Frio em Portugal. Há quem não ligue o aquecimento devido ao preço da eletricidade

| Norte
Ana Mota

O Porto Canal percorreu a região do Vale do Sousa nos dias mais frios do ano. Em Lousada e Paços de Ferreira as temperaturas chegam, durante o dia, aos 4º celsius. Junto das populações menos favorecidas, o frio entra dentro das habitações e continua a ser, apenas, frio. O preço elevado da eletricidade e as faturas difíceis de pagar não permitem que se ligue o aquecedor. O retrato de uma população isolada, de classe média, que não precisa de ser pobre para necessitar de ajuda.

Passa pouco depois das 10 da manhã e o frio gela, cada vez mais, mesmo com o passar do tempo. Estamos no lugar da Aldeia Bela, em Caíde de Rei, Lousada, uma vila portuguesa a 45 quilómetros do Porto. Entre as poucas habitações que compõem a paisagem está a de Aurora Sousa, uma idosa de 80 anos que vive com dois filhos e uma nora. O vento sente-se e ouve-se dentro de casa da Dna. Aurora. O estore bate, as rajadas ouvem-se e o ressoar das janelas dão a entender que está frio. Ao lume está já o almoço, uma sopa quente que vai fazer aquecer o corpo. “Não aqueço a casa, o máximo que faço é ligar o lume. Não se pode ligar aquecedores nem nada,a roupa aquece”, explica. A conta da luz ao final do mês não permite excesso de gastos. No último mês foram quase 200 euros só de luz. “Não dá para ligar nada, até no gás eu poupo. Deixe-me baixar o lume da sopa para não gastar tanto”, remata.

Porto Canal

Os valores no contador assustam muita gente. Mais abaixo, na casa de Hélder Silva também não há margem para mais gastos. De inverno,areja-se menos a casa e o aquecedor, só a gás. “Sou cuidador do meu pai que tem problemas de saúde. Agora com o frio opto por não arejar a casa. Para quê ? Depois não tenho como a aquecer”, diz. A conta da luz da família de Hélder Silva, dois irmãos e o pai, ronda os 60 euros por mês. Antes, eram menos 20, por isso há que poupar. “Só ligo o aquecedor a gás, elétrico nem pensar”.

Governo apoia municípios

No centro de Lousada o problema é o mesmo. Lúcia Sousa vive há sete anos e meio no bairro Doutor Abílio Moreira onde o inverno também se faz rigoroso. “Os invernos são horrorosos, a casa é mesmo muito gelada mas não ligo aquecedores porque a luz fica muito cara. A única coisa que faço é vestir roupa mais quente”, explica.

O bairro Doutor Abílio Moreira há décadas que precisa de obras de melhoramento. Depois de vários anos à espera, a autarquia conseguiu aprovar o financiamento de 2,5 milhões de euros, assegurado pelo Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana, para a requalificação das habitações. “Tivemos uma abertura bastante grande do Governo, do ex-ministro Pedro Nuno Santos e da atual ministra Marina Gonçalves. Sentimos que finalmente está a ser dado o valor necessário à habitação. O que podemos ver junto das pessoas que já tiveram obras nos seus blocos é que as debilidades no que toca ao isolamento já estão a ser ultrapassadas, com a colocação de capoto, de coberturas, caixilharias novas”, explica Nélson Oliveira, Vereador do Urbanismo e da Saúde. A obra vai ser executada em 10 blocos habitacionais, o que terá impacto em cerca de 300 famílias carenciadas.

Aposta na sensibilização

Em Paços de Ferreira o frio é igualmente gélido. A chuva intercala com algumas abertas que não chegam para aquecer. Com os alertas de agravamento do frio e mau tempo, a população mais isolada e envelhecida é apoiada pela autarquia de Paços de Ferreira.

Porto Canal

António e Arminda vivem sozinhos, não têm filhos. Ela, doente psiquiátrica, é dependente do marido que faz o papel de cuidador. Uma vez que estão sinalizados pelos serviços sociais da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, receberam a visita do serviço municipal de proteção civil, numa altura de alerta meteorológico. “Os nossos serviços sociais, com muita regularidade, visitam a população mais idosa, sobretudo aqueles que não têm retaguarda familiar. Decidimos lançar esta campanha no inverno devido à forte descida de temperatura e uma vez que existe um risco sempre muito elevado de incêndio e outros problemas relacionados com o mau uso de aquecimento”, explica Paulo Ferreira, vice-presidente da autarquia que também acompanhou a ação.

Porto Canal

A equipa multidisciplinar da autarquia acompanha, regularmente, cerca de 40 idosos do concelho. “O nosso principal objetivo é passar algumas mensagens, algumas recomendações que nesta altura do ano fazem todo o sentido porque vamos atravessar agora uns dias com frio. A mensagem que trazemos é relacionada com a alimentação, como se devem proteger , como devem utilizar o equipamento de aquecimento para evitar algumas situações que infelizmente vamos vendo por todo o país”, diz Andreia Carvalho, coordenadora do serviço municipal de proteção civil. As recomendações, durante o período de descida de temperatura, são que a população se mantenha agasalhada, protegida e que evite saídas regulares, que não sejam extremamente necessárias.

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