Bairro da Pasteleira é um ‘labirinto’ que potencia tráfico de droga? “É falso e desculpabilizante”
Porto Canal
Bairro em “L”, com zonas de difícil acesso e de pouca visibilidade. É assim que a Polícia de Segurança Pública (PSP) e a própria autarquia descrevem as características urbanísticas do bairro da Pasteleira Nova, conotada como centro nevrálgico do narcotráfico do Porto, e que têm dificultado a ação policial.
Numa carta a que o JN teve acesso, a PSP pede à autarquia alterações no bairro da Pasteleira Nova, que descreve como uma zona fechada, com espaços sem visibilidade, que dificultam a intervenção no combate ao narcotráfico.
Ainda que discorde, em parte, com algumas das afirmações por parte da PSP, Rui Moreira equaciona fechar alguns dos arruamentos que dividem os blocos habitacionais do bairro.
Mas para Alexandre Alves Costa, arquiteto, conotar o bairro como labiríntico “é uma afirmação sem nexo nenhum”.
“Há uma maneira de melhorar os espaços públicos, como o bairro da Pasteleira, com a criação de cafés e equipamentos, que interessassem tanto às pessoas do bairro, como às pessoas de fora e que, por conseguinte, atraiam vida àqueles espaços”, diz o arquiteto, ex-funcionário da Câmara Municipal do Porto que, em declarações ao Porto Canal, ressalva que “o desenho urbano da pasteleira é exatamente igual a todos os bairros económicos, construídos pela Câmara, a partir dos anos 50, com uma zona mais recente que é inclusive mais aberta que o bairro antigo”.
Para o arquiteto, culpar a arquitetura do espaço é “desculpabilizante dos responsáveis por resolver o problema da droga” e afirma que a autarquia se limitou a “construir fogos e não criou nenhum equipamento coletivo. Esse sim, é o caminho certo”.
Tiago Barbosa Ribeiro, vereador socialista na Câmara do Porto, sem pelouro, tem sido uma das vozes ativas na tentativa de mitigação dos efeitos do narcotráfico na cidade.
Em declarações ao Porto Canal, refere que “a intervenção urbanística no bairro da Pasteleira Nova, eliminando os diversos corredores interiores que são capturados pelo narcotráfico, é uma das medidas que identificámos como prioritária para dificultar o tráfico de droga e libertar o espaço público do crime organizado. Esta medida tem de ser acompanhada por outras, naturalmente, em particular de índole social.Trata-se de um problema muito complexo em que nenhuma medida vale isoladamente por si.”
Ainda assim, o presidente da Câmara Municipal do Porto insiste na responsabilização do Estado, no que diz respeito ao alastrar do problema da droga em determinados bairros da cidade.
Exemplo disso são as declarações de Rui Moreira, na manhã desta segunda-feira, assumindo que o Município cumprirá com a sua obrigação, dentro dos limites das suas competências, ressalvando o facto da população estar “assustada, irritada, preocupada e zangada”.