Incêndio em hotel irlandês que ia receber refugiados tratado como criminoso
Porto Canal/Agências
Um incêndio deflagrou no sábado à noite num hotel no condado de Galway, na Irlanda, onde seriam acomodados nos próximos dias cerca de 70 requerentes de asilo, estando a polícia local a investigar o caso.
O fogo começou cerca das 2335 de sábado no Ross Lake House, em Rosscahill, um hotel que está fora de uso há vários anos, após manifestantes que se opunham à sua reabertura terem bloqueado a entrada do edifício.
A polícia irlandesa, que abriu uma investigação, disse tratar-se de um "incidente criminal".
O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, condenou este domingo o incêndio alegadamente criminoso afirmando que "não há justificação para a violência".
"Estou profundamente preocupado [...] com os alegados danos criminais a uma série de propriedades em todo o país destinadas a acomodar pessoas que procuram proteção internacional, incluindo no condado de Galway na noite passada [sábado]", disse Leo Varadkar num comunicado à imprensa divulgado este domingo.
"Nada justifica a violência, o incêndio criminoso ou o vandalismo na nossa república. Nunca", disse.
O ministro da Integração irlandês, Roderic O'Gorman, considerou o incidente "profundamente preocupante".
"Os políticos de todos os lados deveriam condenar este ato vergonhoso e os comentários alarmistas que o motivaram", afirmou.
O dirigente da organização não-governamental Irish Refugee Council, Nick Henderson, apelou a uma "investigação exaustiva", afirmando que existe agora "um padrão recorrente de incêndios criminosos" em locais que acolhem requerentes de asilo e refugiados.
O acolhimento de requerentes de asilo e refugiados tornou-se num assunto particularmente delicado na Irlanda nos últimos meses. O país de cinco milhões de habitantes viu chegar ao seu território 101.200 pessoas vindas da Ucrânia, das quais 74.500 foram acolhidas pelo Estado.
A falta de habitação a preços acessíveis e a crise do custo de vida alimentaram o ressentimento contra os recém-chegados.
No final de novembro, a cidade de Dublin foi abalada por motins sem precedentes, que as autoridades atribuíram a agitadores de extrema-direita, após um ataque com faca que fez quatro feridos, incluindo três crianças.
O Governo irlandês culpou a propagação de rumores nas redes sociais.
A Irlanda, que já tinha manifestado as suas dificuldades em alojar todos os requerentes de asilo durante o inverno, anunciou na terça-feira uma redução do apoio prestado aos ucranianos que fogem da guerra.