Conheça o músico do Minho que vai liderar os clarinetes na Orquestra Sinfónica de Londres

Sofia Bizarro
Sérgio Pires, com 27 anos, é um dos clarinetistas mais promissores e artisticamente ativos da sua geração. Recentemente, foi escolhido entre 90 candidatos para um dos principais postos da formação sinfónica, sendo o atual chefe do naipe de clarinetistas da Orquestra Sinfónica de Londres.
Em conversa com o Porto Canal, o músico de Vieira do Minho disse que decidiu candidatar-se ao concurso para a Orquestra Sinfónica quando estava em Londres a gravar um álbum com o clarinetista Michael Collins. “Se não tivesse sido por causa desse CD eu não teria ido a Londres, porque não teria acreditado que seria possível. Eu confiança tenho, mas talvez não teria sonhado tão alto”, explicou.
“Foram dois dias de provas. Passei do primeiro para o segundo dia e no final do terceiro dia enviaram um e-mail a dizer que fui escolhido com mais oito [concorrentes]. Nestes últimos quatro anos a orquestra esteve sempre a ouvir-nos e agora chegaram à decisão final.”
Sérgio relevou ainda que ainda não teve muito tempo para assimilar a notícia. “Foi uma semana bastante atribulada e com muitas coisas para pensar, mas sempre muito contente e agradecido”. “Eu pensava que eles só iam oferecer o lugar depois do verão. Não estava à espera de receber a notícia agora”, acrescentou.
Apesar de reconhecer o seu talento, o clarinetista confessou tentar “não sonhar muito alto” para se “proteger de desilusões”.
O início de um sonho
Nascido em 1995, Sérgio Pires passou a infância na Suíça onde estudou educação musical na escola primária. Aos oito anos, regressou a Portugal (Gerês), entrando numa escola de música de uma banda da zona a pedido dos pais.
“Eu e a minha irmã não conhecíamos ninguém. Os nossos pais tiveram a ideia para mantermos o contacto com a música e conhecermos crianças da nossa idade. Eu nem queria clarinete, eu queria trompete porque era o único instrumento que conhecia, mas o diretor da escola precisava de clarinetes e eu aceitei. Passado uma semana já amava o instrumento e mesmo em casa estava sempre com ele na mão e a tocar qualquer coisa.”
Foi aos 14 anos que o clarinetista minhoto decidiu seguir a música profissionalmente. “Eu sabia que tinha jeito porque já tinha ganhado o concurso internacional aos 12 anos e já tinha ganhado vários concursos nacionais, mas para seguir tinha de me dedicar mesmo a 100%.”
Atualmente, como clarinetista profissional, Sérgio pratica cerca de duas horas e meia a três horas por dia, não incluindo as horas de ensaio com a orquestra. “Se tenho seis horas de ensaio com a orquestra, depois duas horas de ensaio para mim seria o ideal”, explicou.
Sérgio Pires, com 27 anos, é um dos clarinetistas mais promissores e artisticamente ativos da sua geração. Foto: arquivo pessoal
De Portugal para o mundo
O músico começou a percorrer os palcos internacionais desde muito novo, mas a transição foi "quase que natural”. Com apenas 14 anos, Sérgio saiu de casa para estudar em Guimarães, o que o ajudou a ganhar “uma certa autonomia”. “Eu acho que seria muito diferente hoje se tivesse ficado em casa até aos 22 anos, ou até terminar o curso”, acrescentou.
O clarinetista português já conquistou mais de uma dúzia de prémios, como a distinção máxima, em 2017, no “Gheorghe Dima International Clarinet Competition” e o terceiro prémio, em 2013, no “Czech ClarinetArt”. Participou ainda em vários festivais de música clássica como o “European Music Campus” na Áustria, o “Kultursommer Nordhessen” e o “Schleswig-Holstein Festival” na Alemanha, no BBC Proms em Inglaterra e no “Isang-Yun Festival” na Coreia do Sul.
Apesar de já ter participado em vários concursos, o clarinetista admite sentir “um nervosismo saudável” antes de se apresentar, algo que não acontecia quando era mais novo.
“Eu lembro-me que aos 12 anos nunca me sentia nervoso. Entrava no palco, aquilo era só tocar e já estava. À medida que as expectativas [das pessoas] foram aumentando […], obviamente também tenho mais responsabilidades.”
Foi aos 14 anos que o clarinetista minhoto decidiu seguir a música profissionalmente. Agora, Sérgio Pires vai liderar o naipe de clarinetes da Orquestra Sinfónica de Londres
Aos 27 anos, visitou mais de 50 países diferentes. Já deu aulas em “cidades menos privilegiadas”, e destaca a experiência no Kosovo e no Brasil.
“Marcaram-me de uma maneira diferente do que locais como a Coreia, o Japão e a Califórnia, onde estive no ano passado, […] foi incrível descobrir essa cultura e a comida […] mas Kosovo e o Brasil abriram-me um bocadinho os olhos para outra realidade e agradecer por tudo o que eu tive e por saber que nem toda a gente tem isso”.
Sérgio já gravou cinco CDs e trabalhou com vários artistas de renome como Heinz Holliger, Emmanuel Pahud e Radovan Vlatkovic, referindo Maria João Pires, pianista portuguesa com quem tocou em Granada no ano passado, como uma das artistas que mais o marcou durante o seu percurso profissional. Acrescentou ainda que “aprendeu sempre algo” com todos os artistas com quem trabalhou.
“Sempre tive essa vontade de conhecer alguém de Portugal que é muito conhecido lá fora. A Maria João Pires era alguém de quem via as gravações e pensava que queria tocar como ela”.
“Nunca esperei alcançar o que alcancei. O Sérgio de 12 anos ou de oito anos estava a fazer aquilo só por gosto e gostava de fazer aquilo na banda de Vieira do Minho […] quando ouvia as gravações da Orquestra de Londres parecia uma coisa tão longínqua que era quase impossível sonhar”.
Notícia editada por Francisco Graça