Eanes defende papel de Jardim Gonçalves na reforma do sistema bancário pós-25 de Abril
Porto Canal / Agências
Lisboa, 01 jul (Lusa) -- O ex-Presidente da República Ramalho Eanes compareceu hoje em tribunal como testemunha abonatória do ex-presidente do BCP Jardim Gonçalves por considerar que o banqueiro teve um papel importante na reforma do sistema bancário, depois do 25 de Abril.
"Podia fazê-lo por escrito, mas decidi vir pessoalmente porque não esqueço o papel que teve na reforma do sistema bancário e na reforma das práticas bancárias", disse o general Ramalho Eanes, para quem, após o 25 de Abril, Jardim Gonçalves estava entre "o melhor que havia internacionalmente".
Em declarações à Lusa, recordou a visita que efetuou a Espanha em 1977, onde Jardim Gonçalves se encontrava exilado: "Foi um dos homens a quem disse que tinha a obrigação social de regressar ao país para ajudar o seu país."
Jardim Gonçalves aceitou e regressou nesse ano a Portugal para integrar a administração do Banco Português do Atlântico (BPA), cuja presidência viria a assumir em 1979, bem como do Banco Comercial de Macau.
"Não devo nada ao engenheiro Jardim Gonçalves e ele não me deve nada. Estou aqui por responsabilidade social. Um país só se desenvolve quando não esquece os filhos a quem mais deve", acrescentou antes do início da sessão, no Campus da Justiça, em Lisboa.
O Ministério Público acusa dois antigos presidentes do BCP, Jardim Gonçalves e Filipe Pinhal, e dois ex-administradores do banco, Christopher de Beck e António Rodrigues, dos crimes de manipulação de mercado e falsificação de documentos, estando a decorrer o julgamento nas Varas Criminais de Lisboa.
Segundo a acusação, os factos em causa foram praticados no período compreendido entre 1999 e 2007 e dizem respeito à utilização de veículos 'offshore', detidos pelo banco de modo a influenciar os valores de mercado e o 'rating' dos títulos BCP no mercado de valores.
Para o Ministério Público, ficou ainda provado que houve "falsificação da contabilidade do banco, com vista a ocultar as perdas resultantes para o banco, no valor aproximado de 600 milhões de euros" e que os administradores obtiveram "avultados prémios, calculados em função de resultados deliberadamente empolados, com um prejuízo para o banco de cerca de 24 milhões de euros".
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