Capela de Catarina de Bragança acolhe celebração da Aliança Luso-Britânica em Londres
Porto Canal/Agências
A Capela da Rainha onde se vai realizar uma cerimónia na quinta-feira, em Londres, para celebrar os 650 anos da Aliança Luso-Britânica, foi usada pela rainha Catarina de Bragança numa época tumultuosa de anticatolicismo.
A Capela da Rainha (Queen’s Chapel) foi desenhada por Inigo Jones e a construção iniciada em 1623 para uso da infanta de Espanha, que ia casar-se com o então príncipe Carlos, futuro Carlos I.
Este casamento não se realizou, mas a capela foi concluída em 1627 a tempo da chegada de Henriqueta Maria, princesa francesa católica com quem Carlos I se casou em um de maio de 1625.
Durante a república de Oliver Cromwell (1649-1658), o edifício foi ocupado pelo exército, tal como o resto do Palácio de St. James.
Após a restauração da monarquia, foi recuperada para Catarina de Bragança, filha do rei português João IV, uma devota católica que se casou com Carlos II em 1662.
O edifício foi importante para Catarina, que tinha tido uma educação religiosa mas não podia praticar em qualquer templo, porque a fé dominante era a Igreja Anglicana e existia na altura uma hostilidade contra católicos.
Um brasão da rainha Catarina, unido ao de Carlos II, em talha ladeado por anjos dourados, ainda permanece de forma destacada por cima do altar e na galeria, sublinhando os laços políticos entre a família real britânica e Portugal.
Segundo o livro "Palácio de St. James: De hospital de leprosos a corte real”, editado por Simon Thurley, a preocupação com o anticatolicismo levou à abertura posterior de uma segunda entrada na capela, mais discreta e privada, através do jardim, a partir de Whitehall, o palácio real da altura.
Além de quatro padres, a rainha portuguesa fez-se acompanhar por um mestre de coro, vários músicos e alguns meninos de coro.
Os sermões eram lidos em português e a música também era de estilo português, a qual mereceu algumas críticas iniciais por ser diferente da inglesa, mas que acabou por conquistar o cronista Samuel Pepys.
A decoração da capela sofreu várias alterações ao longo das décadas em que esteve ao serviço de Catarina de Bragança. Após um incêndio em 1682, a rainha também pagou a reconstrução da capela, que ficou a cargo de Christopher Wren, o arquiteto igualmente responsável pelo projeto definitivo de reedificação da Catedral de São Paulo.
Após a morte do marido, em 1685, Catarina de Bragança permaneceu em Londres, até 1692, quando regressou a Portugal.
A Capela da Rainha foi mais tarde usada pela italiana Maria de Modena, duquesa de York, mulher do futuro rei Jaime II, ambos católicos, até à deposição deste por Guilherme III e Maria II, em 1689.
A capela foi frequentada por protestantes franceses, alemães e dinamarqueses até aos anos 1938, período durante o qual foi removida a decoração católica anterior.
Atualmente é propriedade da família real, mas é pouco usada e o acesso público é limitado, sendo palco de casamentos e serviços fúnebres de membros menores da realeza.
Os caixões da Princesa Margarida e da Rainha-Mãe repousaram brevemente naquele espaço em 2002, antes dos serviços fúnebres.
