Chamas já consumiram quase um quinto do Parque Natural da Serra da Estrela

Chamas já consumiram quase um quinto do Parque Natural da Serra da Estrela
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Porto Canal

O incêndio na Serra da Estrela, que deflagrou no concelho da Covilhã e alastrou para Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira, no passado sábado, ativo há sete dias, já consumiu mais de 16 mil hectares, o equivalente a 16 mil campos de futebol. Isto é, já ardeu um quinto do Parque Natural, sendo que 95% da área ardida deste território se encontra precisamente nesta área protegida.

As chamas acabaram por destruir algumas zonas classificadas como património mundial da UNESCO, como o Vale Glaciar, que integra o Geopark. Foram também devastadas áreas de paisagem protegida, bosques de faias e castanheiros centenários, podendo estar em causa a biodiversidade do local, como apontam os especialistas.

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A intensidade das chamas é visível, através de satélite, sendo que o fumo, resultante dos incêndios, se estendeu à região da Galiza.

Incêndio mais devastador do ano

O incêndio da Serra da Estrela está a ser o mais devastador do ano de 2022, como um dos maiores dos últimos quatro anos. Os dados oficiais mostram que os maiores incêndios de 2022 foram:

Serra da Estrela - 16.310 hectares (ainda ativo)
Murça - 7.058 hectares
Pombal, Leiria - 5.126 hectares
Chaves, Vila Real - 3.368 hectares

Os mesmo dados revelam que o incêndio que ainda lavra na Serra da Estrela é um dos maiores dos últimos quatro anos em Portugal:

Monchique (2018) - 26.763 hectares
Proença-a-Nova (2020) - 14.878 hectares
Serra da Estrela (2022) - 9.532 hectares (ainda ativo)
Vila de Rei (2019) - 9.249 hectares
Castro Marim (2021) - 6.629 hectares

Incêndio na serra da estrela já mobilizou 1700 operacionais

O incêndio rural lavra desde sábado e, durante a madrugada desta sexta-feira, exigiu um aumento de operacionais no terreno.
Segundo a informação da página da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, às 11h30, estavam mobilizados 14 meios aéreos, 477 viaturas e 1.607 operacionais, envolvidos no combate às chamas que, durante a madrugada, chegou a mobilizar 1.685 bombeiros e 517 meios terrestres.

Governo quer esperar para estudar mas fala em "prejuízo enorme" a nível ambiental

António Costa, primeiro-ministro, defendeu, esta sexta-feira que, quando o incêndio da Serra da Estrela terminar, deve ser estudado "em pormenor" o que poderia ter sido eventualmente feito para evitar que o fogo ganhasse a escala que acabou por adquirir. Já os autarcas dos concelhos afetados têm criticado, diariamente, a organização dos meios e a forma como o combate ao incêndio da Serra da Estrela está a ser feito. Atiram, inclusive, que deverá ser alvo de uma investigação por parte do Ministério Público.

Por seu lado, o secretário de Estado da Conservação da Natureza e das Florestas, João Paulo Catarino, disse que o incêndio na Serra da Estrela está a provocar um "prejuízo enorme" ambiental, que é preciso "reabilitar rapidamente".

Dificuldades no terreno

Bombeiros e sapadores não têm conseguido controlar os fogos, devido, sobretudo, à orografia do terreno, que dificulta as operações.
O vento é também um dos elementos que levanta maior preocupação, uma vez que não tem dado tréguas e faz com que os fogos alastrem com grande velocidade.
Mas a situação de seca extrema que o país está a atravessar, aliado ao calor e dificuldades de acesso a vales muito encaixados têm sido os piores inimigos no combate às chamas.

Levantamento de prejuízos

Na Covilhã, o plano de emergência foi ratificado esta quinta-feira e já foi desenvolvido um plano para que seja possível inventariar prejuízos, numa área de 3.500 hectares de área ardida no concelho, assim como a criação de um banco alimentar para os animais, venda de madeira ardida e estabilização dos solos.

Esta quinta-feira, o Concelho de Ministros aprovou a aquisição de 81 veículos para combate a incêndios rurais, com recurso a financiamento do PRR.
Ainda assim, não sabe quando estarão operacionais, numa altura em que o governo português não pediu a Bruxelas para que fosse acionado o Mecanismo Europeu de Proteção Civil.

Danos Irreversíveis
As opiniões são unânimes e os especialistas garantem que o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) vai demorar décadas a recompor-se, podendo haver locais do parque irremediavelmente perdidos. "Este é um dano enorme na biodiversidade da Serra da Estrela, porque o incêndio atinge uma área muito vasta e também em diferentes altitudes - há áreas destruídas em zonas situadas a 600 metros até pontos situados nos 1.500 metros. Esta heterogeneidade de espaços afetados resulta numa enorme perda, porque afeta muitos habitats diferentes", referiu à Lusa José Conde, biólogo do Centro Interpretação da Serra da Estrela (CISE), estrutura da Câmara de Seia.

Assim, todos os grupos de fauna e flora terão uma perda verdadeiramente severa, podendo estar em causa o equilíbrio da biodiversidade. Répteis como a víbora cornuda, o sardão, ou espécies de grilos e escaravelhos que apenas existem na Serra da Estrela, assim como pequenos carnívoros como as fuinhas e as ginetas serão algumas das espécies afetadas.

As encostas íngremes do Vale do Zêzere, agora sem árvores, estarão também sujeitas à erosão quando chover, como aliás já aconteceu no passado, com o arrastamento de terra e rochas. Neste sentido, prevê-se um renascer lento e penoso, para uma região que vive o drama dos incêndios ano após ano.

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