Afeganistão: Unidade e segurança são principais desafios da liderança talibã

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Porto Canal / Agências

A unidade e a segurança interna são os principais desafios que os talibãs enfrentam um ano após o seu regresso ao poder no Afeganistão, indicou à Lusa o major-general Carlos Branco, especialista em assuntos internacionais.

"Tem sido um ano de grandes desafios em que os talibãs têm procurado manter a sua unidade interna e a sua segurança interna, desafiada fundamentalmente pelo [grupo 'jidhadista'] Estado Islâmico (EI) e pela Frente de Resistência Nacional do Afeganistão [NRF, também conhecida por Segunda Resistência, formada por membros da Aliança do Norte e outros combatentes anti-talibãs]", referiu em declarações à Lusa o analista, que entre 2008 e 2009 foi porta-voz do comandante da Força Internacional de Apoio à Segurança (ISAF), uma missão liderada pela NATO.

Outro desafio, adiantou, é "o da governança", em que os talibãs "têm enfrentado vários problemas, a começar pela sua impreparação para enfrentar as situações com que se confrontam".

Cabul, capital do Afeganistão, caiu para os talibãs a 15 de agosto de 2021, precipitando a saída das potências ocidentais e a fuga desordenada de milhares de pessoas que durante os últimos 20 anos com elas colaboraram.

Na perspetiva do major-general, a unidade entre os talibãs será a questão crucial e que determinará o futuro próximo do país asiático.

"Os talibãs são um aglomerado de grupos que competem entre si, apesar de terem conseguido manter a sua unidade e evitar a violência. No seu interior há fações mais radicais, parecem ser as que têm prevalecido em relação à questão das mulheres", indicou.

Numa abordagem às questões de natureza mais ideológica, onde se inclui a situação das mulheres, Branco assinala que os progressos têm sido muito pouco significativos.

"Inicialmente havia alguma esperança que os talibãs tomassem uma posição mais flexível, por exemplo em relação à frequência nas escolas por parte das mulheres, e ao trabalho das mulheres, mas isso não se concretizou", referiu.

Os Estados Unidos e os talibãs concluíram em fevereiro de 2000 em Doha um acordo de paz, já no mandato do atual Presidente Joe Biden, mas segundo Carlos Branco os grupos talibãs mais moderados, que "inicialmente tinham mais protagonismo, não prevaleceram internamente".

Para além das divergências internas ou do irredentismo ideológico, o poder talibã também se confronta com outras questões decisivas e que afetam mais de metade dos cerca de 40 milhões de habitantes.

"A falta de recursos financeiros é outro importante problema, sobretudo para resolver o gravíssimo problema humanitário, porque o país permanece sob grande pressão em relação aos produtos alimentares, e a fome está sempre iminente", afirmou Carlos Branco.

Uma situação que não tem merecido uma particular atenção dos principais atores internacionais, muito focalizados na guerra da Ucrânia.

"Os fundos que a comunidade internacional deveria disponibilizar não são suficientes, os Estados Unidos continuam a não libertar as reservas afegãs", prosseguiu o autor do livro "Afeganistão - Episódios de Uma Guerra Perdida", que na sequência da sua experiência direta aborda em particular a estratégia da intervenção militar multifacetada dos EUA e da NATO no Afeganistão.

No final de agosto de 2021, após a retirada militar dos Estados Unidos e aliados, a administração norte-americana do Presidente Joe Biden congelou cerca de 9,2 mil milhões de dólares (cerca de 9,3 mil milhões de euros) em reservas dos Banco central afegão e mantém essa medida, num aparente retaliação à evolução da situação interna.

Numa referência a Ayman Al-Zawahiri [considerado o 'número dois' da Al-Qaida morto em Cabul em 31 de julho num ataque de 'drone' norte-americano], o analista sublinhou a necessidade em debater um problema que considera particularmente importante.

"Os Estados Unidos aproveitaram de imediato a situação para referir que os talibãs tinham faltado à palavra, não tinham honrado o acordo de Doha [assinado em fevereiro de 2020 na capital do Qatar] e que estavam a albergar grupos terroristas, designadamente a Al-Qaida", assinalou o investigador.

Uma alegação que, na sua perspetiva, não está totalmente comprovada.

"Estavam a fornecer residência a Al-Zawahiri, talvez apenas a acolhê-lo, e sem existirem evidências de que existam campos de treino e toda uma infraestrutura de reconstituição de uma organização terrorista como existia anteriormente no tempo da Al-Qaida (...), sem existirem evidências de que a Al-Qaida possui atualmente campos de treino no Afeganistão. Se isso existisse, decerto que os norte-americanos já saberiam", disse à Lusa.

No entanto, persistem muitas interrogações sobre a forma como terá sido detetado, e depois abatido, o antigo médico egípcio e considerado o "braço direito" de Osama bin Laden, também morto durante uma polémica operação militar norte-americana no Paquistão em maio de 2011.

"Mantém-se uma forte interrogação sobre quem terá delatado e fornecido a informação aos norte-americanos, (...) houve uma delação", sugeriu, admitindo que talvez nunca seja possível identificar o potencial delator.

"É provavelmente algo que nunca se virá a saber, mas existem sugestões de que poderia ter sido feita por alguns dos elementos dos grupos talibãs mais moderados, que não se sentiam confortáveis com a presença de Al-Zawahiri. Mas (...) prová-lo vai ser muito difícil", adiantou.

Como será difícil, também frisou, comprovar a participação de serviços de segurança de outros países nessa operação, apesar das sugestões já divulgadas sobre um alegado envolvimento dos serviços secretos paquistaneses (ISI), ou uma colaboração dos Emirados Árabes Unidos.

"Mas o facto de os talibãs darem acolhimento ao Al-Zawahiri em Cabul revela ingenuidade e infantilidade, porque mais tarde ou mais cedo a sua presença acabaria por ser revelada", concluiu.

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