Engenharia e arqueologia do Metro do Porto desfizeram rocha e "mitos" do subsolo

Engenharia e arqueologia do Metro do Porto desfizeram rocha e "mitos" do subsolo
| Porto
Porto Canal / Agências

As equipas de engenharia e arqueologia da Metro do Porto, que assinala o vigésimo aniversário do serviço comercial na quarta-feira, desfizeram, ao longo dos anos, rochas e mitos por debaixo da cidade do Porto, contaram à Lusa.

"Efetivamente havia, na altura, receio relativamente à nossa cidade, à forma como a maior parte dos edifícios está construída, e havia até uma certa incógnita, e até mito, relativamente ao solo do Porto", disse à Lusa Luís Meireles, diretor de infraestruturas da Metro do Porto.

De acordo com o engenheiro, o solo do Porto "é pouco conhecido" e "mistificado por se pensar que é muito granítico... e é".

"Isso não é contrariado, mas a principal dificuldade do solo do Porto não é o ser muito granítico, é ser muito heterogéneo e haver uma avaliação muito brusca, muitas vezes, do tipo de solo que se está a encontrar", contou.

Para Luís Meireles, na escavação de um túnel, há "secções mistas, onde de um lado é rocha" e na outra metade "um solo e um granito muito alterado, que vulgarmente se chama saibro", "deixa de ter consistência e não se apresenta como um bloco de rocha, mas não é terra".

"É o resultado do granito que se alterou ao longo de milhões de anos e deixou de ter consistência", explicou o engenheiro da Metro do Porto à Lusa.

É também recuando no tempo que se faz o trabalho de arqueologia na empresa, dirigido por Ana Paula Gonçalves, engenheira e diretora de Qualidade, Ambiente e Segurança, e no qual trabalha a arqueóloga Iva Botelho.

Ana Paula Gonçalves reconhece que "surgem algumas surpresas, como é óbvio, no decurso da empreitada", além dos previamente identificados nas Avaliações de Impacto Ambiental (AIA).

Nos atuais trabalhos da Linha Rosa, na Praça da Liberdade, a Metro sabia "que, à partida, e porque o que existe de registos assim o identificava, a Muralha Fernandina, ou aquilo que poderia ser parte da Muralha Fernandina, e a Fonte da Natividade", poderiam lá estar.

A surpresa foi "a extensão do que estava ali da Fonte da Natividade, e a qualidade de algumas das peças".

Iva Botelho explica que "era uma zona rica em água", noção perdida porque "agora é tudo muito construído", recordando que existia no local uma fonte medieval, denominada Fonte da Arca, que pelo século XVII "teve de ser deslocada por causa da ampliação da Igreja dos Congregados".

Acabou por ser projetada uma nova fonte, e o bispo D. Tomás de Almeida desenhou uma praça "à escala da Plaza Mayor de Madrid", que acabou por resultar na Praça da Liberdade, então Praça Nova das Hortas.

A fonte "está mais do que referenciada na bibliografia como sendo extremamente imponente, era uma fonte barroca", sendo a zona "uma espécie de centro comercial" da cidade, com lojas e eventualmente uma capela.

Ana Paula Gonçalves explicou à Lusa que está em estudo, pelo arquiteto Souto Moura, a sua transladação para a Galiza, porque a incorporação na estação Liberdade/São Bento "é impossível, pela dimensão".

"São mitos, histórias, sensibilidades, sentimentos que se transmitiram na cadeia transgeracional aqui da cidade, e que assim se compreendeu, depois, no terreno", resumiu Iva Botelho à Lusa.

O mesmo não aconteceu com o mito do túnel que liga a igreja de Santa Clara à Sé, não confirmado aquando da escavação inicial da Linha Amarela, assegurando a arqueóloga que "ninguém encontrou nenhum túnel" nessa zona, na chamada "trincheira de Vímara Peres", de onde saiu a tuneladora Micas, no âmbito da primeira fase da rede do metro.

Ana Paula Gonçalves assegura que a "necessidade da obra avançar nunca pôs e nunca irá colocar em causa a necessidade destes trabalhos", até por uma questão de imposição legal.

"Há que ter aqui algum jogo de cintura", disse a responsável, quando questionada acerca das pressões relacionadas com os prazos das empreitadas, reconhecendo que a gestão de tudo, "com alguma dificuldade, tem-se conseguido fazer".

Para Iva Botelho, "o bom negócio é aquele que serve equitativamente ambas as partes", recordando o processo em que esteve envolvida há cerca de 20 anos, com os achados arqueológicos no Campo 24 de Agosto, que vieram a ser incluídos na estação desenhada por Eduardo Souto Moura.

Naquele caso, para a arqueóloga, a decisão sobre o desenho da estação, feito propositadamente para albergar os achados da zona da Arca de Água de Mijavelhas e da Ponte das Patas, cujas origens remontam ao século XIV, foi "tomada em contexto de abundância", existindo, à data, "uma grande pressão para se gastar".

"Isso foi fundamental para se poder pensar, também, naquela solução", contou à Lusa.

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