As consequências psicológicas de um atropelamento para um maquinista “são para a vida toda”. Um estudo conduzido pela Universidade do Porto concluiu que 63% dos maquinistas portugueses têm trauma intenso resultante de colhidas na linha. O Observatório para as Condições de Vida e Trabalho confirma: 96% vivem com medo de atropelar alguém.

Desde 2015 até 2019, o número de motoristas com trauma intenso aumentou 46%. Há sete anos havia 17% e em 2019 o número subiu para 63%. O estudo foi realizado pela Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto a 690 maquinistas, a maioria da CP, Medway e Via Porto. Para os investigadores, “o desgaste psicológico aumentou entre 2015 e 2019” devido a fatores como “fontes de desgaste específicas das funções” e “aumento do envolvimento em situações de acidentes”.

Os relatos contados aos investigadores são chocantes. “Segui os últimos segundos de vida daquela jovem sem poder fazer nada”, refere um dos maquinistas. “O pai pegou no filho de seis anos, olhou para mim e saltou no último instante para a linha”, lembra outro. “Senti o corpo debaixo do comboio como se fosse uma trituradora”, lê-se noutro testemunho.

Segundo o inquérito publicado em abril de 2022 pelo Observatório para as Condições de Vida e Trabalho, “o maior medo que os maquinistas revelam durante o exercício da sua profissão está relacionado com as colhidas, ou seja, atropelar” alguém. Da análise de todas as ocorrências entre 2016 e 2021, o Grupo de Trabalho para as Colhidas e Suicídios, criado em 2019, já concluiu que “a grande maioria dos casos ocorreu em pontos da rede em contexto urbanos”.