“Quando morrer alguém vêm as ajudas”. Moradores das Fontainhas lamentam falta de apoios um mês depois das cheias

| Porto
Henrique Ferreira (texto) / Pedro Benjamim (imagem)

Um mês depois das fortes inundações que abalaram a cidade do Porto, a população afetada critica a falta de apoios das autoridades e garante que não foi feito o levantamento dos prejuízos. No Bairro dos Moinhos, nas Fontainhas, há quem diga que “só quando morrer alguém é que vêm as ajudas”.

O sol que brilha na escarpa das Fontainhas contrasta com a chuva intensa que caía sobre as pedras há precisamente um mês. A zona foi uma das mais afetadas pelas cheias. À porta das casas estão ainda amontoados os destroços. Mobiliário e eletrodomésticos foram os principais objetos perdidos na intempérie do início do ano.

“Se não tivéssemos o andar de cima tínhamos morrido aqui todos afogados”, começa por relembrar Maria Santos ao Porto Canal. Vive nas Fontainhas há apenas 1 ano. A casa do filho tornou-se o seu refúgio depois de ter sido operada à anca. “Nunca tive tanto medo na minha vida como naquele dia”, afirma de forma emotiva.

Porto Canal

Duas portas mais à frente vivem Vânia Alexandra, Jorge Teixeira e os seus três filhos, que tiveram que sair pela janela de casa para escaparem à força da chuva. O casal critica a falta de apoios das autoridades e garante que foi a ajuda de familiares e amigos que os salvou nos dias seguintes às inundações. “Não chegou nada, ninguém perguntou nada”, lamenta Vânia enquanto mostra os danos causados pelas cheias na sua casa. A esperança é que o sol consiga secar as paredes antes de apodrecerem.

“Já vi aqui muitas enxurradas, mas como esta não”, conta a mãe de Vânia, que também vive no Bairro dos Moinhos. Fernanda Silva explica que num dos dias seguintes às cheias foi feita uma visita ao local e que as autoridades entraram nas casas, mas que até agora não chegou nenhum apoio. Ao Porto Canal, a Câmara do Porto garante o local foi visitado várias vezes por equipas da autarquia para avaliar a situação.

Porto Canal

No Bairro dos Moinhos existem cerca de 25 casas, quase todas do mesmo senhorio. Ao que o Porto Canal apurou apenas uma delas foi evacuada. Por ser a casa mais próxima de um grande buraco provocado pela chuva e com o perigo de aluimento de terras iminentes, a família que vivia no número 16 terá sido realojada noutro local. Os restantes moradores contestam a decisão e dizem não perceber os critérios.

“O que nos foi dito foi que as nossas casas não têm perigo de derrocada e que podem estar habitadas, mas passa aqui o ribeiro por baixo. Como é que aquelas casas estão em perigo de derrocada e as nossas não, é a mesma coisa”, questiona Jorge Teixeira.

Moradores dispostos a sair

Porto Canal

Apesar de inicialmente terem mostrado resistência a uma possível mudança de habitação, os moradores das Fontaínhas garantem agora que, se lhes for dada uma opção viável, estão dispostos a abandonar as suas casas. “A gente não diz que não vai para outra zona, mas depende da zona, porque estamos num sítio onde não há barulho, não há confusões, não nos podem tirar daqui para nos por num bairro problemático”, explica Jorge Teixeira.

Fernanda e o marido são mais dois que garantem que saem se for preciso, “desde que não seja para demasiado longe” por conta dos problemas de saúde que enfrentam. “Se me dessem casa eu ia embora já hoje”, afirma também a sua vizinha Maria Santos que conta que o principal entrave à venda das habitações deverá ser o senhorio que alegadamente não quer avançar com o negócio. Naquela rua as rendas rondam os 170 euros.

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A Câmara do Porto manifestou, logo na semana seguinte às cheias, interesse em adquirir toda a ilha. O objetivo seria demolir algumas casas e reconstruir outras. Contactada pelo Porto Canal, um mês depois, a autarquia garante que as intenções se mantêm e que o processo de negociação com os senhorios está em curso.

Apesar disso, os moradores veem a promessa com desconfiança. Jorge Teixeira acredita que o objetivo da autarquia é transformar o bairro numa zona de Alojamento Local. “O problema é que, mesmo que eles digam que vão fazer obras, se formos embora nunca mais vamos voltar, porque o que o Sr. Rui Moreira quer fazer é tirar daqui as pessoas que estão cá há 20 e 30 anos para transformar isto em turismo”, afirma o morador do Bairro dos Moinhos.

Câmara do Porto ainda não enviou lista dos prejuízos ao Governo

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No centro do Porto o cenário é mais calmo do que nas Fontaínhas e quem passeia pela Rua Mouzinho da Silveira ou pela Rua das Flores nem imagina o que ali se passou há um mês atrás.

Na baixa da cidade a maioria dos prejuízos foi para os comerciantes, uma vez que quase não existem casas ao nível do solo. Ao Porto Canal os responsáveis por alguns cafés e restaurantes explicam que tiveram que comprar esplanadas novas, mas que, felizmente, os seguros cobrem as despesas.

Aliás, é isso que conta também o presidente da Associação de Comerciantes do Porto. “A maior parte dos comerciantes tinha seguros multirriscos, o que facilitou o processo”, afirma Joel Azevedo.

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A Associação explica, no entanto, que existem apoios do Estado disponíveis para compensar os comerciantes e que estes ainda têm esperança de poder recuperar o que perderam no dia 7 de janeiro.

Ao que o Porto Canal apurou a Câmara do Porto deverá entregar à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte um relatório com a listagem dos prejuízos dos comerciantes. A CCDR-N garante que o documento ainda não chegou. A autarquia diz estar a conclui-lo e garante que só não o entregou ainda porque está a aguardar o envio de informação por parte de alguns empresários.

 
 
 
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