Companhias de teatro do Porto preparam regresso aos palcos entre felicidade e mudança

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Porto Canal com Lusa

Porto, 25 mar 2021 (Lusa) -- As companhias de teatro do Porto ouvidas pela Lusa preparam a reabertura de teatros, prevista para 19 de abril, entre o regozijo e uma reflexão sobre a adaptação e mudança que o último ano trouxe.

As salas de espetáculos deverão poder reabrir a partir de 19 de abril, segundo o 'plano de desconfinamento', sujeito a reavaliações quinzenais, tendo de encerrar às 22:00 durante a semana e às 13:00, aos fins de semana, além de voltar a ser possível realizar eventos no exterior.

"Acaba por ser um motivo de grande alegria, porque estamos em grande constrangimento há muito tempo", diz à Lusa Isabel Barros, diretora do Teatro e do Museu de Marionetas do Porto.

O museu abrirá de 'cara lavada', com exposição renovada e várias atividades, e a companhia segue ativa, a trabalhar para apresentar, no Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), a coprodução com o Teatro do Ferro "Maiakovski -- O Regresso do Futuro".

"Talvez mais do que nunca, é importante este sentido de trabalhar nessa cumplicidade uns com os outros, de unir forças, até de estimular. Não é por acaso", comenta.

O FITEI, de resto, assume um papel de destaque no regresso aos palcos no Porto, e está marcado, depois de não ter decorrido em 2020, para 28 de abril e 16 de maio, com várias companhias da cidade a apresentarem novas criações na programação, que será conhecida em breve.

O diretor, Gonçalo Amorim, explica à Lusa que a programação estará dividida numa "edição mista", com espetáculos nacionais em formato presencial e os internacionais via uma nova plataforma 'online', sem a presença de programadores internacionais na cidade e uma mentalização de que "o FITEI é para acontecer", seja como for.

O Teatro Experimental do Porto (TEP), por seu lado, apresentará no festival "O Dia da Matança na História de Hamlet", de Bernard-Marie Koltès, por via telemática, e tem sido afetado sobretudo na coprodução com a companhia chilena Teatro La Maria.

"Estreito/Estrecho", a partir da viagem de Fernão de Magalhães, é uma peça em coprodução, que já deu origem a um filme, que será exibido no canal 180 a partir de sábado, para assinalar o Dia Mundial do Teatro, e tem estreia marcada para novembro em palco.

"Temos uma residência artística no Chile, financiada, e muito provavelmente teremos de devolver esse dinheiro. Não vejo a possibilidade de nos deslocarmos ao Chile dentro do prazo. Claro que cria ansiedade, e atrapalha a preparação do espetáculo, é um fator de instabilidade e adaptação. Tudo o que temos feito no último ano tem-nos obrigado a pensar rápido, a ser ágeis, não perdendo a esperança e a capacidade de trabalho", resume Gonçalo Amorim.

Carlos Costa, das Visões Úteis, explica à Lusa que, nesta companhia, o importante é "voltar, mas não da mesma maneira, voltar com outro tipo de preocupações".

"Percebemos que não podíamos continuar a acumular estes recursos de produção que temos num contexto de incapacidade de produzir. (...) Temos pessoas ao serviço, veículos, etc.. O que fizemos foi colocar os recursos ao serviço da Junta de Campanhã, e temos distribuído refeições, cabazes alimentares, dado apoio, e queremos manter esse trabalho após 'desconfinarmos'", revela.

Aliado a este esforço de responsabilidade social está a adoção de medidas de transição ambiental, nomeadamente a vontade de ir além da compensação das emissões de carbono, que já faziam, mas mesmo "deixar de produzir".

Além de uma nova criação ainda neste semestre, a companhia vai lançar um livro que reúne duas peças, e estreia em 'streaming', no Dia Mundial do Teatro, o espetáculo "trans/missão", com o regresso às salas em Sever do Vouga, em 14 de maio, com "Little B".

O Teatro do Frio, que também terá uma residência de escrita no FITEI, encara este regresso "com bastante felicidade", diz à Lusa Catarina Lacerda, porque é um regresso ao que encaram como "um bem e um serviço essencial".

"As pessoas estão ávidas de fruir, de imaginário, que lhes proponham imaginários que saiam da rotina que ficou ainda mais encapsulada dentro de uma casa", resume.

Para 2022 estarão dentro de salas de espetáculo mais convencionais, mas antes há trabalhos em espaços expositivos e com o centro educativo do Teatro Nacional São João, uma reabertura que destaca, pela "revitalização" de uma rede "que só é saudável se toda ela pulsar".

Catarina Lacerda lembra ainda as dificuldades de um circuito independente "que está já à partida extremamente limitado", pedindo que seja reconhecida a "especificidade" e fragilidade de pequenos teatros e estruturas, com uma atenção "acompanhada".

"Acima de tudo porque falamos de serviço público. Os apoios são um reforçar do que é um serviço público, reconhecendo isso na ação destes artistas", atira.

Na Palmilha Dentada, o "contacto direto com o público" norteia a confiança em que será possível voltar aos palcos e ao "cara a cara" com espectadores, "sem muito drama" em torno da situação, depois de um tempo em que se mantiveram em funcionamento com espetáculos sem a vertente física, conta à Lusa Ricardo Alves.

Até 04 de abril, têm 'em cena' um espetáculo via Zoom "Bazuca News" e, no futuro, está a estreia de um novo espetáculo, para 06 de julho, para o espaço exterior e com digressão pelo Norte.

Ricardo Alves mantém ainda a esperança no novo estatuto do artista e no aumento dos apoios da Direção-Geral das Artes, bem como apoios a trabalhadores independentes, para apoiar as pequenas companhias que "fazem a base da pirâmide", como a criação de público e digressões por escolas, por exemplo, e que "ficaram piores".

"O problema central é que tudo aquilo que é emergência é o que devia ser normal. Devia haver dinheiro para a cultura acontecer e não ser um constante ato de resistência", remata.

Pedro Jordão, da direção de produção da Mala Voadora, afirma à Lusa que a retoma se fará com "InFausto", também no âmbito do FITEI, seguindo depois para Esch, no Luxemburgo, onde estrearão em 2022 uma coprodução com a Capital Europeia da Cultura, nessa cidade, e outros parceiros.

A maior dificuldade, realça, é com a internacionalização, em que a companhia aposta cada vez mais, tendo várias coproduções e presenças em festivais ou programações na Europa e na China que podem estar em causa.

SIF // MAG

Lusa/fim

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