Centenas de pessoas manifestam-se no Burkina Faso em apoio à junta que tomou o poder

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Porto Canal com Lusa

Ouagadougou, 25 jan 2022 (Lusa) - Centenas de pessoas manifestaram-se hoje nas ruas da capital do Burkina Faso, Ouagadougou, em apoio à nova junta, liderada pelas Forças Armadas, que depôs o Presidente democraticamente eleito, Roch Marc Christian Kaboré, e tomou o controlo do país.

Os dias de tiroteio e incerteza em Ouagadougou terminaram na segunda-feira à noite, quando mais de uma dúzia de militares declararam, através dos meios de comunicação estatais, que o país está agora a ser dirigido por uma nova organização, o Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração.

"Os acontecimentos de hoje marcam uma nova era para o Burkina Faso. São uma oportunidade para todo o povo (...) curar as suas feridas, reconstruir a sua coesão e celebrar o que sempre nos fez ser quem somos: integridade", disse o capitão Sisdore Kaber Ouedraogo.

Hoje, Ouagadougou encheu-se de gente a aplaudir a junta, a cantar e a dançar e há relatos de celebrações em outras partes do país.

O golpe ocorreu após várias manifestações contra o Governo de Kaboré, que foi criticado pela sua resposta ineficaz à violência extremista islâmica.

"Estou feliz por estar aqui esta manhã para apoiar a junta no poder. Desejamos que o terrorismo seja erradicado nos meses ou nos anos vindouros", afirmou Salif Kientga, que estava na manifestação na capital.

Alguns apoiantes acenaram com bandeiras do Mali e do Burkina Faso e traziam na mão fotos do governante da junta do Mali, o coronel Assimi Goita, ao lado do novo líder do Burkina Faso, o tenente-coronel Paul Henri Sandaogo Damiba, dizendo que uma governação militar era a única forma de tirar ambos os países da crise.

Outros cantaram "Abaixo com a CEDEAO", o bloco regional de Estados da África Ocidental que recentemente sancionou o Mali por adiar as eleições e que também condenou a tomada do poder pelos militares no Burkina Faso.

A junta fechou as fronteiras, impôs um recolher obrigatório, suspendeu a Constituição e dissolveu o Governo e o parlamento. Além disso, disse que iria devolver o Burkina Faso à ordem constitucional, mas não especificou quando.

Os militares asseguraram ainda que o Presidente derrubado está a salvo, mas não revelaram onde está detido.

Numa carta de demissão, assinada por Kaboré, que circulou publicamente, o Presidente escreve que desistiu do cargo no melhor interesse do país.

"Uma simples mudança na liderança dificilmente mudará a maré", defende Constantin Gouvy, um investigador do Burkina Faso que trabalha para o Instituto Clingendael, sediado na Holanda.

"Se optarem por redobrar os esforços militares, o líder golpista, Damiba, ganhou experiência numa posição-chave de liderança militar como comandante da 3.ª região militar do país [...] Mas uma mudança na liderança, provavelmente, não é suficiente por si só para inverter a tendência de deterioração que temos vindo a observar. As forças de Burkina Faso estão geralmente mal equipadas para combater esta guerra", considerou.

O novo líder é um escritor com livros publicados, de 40 anos, e foi recentemente promovido por Kabore.

Um militar que fez parte do golpe, mas que insistiu no anonimato por razões de segurança, disse à agência de notícias The Associated Press que os oficiais mais jovens deviam dirigir o país, em vez dos mais velhos.

A junta está agora reunida com os líderes religiosos e comunitários, bem como com o anterior Governo, para discutir um caminho a seguir, disse a mesma fonte.

"Se olharmos para aqueles que tomaram o poder, eles parecem ser mais jovens e esperamos que tragam ideias mais jovens, tragam ideias melhores do que as que vimos até agora", disse Aliou Ouedraogo, um residente de Ouagadougou.

A comunidade internacional condenou a tomada do poder pelos militares. A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) exigiu que os soldados regressassem aos seus quartéis e instou ao diálogo com as autoridades.

A União Africana também já manifestou preocupação relativamente ao golpe de Estado e o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, apelou aos líderes golpistas que depusessem as armas.

Hoje, também o Presidente francês, Emmanuel Macron, disse que apoia a CEDEAO na condenação do golpe e disse que a sua prioridade é ver que Kaboré está a salvo e manter a situação calma.

A Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse que "deplora profundamente" a tomada do poder pelos militares e apelou para que lestes ibertem imediatamente Kaboré e outros altos responsáveis políticos.

ATR (EL) // VM

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