Segundo Fernando Cardoso, impõe-se também uma intervenção "ao nível da distribuição, na Europa e particularmente em Portugal, porque é uma vergonha que se continue a importar leite e produtos lácteos (quase 500 milhões de euros no ano passado) quando há uma grande disponibilidade de leite e produtos lácteos portugueses que não é aproveitada".

"A distribuição continua a importar esses produtos apenas para atacar o setor em Portugal. Não é uma questão de preço, porque infelizmente o nosso preço ao produtor está mais baixo do que a média comunitária, estão a importar sobras de leite e produtos lácteos que há na UE apenas para prejudicar o setor nacional", sustenta.

Neste contexto, a Fenalac defende a realização de ações de fiscalização da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) para que se "verifique as condições em que é vendido esse leite", de forma que haja "transparência no setor e se demonstre se aqueles preços são possíveis".

É que, ironiza Fernando Cardoso, "não é com clube de produtores, com piqueniques e com artistas pimba que se defende a produção nacional", mas sim "comprando a um preço justo".

Entretanto, o ministro da Agricultura saudou hoje o acordo, entre os 28 da União Europeia, sobre o princípio da necessidade de reduzir a produção de leite, mas lamentou que a decisão sobre a fonte de financiamento tenha ficado adiada.

Em conferência de imprensa, em Bruxelas, Luís Capoulas Santos referiu que os ministros europeus admitiram a necessidade de reduzir a produção porque o mercado só se reequilibra "se houver uma redução do excesso de oferta enquanto novos mercados não forem abertos, ou enquanto mercados tradicionais, como é o caso do mercado russo não for reaberto".

"Foi dada a possibilidade aos Estrados-membros de poderem adotar medidas nacionais para alcançarem este objetivo", explicou o ministro, acrescentando a possibilidade de apoios poderem ser financiados pelo orçamento comunitário.

Porém, a decisão sobre o financiamento foi "remetida para um momento posterior, uma vez que houve divisão dos Estados-membros sobre qual a fonte de financiamento a recorrer", disse.

PD/ACYS // ATR

Lusa/fim

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