Oceanos: Olhos dos povos do Pacífico postos num pavilhão que já foi Atlântico

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Porto Canal / Agências

Lisboa, 27 jun 2022 (Lusa) - Um pavilhão que já se chamou Atlântico recebeu hoje em Lisboa milhares de delegados em quem povos a um ou dois oceanos de distância depositam esperanças para salvar os seus modos de vida do impacto das alterações climáticas.

Sem enchentes nem grandes filas, o início da segunda Conferência dos Oceanos das Nações Unidas foi igual a qualquer grande congresso ou reunião: delegados levantam acreditação, passam pelas máquinas de raio x da segurança e procuram lugar para assistir ao plenário.

Dentro da conferência o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, abriu os trabalhos a que milhares de pessoas nos estados insulares do Pacífico prestam especial atenção.

"Esta conferência é notícia de primeira página nos nossos países por causa da importância dos oceanos, não só do ponto de vista das nações mas das comunidades e da sua vida quotidiana", disse à agência Lusa o fijiano Sefanaia Nawadra, diretor da organização intergovernamental Programa Ambiental Regional do Pacífico, baseado em Samoa.

À entrada do pavilhão, afirmou que o melhor resultado da conferência que decorre até sexta-feira seria investimento para ajudar estes países a adaptarem-se aos efeitos das alterações climáticas nos oceanos.

Por serem países cujos territórios são conjuntos de ilhas de baixa altitude, "a subida dos níveis do mar e a acidificação do oceano têm grandes consequências".

"A maior parte das nossas economias depende da pesca do atum e a sua distribuição vai mudar se continuar a acontecer o que se passa com os oceanos. O turismo é também um grande setor da nossa economia que será afetado se não tratarmos dos oceanos e do clima", acrescentou.

"Estamos na linha da frente em termos de impactos, portanto precisamos mesmo de investimento dos nossos parceiros globais, precisamos que cumpram os compromissos que já assumiram", frisou.

O presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, disse à Lusa à entrada para a conferência que como "principal sumidouro de carbono", os oceanos têm que ser preservados de uma "libertação desordenada" daquele gás que seria "de longe o maior potenciador do aquecimento global".

Nuno Lacasta defendeu que é preciso também "evitar a produção de lixo que acaba nos oceanos", como o plástico de uso único, optando por o tratar e reciclar em terra.

Questionado sobre o objetivo de desenvolvimento sustentável dos oceanos que apontava 2020 como meta para ter 10 por cento dos oceanos classificados como áreas protegidas, Nuno Lacasta afirmou que é "inevitável e necessário" que acabe por acontecer.

"Para termos áreas protegidas como deve ser, temos que assegurar que somos capazes de as monitorizar. São muito mais vastas do que as áreas terrestres. Montar os esquemas de acompanhamento demora tempo, é caro mas é muito importante", referiu.

O deputado do Livre, Rui Tavares, disse à Lusa que "nunca é tarde" para agir em prol dos oceanos, que têm que "estar na equação" para combater as alterações climáticas.

Sem isso, não haverá "planeta habitável em condições de ser deixado às gerações futuras para poderem fruir dele como as anteriores fizeram e, de certa forma, estragaram", argumentou.

Em termos políticos, Rui Tavares defendeu que o combate às alterações climáticas é "por um novo modelo de desenvolvimento, que não depende só das escolhas individuais, que são importantes, mas de uma luta sistémica que tem a ver com combater as indústrias dos combustíveis fósseis e o quase monopólio que elas exercem sobre a política, não só de estados autoritários mas mesmo de alguns democráticos, com uma influência indevida sobre os poderes executivos e legislativos".

O investigador canadiano Stephen de Mora, que veio a Lisboa representar o Instituto de Engenharia Marítima, Ciência e Tecnologia, um organismo internacional sediado em Plymouth, no Reino Unido, disse à Lusa que "a proteção do ambiente oceânico já devia ter começado há muito tempo".

Afirmou contar com a atual década, nomeada "dos oceanos" pela ONU, para que se aposte na compreensão dos processos do oceano "cujo conhecimento ainda é muito incompleto" e treinar uma próxima geração de cientistas marinhos, a par de conseguir que "os países mais ricos ajudem os mais pobres".

Questionado sobre se alguma descoberta científica seria decisiva para salvar os oceanos da degradação, afirmou: "arranjar uma maneira de conseguir muito dinheiro [para a investigação] daria muito jeito".

Com a bandeira portuguesa hasteada ao lado da das Nações Unidas, a alameda lateral ao pavilhão estava ocupada por várias caravanas com comida para os delegados, sem fundamentalismos: comidas vegan convivem com bifanas, cachorros, churros e farturas.

Em torno da arena, calma total, com presença policial discreta, tirando nas vias de acesso ao Parque das Nações, em que sobretudo ao início da manhã passaram várias caravanas de delegações em ritmo acelerado, com batedores da PSP a abrirem caminho pelo trânsito matinal.

APN // ZO

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