Linguagem não-binária: “Do ponto de vista linguístico é extremamente difícil, ou até impossível”

Linguagem não-binária: “Do ponto de vista linguístico é extremamente difícil, ou até impossível”
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Porto Canal

Para cada vez mais pessoas, o género está para lá do feminino ou do masculino. Nos EUA, por exemplo, são já mais de 1.2 milhões de pessoas que se identificam com o género não-binário, de acordo com os estudos mais recentes. A par dos números que crescem cada vez mais, também as medidas inclusivas se fazem sentir. Atualmente, há 16 países que já têm passaporte não-binário, por exemplo. No entanto, Portugal não faz parte dessa lista, nem tem dados concretos relativamente ao número de pessoas que não se reveem com nenhum dos géneros, mas o tema começa a ser cada vez mais falado e a levantar outras questões, como a linguagem não-binária.

Sabemos que a língua portuguesa é fortemente marcada pelo género feminino e masculino. “Temos género para tudo o que mexe e para o que não mexe”, explica Rui Santos, coordenador do Centro de Linguística da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

No entanto, para as pessoas não-binárias, o uso extremo e recorrente dos artigos definidos “o” e “a” é um problema, na medida em que estas pessoas não se reveem nem com o género feminino, nem com o género masculino: “Sou uma pessoa não-binária. Não me consigo identificar com nenhum dos géneros”, explicou Nico, de 19 anos, ao Porto Canal, ao mesmo tempo que denunciou um dos grandes constrangimentos que tem de enfrentar no seu dia a dia. “Na língua portuguesa é muito difícil a linguagem neutra. Por isso é que eu uso também os pronomes masculinos.”

Para as pessoas não-binárias, a luta é cada vez mais evidente. Apesar de Nico reconhecer que é difícil, acredita que é possível implementar na sociedade portuguesa a linguagem não-binária, em que os artigos diretamente ligados ao género feminino e masculino desaparecem, deixando-se substituir por pronomes neutros.

O caminho já pareceu mais duro e, com o passar dos anos, a linguagem não-binária vai-se instalando na sociedade. É o caso do Já T’Explico, uma associação de voluntariado que dá explicações a crianças carenciadas. “O nosso âmbito não é estas questões de LGBT e linguagem inclusiva. Mas nós tentamos e esforçamo-nos para utilizar esta linguagem externa e internamente. Já fizemos formações de equipa e quando novos voluntários se juntam a nós, divulgamos um formulário onde até perguntamos quais são os pronomes que as pessoas querem usar.”

Para Nico, esta é uma realidade natural, mas, mais do que isso, necessária. “‘Qual é o teu nome, por que pronome é que queres que te trate?’, é automático. É como perguntar o nome a alguém”.

Apesar de, em várias partes do mundo, o esforço para implementar a linguagem não-binária estar a consolidar-se, nem sempre os resultados são os mais eficazes. “Se olharmos para o exemplo do Brasil, nós vemos que houve muita produção de neopronomes, mas que eles não fixaram. Isto significa que não há uma utilização suficientemente sólida e transversal para que eles sejam realmente integrados e adotados de uma forma natural. Qualquer imposição desta linguagem será, de certa forma, forçada”, defendeu Rui Santos.

Por isso mesmo, o docente da FLUP considera que, embora qualquer pessoa, binária ou não-binária, “tem o direito” de se rever com a sua língua, “do ponto de vista linguístico é extremamente difícil, se não impossível, propor esse tipo de linguagem que seja capaz de corresponder às expectativas de pessoas não-binárias”.

Possível ou não, as sociedades têm caminhado para incluir as pessoas não-binárias. A ideia de que o mundo se divide apenas entre homens e mulheres é questionada por cada vez mais pessoas, em particular as novas gerações, e, nos últimos, anos tem provocado mudanças na lei e em vários campos da sociedade.

Um estudo europeu, “Trans Rights”, que envolveu cinco países (Portugal, França, Reino Unido, Países Baixos e Suécia), concluiu que mais de 40% dos entrevistados definiam o seu género como estando para lá do binário feminino/masculino. Num questionário mais específico da Scottish Alliance, a maioria das 895 pessoas não-binárias inquiridas referiu que optaria, se pudesse, pelo marcador de género indeterminado.

 
 
 
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