"O teto está literalmente a cair". Estudantes da Soares dos Reis revoltam-se contra falta de condições

"O teto está literalmente a cair". Estudantes da Soares dos Reis revoltam-se contra falta de condições
| Porto
Porto Canal / Agências

Várias dezenas de estudantes da escola artística Soares dos Reis, no Porto, manifestaram-se esta terça-feira contra a degradação das condições materiais no estabelecimento de ensino que levam os alunos a passar frio ou apanhar chuva durante as aulas.

"O teto está literalmente a cair. Já no ano passado houve um caso específico em que o teto caiu mesmo em tempo de aulas e podia ter magoado severamente algum aluno ou algum professor", disse aos jornalistas Maria Morte, do 12.º ano, do Movimento Voz aos Estudantes, que protestou esta terça-feira em frente à escola à hora do almoço.

Na manifestação eram visíveis cartazes onde se podiam ler frases como "Mais ajuda na compra de materiais", "Abram a porta", "Obras sim, frio não", "Comer no chão não", "A 'net' onde ´tá?" ou "Farta que chova na minha cabeça".

Nas palavras de ordem entoadas pelos estudantes, ouviam-se mensagens como "Obras sim, exames não", "Mais condições materiais" e "Mais funcionárias, menos carga horária".

Lia Cunha, do mesmo movimento estudantil e também do 12.º ano, partilhou que muitas vezes as casas de banho estão fechadas. "Não só o teto está a cair como está a pingar água, e as torneiras podem também não funcionar", acrescentou.

Maria Morte apontou, porém, que "os meios dos alunos não são suficientes", e que "a maior parte acaba por ter que fazer as suas refeições sentados no chão, se o chão não estiver molhado por causa de falhas no teto e entrada da chuva".

"Passar um dia inteiro na escola a trabalhar para depois ter uma das minhas únicas refeições no chão, porque não há mesas suficientes" foi outra das preocupações partilhadas por Maria Morte.

Quanto aos materiais, por serem alunos de artes, precisam de "materiais um bocadinho mais específicos", e "algumas câmaras que a escola até pode emprestar não estão em boas condições", referiu Lia Cunha.

"Há só uma falta de investimento gigante no ensino em Portugal, e acho que é muito visível nesta escola", disse, considerando que se agrava no caso do ensino artístico, que "devia ter uma rede de escolas muito mais alargada".

Por causa disso, a distância e as longas viagens que muitos estudantes têm de percorrer até chegar ao Porto também impacta na saúde mental, já que "o 'stress' é bastante".

"A carga horária da nossa escola é enorme, o trabalho que nós levamos para casa em cima disso é enorme, e a única coisa que nós temos que fazer é aceitar, simplesmente", lamentou Maria Morte.

Lia Cunha salientou que esse cenário se torna "incomportável", tendo Maria Morte dito que se os alunos pretendem fazer trabalho de qualidade, têm que "levar muito desse trabalho para casa", apesar de haver professores que compreendem as circunstâncias.

"É muito difícil fazer uma manutenção ou de nos organizarmos de modo a ter horas de sono, por exemplo. Isso é uma coisa que eu não tenho", disse Maria Morte.

O Movimento Voz aos Estudantes já se concentrou na segunda-feira em Setúbal e tem mais ações marcadas para o resto da semana, nomeadamente na quarta-feira em Loures (distrito de Lisboa), em Vila Real e em Castelo Branco.

Na sexta-feira, há protestos marcados nas escolas secundárias Fontes Pereira de Melo, no Porto, na Almeida Garrett, em Vila Nova de Gaia (distrito do Porto) e na José Afonso, novamente em Loures.

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