Quem é Rui Santos? Da ‘herança’ do tio às polémicas racistas

Quem é Rui Santos? Da ‘herança’ do tio às polémicas racistas
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No final da conferência de imprensa que antecedeu o jogo entre o FC Porto e o Académico de Viseu para a Taça de Portugal, Sérgio Conceição descreveu como “uma palhaçada” e “programa de autoajuda” o espaço que o jornalista Rui Santos ocupa na CNN Portugal. Em causa estava um momento da edição da véspera de “Rui Santos em Campo” em que o comentador, com o olhar fixo no teleponto, dirigiu ao treinador campeão nacional uma mensagem de censura sobre o comportamento no banco de suplentes.

Desde essa altura, as redes sociais têm sido agitadas por uma discussão em torno de Rui Santos, tendo-se estabelecido uma divisão clara: contas de apoio ao Benfica e ao Sporting consideram que o antigo chefe de redação de A Bola está “de parabéns” , enquanto os adeptos do FC Porto tendem a criticar a parcialidade do lisboeta. Esta sensação dos aficionados azuis e brancos é reforçada pela recordação do momento, no programa da semana anterior, em que o comentador se dirigiu a Rui Costa, presidente do Benfica que ontem foi protagonista de um “apertão” ao árbitro Tiago Martins, como um fator de esperança na regeneração do futebol português. Mas quem é, afinal, Rui Santos?

Um sportinguista com paixão pelo Benfica

Rui Manuel Mota dos Santos nasceu em Lisboa em 1960, filho de um militar, e passou parte da infância em Angola, onde o pai servia na Guerra Colonial. Na capital, estudou no Externato Sá de Miranda, no Colégio Militar e no Liceu Camões, ao mesmo tempo que jogava futebol amador com os colegas. Como a generalidade dos interessados por desporto, foi na primeira fase da vida que desenvolveu uma paixão clubística. Nos últimos anos, tem rejeitado a ideia de que é adepto de qualquer clube – “Não sou de ninguém, tenho horror à posse”, disse ao Sol em 2015 –, mas nem sempre foi assim. Numa entrevista ao Independente, em 1992, foi claro: “Não quero ser nada como os árbitros que são Sporting ou do Porto ou do Benfica e dizem sempre que são do Arrifana. Sou do Sporting”. É um tipo de sportinguista muito particular, uma vez que acrescentou na mesma ocasião: “Gosto muito do Benfica. Não sei se é incompatível, mas é verdade”.

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A carreira promovida pelo tio

O percurso de Rui Santos no jornalismo começou muito cedo, aos 15 anos de idade, e deveu-se à ação de um tio. Vítor Santos, irmão do pai de Rui, foi chefe de redação de A Bola durante 33 anos e deu ao sobrinho, em janeiro de 1976, a oportunidade de publicar os primeiros textos no jornal. Ao longo das décadas seguintes, a carreira de Rui Santos desenvolveu-se no periódico da Travessa da Queimada, e nunca lhe faltaram oportunidades que normalmente estão reservadas para profissionais mais experientes e qualificados: ainda não tinha completado 19 anos de idade quando foi enviado a Madrid para cobrir a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus entre o Nottingham Forrest e o Malmö. Mais tarde, tal como o tio, viria a ser chefe de redação do desportivo lisboeta. E do tio herdou uma participação na propriedade do jornal que viria a vender por um valor avultado no início do novo século.

Os anos da SIC

Depois de deixar A Bola, o trajeto de Rui Santos pela imprensa lisboeta continuou no Correio da Manhã, no Record e na SIC Notícias. O programa Tempo Extra arrancou em outubro de 2004, prolongou-se até 2021 e conferiu-lhe uma notoriedade de que ainda colhe os louros. Além de diversas polémicas, foi nesse espaço que Rui Santos protagonizou iniciativas como a petição “Pela verdade desportiva”, que entregou no Parlamento, em 2010, ao lado de Luís Filipe Vieira, então presidente do Benfica. Dois anos antes, ao deixar as instalações do canal depois de um programa, foi vítima de uma emboscada e agredido por três homens encapuzados. Na altura, o ato foi associado a adeptos do clube da Luz, mas a investigação da polícia não permitiu identificar os autores da armadilha.

O problema do racismo

Um dos aspetos mais criticados nas intervenções públicas de Rui Santos é o caráter racista de muitas das suas afirmações. Em 2019, na sequência da convocatória do jogador Dyego Sousa para a seleção de Portugal, o comentador considerou que era necessário assegurar “cuidados em relação ao jogador português bacteriologicamente puro”. A associação SOS Racismo reagiu com um comunicado duro: “As declarações de Rui Santos revelam um discurso de conteúdo inequivocamente racista e xenófobo”. Menos de um ano depois, quando Moussa Marega foi vítima de um ataque racista em Guimarães que foi noticiado em todo o mundo, Rui Santos foi um dos poucos a desvalorizar publicamente o incidente e a apontar o dedo ao jogador maliano do FC Porto, que seria o provocador da agressão de que foi alvo.

Momentos insólitos

Os últimos anos de Rui Santos na SIC ficaram marcados por episódios caricatos, como aquele em que, perante as imagens da exibição da tampa de uma sanita por adeptos do FC Porto numa bancada do Estádio da Luz, criticou a operação de segurança promovida pelos encarnados, que teriam sido incapazes de travar a entrada daquele objeto no recinto. Quando a moderadora do programa o confrontou com o facto de se tratar de uma tampa com origem nas instalações sanitárias do próprio estádio, reagiu com estupefação. Em 2020, afirmou que o Benfica estava “demasiadamente grande para aquilo que é a dimensão do futebol português.” Poucos dias depois, o clube da Luz entrava num ciclo negativo e desperdiçava a vantagem de sete pontos no campeonato. Em maio, o troféu foi erguido pelo FC Porto. Em 2021, deu nas vistas ao subir ao palco do programa de entretenimento A Máscara, onde cantava e dançava vestido de gelado.

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Em 2021, Rui Santos surpreendeu ao aparecer vestido de gelado no programa "A Máscara", da SIC.

A nova vida na CNN

Depois de 17 anos na SIC, Rui Santos mudou-se para a CNN Portugal em novembro de 2021. Nas redes sociais, a transferência para a delegação de Queluz de Baixo da estação de Atlanta foi saudada por um batalhão de perfis falsos (vulgarmente conhecidos como bots) que também eram utilizados para partilhar conteúdos de propaganda do Chega, o que foi imediatamente associado ao caráter racista atribuído a muitas posições do comentador. Desde então, é protagonista do “Rui Santos em Campo”, espaço de comentário exibido à segunda-feira à noite que se tem destacado pela promoção de chamadas de valor acrescentado – o que também acontecia no Tempo Extra, na SIC Notícias – e pelas fracas audiências: olhando às emissões da atual temporada desportiva, verifica-se que o share médio deste programa é de 1,88%, enquanto a CNN Portugal, nos mesmos dias, alcança em média 3,15%. As mudanças na vida de Rui Santos não aconteceram apenas no plano profissional.

Sportinguista com uma paixão pelo Benfica, jornalista precoce alavancado pelo tio, comentador polémico acusado de racismo, defensor da verdade desportiva ao lado de Luís Filipe Vieira, Rui Santos tem um percurso longo e controverso na comunicação social portuguesa. Os caminhos que trilhou nem sempre foram lineares, mas Lisboa nunca lhe faltou e ele nunca faltou a Lisboa.

Rui Santos não esteve disponível para responder às questões do Porto Canal até à hora de publicação deste perfil.

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