Barulho na noite do Porto revolta moradores. “As noites são horríveis, tornou-se quase inabitável”

| Porto
Leonor Hemsworth

Noites mal dormidas, “à base de comprimidos”. É esta a realidade de quem vive no centro do Porto e tem de conviver, há mais de uma década e diariamente, com o barulho da noite no Porto. Bares que “não cumprem os horários” de encerramento, consumo de álcool na via pública, utilização de colunas de música na rua e “venda de droga à porta” das casas. São 2h00 da manhã, e Paula Amorim e a sua mãe de 93 anos ainda estão acordadas. Não conseguem dormir. E, como elas, tantos outros moradores.

É na baixa do Porto que se concentra toda a vida noturna da cidade. Uma zona histórica, cujas habitações se têm tornado, por força do turismo, em alojamento local, o que faz com que restem poucos moradores portuenses por aquelas ruas. “As pessoas que vêm para aqui fazer este barulho não têm noção que há quem viva aqui. Porque senão não punham música, não cantavam nem gritavam. Isto tornou-se quase inabitável. Era um luxo viver no centro da cidade. Nesta altura não é, é muito mau”, desabafou Celeste Pereira.

Porto Canal

E é por isso que, já há mais de 10 anos, alguns moradores marcam presença assídua nas reuniões de Câmara. “Aqui há Porto, mas aqui há moradores”, rematou Paula Amorim, numa referência ao slogan da campanha autárquica de Rui Moreira. “Nós não somos um zero, porque eles, quando é para votos, têm de contar connosco e com as pessoas de 93 anos para votar. Eu só quero o meu sossego dentro de casa, tenho direito a ele. E enquanto não o tiver eu estarei lá, nem que seja à porta da Câmara para dormir”.

O Porto Canal foi, a uma sexta-feira à noite, ouvir os testemunhos de alguns moradores. Entramos nas suas casas em reportagem e, em cada uma delas, tivemos um cheirinho do que é viver no coração da noite no Porto.

Uma das moradoras, Sara Gonçalves, mora na Cordoaria, mesmo em frente ao Coreto. Sente, todas as noites e também “durante o dia”, o pulsar da diversão dos jovens e do consumo de álcool na via pública. Com ela vive a sua mãe, de 91 anos, e o seu filho, que é tetraplégico. “À noite mal dormimos, e o que dormimos é à base de comprimidos. A minha mãe vai acordando, e chama por mim porque não consegue dormir… O meu filho já teve um surto por causa deste barulho”, contou Sara. Para além disso, “à venda de drogas à porta de minha casa todos os dias. Só não vê quem não quer. E relações sexuais também”, contou Sara ao Porto Canal.

Porto Canal

Nos Mártires da Liberdade, o cenário não é melhor. Trata-se de uma rua estreita e pequena, mas que se prolonga pela multidão que a ocupa, o que faz com que percorrê-la demore alguns minutos. Celeste Pereira tem 74 anos e vive com o seu marido. Conta que, principalmente nas noites de maior afluência, como a sexta-feira e o sábado, não consegue dormir no quarto. “As noites são horríveis, é horrível viver aqui. Temos um quarto interior. Vai ele para lá, e eu venho para aqui [para o sofá da sala]. Tenho aqui as minhas cobertas, trago a minha almofada, e durmo aqui, porque é impossível”.

Porto Canal

Paula Amorim vive perto das Galerias de Paris, e a principal queixa que apresenta é o não cumprimento dos horários de encerramento por parte dos estabelecimentos. “Eles é que fazem as regras, porque eles não cumprem com os horários. Eu no sábado chamei a polícia às 04h16 da manhã, e eu não tinha que a estar a chamar a essa hora, porque não tinha de haver música e eles já deviam estar fechados”.

A presença assídua em reuniões de Câmara parece estar a trazer alguns frutos. No passado dia 9 de janeiro, foram aprovadas algumas alterações ao Regulamento da Movida do Porto, que inclui a delimitação de zonas e a restrições de horários de funcionamento.

De acordo com Miguel Camões, Presidente da Associação de Bares e Discotecas da Movida do Porto, “há, da parte da Câmara, um combate ao ‘botellón’ e ao ruído nas ruas, que prejudica muitas vezes o descanso dos moradores e não propriamente o exercício da nossa atividade dentro dos nossos espaços. Na prática, há a proibição da venda de bebidas em lojas de conveniência a partir das 21h. Acho que são medidas para combater o ruído de rua e para ajudar a implementar a ordem pública. Podem não ser suficientes, mas é um primeiro passo”, admite.

Os moradores têm algumas dúvidas relativamente ao Regulamento, reforçando que “já se passaram muitos anos e nada mudou”, mas mantêm a esperança de que “esse regulamento passe das folhas e da teoria para a prática”.

 
 
 
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