Uma nova esperança para doentes com Alzheimer. Medicamento experimental reduz 27% do declínio cognitivo
Porto Canal
Um medicamento experimental contra a Doença de Alzheimer conseguiu atrasar o declínio cognitivo, de acordo com os resultados de ensaios clínicos. A comunidade médica fala em dia "histórico" e em nova esperança para combater a doença que provoca demência. O Lecanemab, nome do medicamento em causa, reduziu 27% o declínio mental dos doentes tratados com esta droga.
“Finalmente ganhamos alguma força nesta doença terrível.” Rob Howard, professor da University College London, mostra-se entusiasmado com o novo medicamento para a Doença de Alzheimer. “Parece importante e histórico. Isto vai encorajar-nos a sentir um otimismo real de que, um dia, a demência poderá ser derrotada e até curada.”
O Lecanemab foi desenvolvido em conjunto pela Biogen (Estados Unidos) e a Eisai (Japão). O ensaio clínico contou com quase 1.800 doentes e foi realizado ao longo de 18 meses. A conclusão final foi de que, de facto, o medicamento consegue reduzir a velocidade do declínio mental dos doentes com Alzheimer. Esta quebra é de 23% quando comparada com os doentes que receberam o placebo. Apesar de ser uma diminuição considerada “modesta”, não deixa de ser histórica.
Relembrando que, até aos dias de hoje, todos as investigações para curar, retardar ou tratar a Doença de Alzheimer falharam sempre.
Mas como nem tudo são rosas, o Lecanemab foi associado a um edema cerebral que pode ser perigoso em quase 13% dos doentes. Alguns doentes também tiveram hemorragias cerebrais, com cinco deles a sofrer cinco macro-hemorragias e 14% a micro-hemorragias. Este sintoma está associado às mortes das duas pessoas que receberam o medicamento, conforme consta num estudo de seguimento.
“Todos estes medicamentos que se focam na redução de beta-amilóide envolvem um risco aumentado de hemorragia cerebral”, disse Ronald Peterson, da Mayo Clinic em Rochester, Minnesota. “Acho que os principais resultados, os resultados secundários e a redução de beta-amilóide são muito impressionantes.”
A Food and Drug Administration (FDA), o regulador norte-americano de medicamentos, deverá tomar uma decisão sobre este medicamento no início do próximo ano, quando poderá aprovar o medicamento no âmbito de um programa de revisão “acelerada”, que exige a prova de que um fármaco é capaz de ter impacto num biomarcador associado a uma doença, como acontece no caso da redução de beta-amilóide no cérebro.