Colômbia condenada à violência porque "resiste à paz" - Juan Gabriel Vásquez

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Porto Canal com Lusa

Lisboa, 22 fev 2020 (Lusa) -- O escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez encara com pessimismo o futuro da Colômbia, considerando que este país, marcado pela violência resiste à paz, como se preferisse uma guerra conhecida do que uma paz por conhecer.

Em entrevista à Lusa, a propósito do lançamento em Portugal de "Os Informadores", Juan Gabriel Vásquez afirmou que os colombianos da sua geração se têm perguntado sempre por que a violência colombiana "tem este talento para sobreviver e não para se reinventar".

O seu romance passa-se em duas épocas e reflete a violência que marcou esses tempos: a época da Segunda Guerra Mundial e o período dominado pelos cartéis de droga.

O tema serve de ponto de partida para o autor refletir sobre a história do seu país e perspetivar um futuro, em relação ao qual declara não ser "otimista".

"O século XX começou com uma guerra civil, 50 anos depois estávamos na época que conta o romance, época de guerra entre partidos e, logo a seguir, vem o nascimento das guerrilhas, do narcotráfico, do para-militarismo, dos crimes de Estado e, durante os últimos 60 anos, a Colômbia tem vivido numa guerra que se reinventa e nós perguntamo-nos porquê", afirma.

Para o escritor, essa é uma das razões por que a literatura colombiana está "cruzada pela violência" e este livro que escreveu é um exemplo recente, mas em cada década, há romances que tratam de explorar a violência, desde os anos 20.

Como exemplo, refere um romance de 1925, de José Eustasio Rivera, intitulado "A Voragem", que começa com a frase "...joguei o meu coração à sorte, e ganhou-mo a violência".

"Há pouco mais de três anos, nós, colombianos, tivemos um dos grandes êxitos da história recente do país, que foi os acordos de paz entre o Governo colombiano e a guerrilha das FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia]", lembra o escritor.

No entanto, "esses acordos não eram perfeitos e havia toda uma parte da sociedade política a que não interessava a paz, que mentiu, caluniou os acordos, semeou medos na sociedade e os acordos foram rejeitados, a sociedade ficou dividida", conta o escritor, que viveu 16 anos fora do seu país.

E embora agora tenham sido aprovados "de outra maneira", já há novamente "sementes de violência, os problemas com a implementação dos acordos de paz abriram espaço para que uma parte da guerrilha volte às armas, para que criminosos obscuros assassinem líderes locais que tratam de levar a cabo os acordos", lamenta o autor de "A Forma das Ruínas".

A Colômbia "é um país que resiste à paz, é como se preferíssemos uma guerra conhecida a uma paz por conhecer", sintetiza.

O romance "Os Informadores" foi o primeiro do escritor colombiano, publicado em 2004, mas só este mês chegou a Portugal, editado pela Alfaguara, que já anteriormente publicara "O Barulho das Coisas ao Cair", "As Reputações" e "A Forma das Ruínas", este último distinguido em 2018 com o Prémio Casino da Póvoa das Correntes d'Escritas.

Nascido em 1973, em Bogotá, capital da Colômbia, Juan Gabriel Vásquez estudou Direito e, em 1996, mudou-se para Paris onde se formou em literatura, tendo feito, posteriormente, de Barcelona, a sua casa, onde viveu por mais de uma década.

Em 2012 regressou a Bogotá, onde vive atualmente.

AL // MAG

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