Natalidade em Xinjiang regista maior queda a nível global desde que há registo

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Porto Canal com Lusa

Pequim, 12 mai 2021 (Lusa) - A taxa de natalidade na região de Xinjiang, extremo oeste da China, registou o declínio mais acentuado, entre 2017 e 2019, de qualquer território na história recente, segundo uma unidade de investigação australiana.

O relatório do Australian Strategy Policy Institute apontou para um declínio de 48,74% da natalidade, em média, nas áreas de maior concentração de membros das minorias étnicas chinesas de origem muçulmana uigur e cazaque, com base em estatísticas do Governo chinês ao longo de quase uma década.

A natalidade em vilas com grande concentração de minorias étnicas caiu 43,7%, entre 2017 e 2018, ou seja, menos 160.000 bebés.

O número de nascimentos em vilas habitadas principalmente pelos han, a etnia dominante na China, cresceu ligeiramente.

A queda extrema nas taxas de natalidade não tem precedentes nos 71 anos desde que as Nações Unidas começaram a reunir estatísticas globais de fertilidade, superando até mesmo as quedas durante a guerra civil na Síria e os genocídios no Ruanda e no Camboja, segundo Nathan Ruser, investigador e coautor do relatório.

"Até onde é possível apurar, é de longe a maior queda alguma vez registada", disse Ruser. "Faz perceber a escala das políticas de planeamento familiar, da repressão e do controlo social que as autoridades estão a exercer", apontou.

O relatório corrobora uma reportagem da Associated Press e um relatório do investigador alemão Adrian Zenz, no ano passado, que descobriu que o Governo chinês está sistematicamente a reduzir as taxas de natalidade dos uigures através de esterilizações, abortos e dispositivos intrauterinos, multando e detendo pessoas com três ou mais filhos.

Segundo a Associated Press, muitos dos números no relatório foram baseados em estatísticas oficiais do Governo chinês.

Nos últimos quatro anos, as autoridades chinesas realizaram uma campanha de assimilação forçada visando os uigures.

Organizações não-governamentais estimam que a China mantém detidos cerca de um milhão de membros daquela minoria étnica em campos de doutrinação política, em Xinjiang.

A campanha surgiu após uma série de ataques terroristas com bombas e facas, perpetuados por separatistas uigures.

A repressão desencadeou sanções dos Estados Unidos, Canadá e União Europeia e, na quarta-feira, um grupo de países ocidentais deve realizar um evento da ONU sobre a repressão em Xinjiang.

Eysa Imin, um uigur de Korla, em Xinjiang, revelou à AP que oito pessoas no seu bairro foram detidas por terem muitos filhos.

Quando foi levado para um centro de detenção, em 2017, acabou a dividir cela com um antigo colega de escola, que foi preso, torturado e interrogado por ter quatro filhos.

"Quando o prenderam, disseram que era um sinal de extremismo", disse Imin. "O Governo começou a relacionar o fato de ter muitos filhos ao extremismo islâmico", apontou.

Os especialistas observaram que medidas mais rígidas de controlo da natalidade devem ser entendidas no contexto mais amplo do medo que permeia as minorias em Xinjiang.

Durante décadas, a China teve um dos mais extensos sistemas de tratamento preferencial para minorias étnicas, incluindo quotas de contratação e pontos extras em exames de admissão à faculdade.

O Governo também permitiu às minorias étnicas ter dois ou três filhos, embora tenha restringido a maioria han a apenas um filho.

Estes benefícios foram revertidos após o Presidente chinês, Xi Jinping, o líder mais autoritário da China em décadas, ascender ao poder, em 2013.

Académicos apoiados pelo Estado começaram a pedir ao Governo que reprima as grandes famílias de minorias religiosas, chamando-as de viveiros para o terrorismo e o extremismo.

Em abril de 2017, o mais alto quadro de Xinjiang pediu a "contenção efetiva de nascimentos ilegais", especificamente no sul de Xinjiang, onde vive a maioria dos uigures.

O Governo chinês disse repetidamente que os abortos, esterilizações e inserções de dispositivos intrauterinos em Xinjiang são voluntários.

No entanto, na prática, as minorias parecem ser escolhidas e alvo de medidas especialmente draconianas de controlo da natalidade, disse o relatório.

As taxas de natalidade em vilas de grande concentração de minorias caíram quase dois terços desde que as novas medidas foram implementadas, mostrou a análise, enquanto vilas habitadas sobretudo pelos han registaram quedas muito mais brandas em relação ao resto da China.

O declínio recente nas taxas de natalidade em Xinjiang é muito maior do que em toda a China ao longo dos 36 anos em que vigorou a política de filho único, observou Ruser.

A unidade de investigação australiana também descobriu diretrizes do Governo enviadas aos funcionários em Xinjiang a impor quotas, para reduzir as taxas de natalidade, com punições aplicadas àqueles que não cumprirem as metas de planeamento familiar.

Uma meta estabelecida num condado habitado sobretudo por uigures é menor do que a taxa de natalidade da Coreia do Sul, a mais baixa do mundo.

A repressão ocorre enquanto as autoridades chinesas refletem sobre o levantamento das restrições aos nascimentos em todo o país.

Na terça-feira, as autoridades anunciaram que a população da China quase não cresceu na última década, alimentando o receio de que o país enfrentará uma "bomba-relógio demográfica".

JPI // SB

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