Sever do Vouga fixa jovens à terra com a aposta no mirtilo
Porto Canal / Agências
Sever do Vouga, 29 jun (Lusa) - Sever do Vouga lidera a fileira da produção do mirtilo, um pequeno fruto que atrai cada vez mais jovens licenciados no desemprego e que se estima venha em cinco anos a representar 60 milhões de euros de produção anual.
A vila está em festa com a Feira do Mirtilo, que decorre até dia 30 e desta vez inclui um congresso internacional dedicado àquele fruto, juntando produtores, comercializadores e consumidores.
O mirtilo em Sever do Vouga não é de agora: foi introduzido a título experimental por técnicos holandeses que colaboraram com a Cooperativa Agrícola, em Sanfins, há 20 anos.
O desemprego jovem, a disponibilidade de terrenos incultos e o trabalho de dinamização da cultura feito nos últimos anos pela associação de desenvolvimento local AGIM, levaram à expansão da cultura no concelho.
Manuel Soares, presidente da Câmara, lembra que, quando foi organizada a primeira feira do mirtilo, poucos acreditavam no sucesso.
O objetivo, num concelho rural em que o milho era a principal produção e com uma agricultura de subsistência, era obter culturas mais competitivas.
O fruto deu-se bem e a adesão de jovens, muitos deles licenciados sem colocação nas suas áreas, foi decisiva para passar de uma cultura experimental a generalizada, com forte pendor exportador. Hoje são já 140 os produtores em Sever do Vouga.
Estima-se que a fileira dos pequenos frutos, em cinco anos, possa vir a render 140 milhões de euros, quase metade à conta do mirtilo.
A Câmara, a AGIM e a Fundação Bernardo Barbosa de Quadros lançaram recentemente uma bolsa de terras para jovens agricultores e o sucesso foi uma surpresa para os próprios promotores: "ao fim de três sessões, as parcelas ficaram esgotadas".
Manuel Soares adianta que mais terrenos vão ser disponibilizados, face à procura, mas há também jovens a reconverter os terrenos familiares para a cultura do mirtilo.
É o caso de Sérgio Soares, natural de Couto de Esteves e licenciado em engenharia civil, em 2008 pegou nos terrenos que os pais possuíam e que estavam incultos e plantou mirtilos. Trata dos arbustos com empenho e diz que é uma cultura trabalhosa, mas interessante, com a exportação e as grandes superfícies a absorverem uma boa parte da produção.
Ayrton Cerqueira é outro dos jovens agricultores que marcam presença na Feira do Mirtilo. Veio do Minho, mais propriamente de Vila Verde e já é produtor há cerca de dez anos.
Dá um concelho aos que pensam em se dedicar ao mirtilo: para dar dinheiro, não pode ser uma brincadeira de fim de semana.
No centro da dinamização do mirtilo em Sever do Vouga tem estado a AGIM, associação fundada em 2006, que escolheu o mirtilo como recurso estratégico pelo potencial de diversificação da economia local.
"O crescimento tem sido colossal", adjetiva Sofia Freitas, coordenadora da AGIM, explicando o papel da associação: " temos os nossos técnicos e um campo experimental e ajudamos na melhoria das plantações, na realização de novos investimentos, na realização da Feira do Mirtilo, na ajuda à certificação. Temos vindo a crescer bastante e a intervenção hoje já não está confinada a Sever do Vouga e hoje somos solicitados para o Alentejo, para Trás-os-Montes, um pouco para todo o País".
Para o apoio técnico à promoção da fileira do Mirtilo e à criação da bolsa de terras, a associação fez uma parceria com a empresa "Espaço Visual", que está envolvida também na organização do I Congresso Internacional do Mirtilo.
"Trouxemos especialistas dos EUA, Inglaterra, Holanda, Chile, Itália e de Espanha para explicarem o que fazem de mais atualizado e traçar uma perspetiva de como a fileira pode evoluir, mas também produtores nacionais experientes porque as condições não são as mesmas, para que possam aconselhar os novos produtores", explicou à Lusa José Martino.
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