Encenador acusa Teatro Municipal do Porto de chantagem, coação e abuso de poder

| Norte
Porto Canal com Lusa

Porto, 04 fev 2020 (Lusa) - O encenador Tiago Correia, criador do espetáculo "Turismo", no Porto, que viu um texto de Regina Guimarães "censurado", desmente o diretor do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes, acusando-o de chantagem emocional, coação, ameaça e abuso de poder.

"Aquilo a que o Tiago Guedes chama 'concordar', eu chamo de censura, chantagem emocional, coação, ameaça e abuso de poder", lê-se numa publicação de Tiago Correia, na rede social Facebook, sobre a não publicação de um texto da dramaturga Regina Guimarães, na folha de sala do espetáculo "Turismo", que esteve em cena no auditório Campo Alegre do Teatro Municipal do Porto (TMPorto).

Numa primeira reação à acusação de censura, o diretor do TMPorto, Tiago Guedes, em declarações à Lusa, garantiu que o texto da dramaturga não tinha sido publicado com a concordância do encenador e que este até lhe tinha pedido desculpa.

Esta tarde, questionado pela Lusa, depois do desmentido publicado por Tiago Correia, o TMPorto reiterou a versão contada pelo seu diretor.

O encenador, que a Lusa tentou ouvir até ao momento, sem sucesso, escreveu no Facebook ter sido apanhado totalmente de surpresa pelas palavras de Tiago Guedes e revela que o diretor do TMPorto, o tentou convencer "a retirar a folha de sala [do espetáculo 'Turismo'] que 'insultava a honra de um morto' [o antigo vereador Paulo Cunha e Silva], alegando que estava a ser instrumentalizado pela Regina Guimarães 'para um ataque político'".

"Isto é absurdo. Eu nunca entendi o texto da Regina desta maneira, texto que muito me honra e ao meu trabalho, tanto que o usei como prefácio do meu livro, na altura já publicado pelas Edições Húmus", escreveu Tiago Correia, explicando que os cinco minutos que pediu a Tiago Guedes, quando contactado por este, não foi para falar com a equipa, mas para tentar falar com a dramaturga, Regina Guimarães, o que não foi possível por ela se encontrar no Conselho Municipal, "em que estavam também presentes pessoas da direção do TMPorto".

"Eles sabiam que ela estava ocupada e fizeram isto [retirar a folha de sala] nas costas dela", escreve Tiago Correia, deixando claro que não concordou nem pediu desculpa a Tiago Guedes, como o mesmo afirmou à Lusa, tendo deixado apenas ao seu critério a publicação ou não da folha de sala.

"Não lhe pedi desculpa, isso é absolutamente uma deturpação de tudo, apenas lhe disse que não fiz nada com o intuito de o ofender ou contra o TMPorto. Mas é claro que o que ele queria era poder usar este argumento em sua defesa, e é por isso que todos os contactos ao longo da semana foram realizados através de chamadas telefónicas, para que não houvesse qualquer registo", escreve o encenador.

Tiago Correia revela ainda que, no mesmo dia do ensaio de imprensa de "Turismo", Tiago Guedes lhe disse que enviaria a sua comitiva para assistir ao ensaio, para verificar o conteúdo do espetáculo, o que aconteceu "criando um ambiente hostil no teatro".

Contudo, diz o encenador, o boicote à comunicação e divulgação do espetáculo não ficou por aqui. Foi ainda dito que notas de imprensa do espetáculo teriam de ser alteradas, retirando o parágrafo que fazia referência a Regina Guimarães e a expressão "despejo criminoso", o que foi rejeitado, conta Tiago Correia.

A peça aborda o fenómeno da gentrificação das cidades e o fenómeno dos despejos, perante a pressão imobiliária, através de diversos prismas.

Também quanto à proibição de venda do livro com o texto do espetáculo, o encenador disse ter-se recusado a cancelar a venda, tendo dito a Tiago Guedes que, se a quisesse proibir, que o assumisse.

"A isto não se chama concordar. Isto é chantagem, ameaça, abuso de poder, boicote e censura. Felizmente, o espetáculo quase esgotou nos dois dias", conclui.

O texto de Regina Guimarães, em causa, escrito para ser integrado na folha de sala - que não chegou a ser distribuida - do espetáculo "Turismo", continha uma nota de rodapé no qual a escritora criticava a noção de 'cidade líquida' de Paulo Cunha e Silva, ex-vereador da Cultura do Porto, que morreu em 2015.

Na referida nota, a escritora, que acusou a direção do TMPorto de censura, afirma que o antigo vereador Paulo Cunha e Silva inundou os portuenses "de discursos delirantes acerca da 'cidade líquida inspirada em Zygmunt Bauman', no intuito de legitimar teoricamente as escolhas políticas na sua área de atuação, positivando, por ignorância ou descarada mentira, uma noção que, para o sociólogo inventor do conceito, consubstancia o horror contemporâneo da perda de laços".

Esta tarde, questionado pela Lusa, perante o desmentido publicado por Tiago Correia, o TMPorto reitera a versão contada pelo seu diretor, afirmando novamente que Tiago Guedes "articulou com o encenador da peça em causa, Tiago Correia, a sua não distribuição, tendo obtido a sua concordância, como o próprio seguramente confirmará".

A Lusa pediu também uma reação à câmara municipal, mas sem sucesso, até ao momento.

"Turismo", pela Companhia A Turma, com texto original e encenação de Tiago Correia, esteve em cena nos dias 31 de janeiro e 01 de fevereiro, no Teatro do Campo Alegre, no Porto.

VSYM // MAG

Lusa/Fim

+ notícias: Norte

“O Chega excede-se em alguns comentários”. O que diz a opinião pública sobre o cancelamento do partido

O Facebook restringiu algumas ações da página do partido Chega para os próximo 10 anos, uma ação que foi motivada pelo desrespeito pelos padrões de comunidade, informação confirmada por um comunicado do partido a qual o Porto Canal teve acesso.

Interrompido terceiro dia de buscas por corpo de rapaz desaparecido em Gaia

As buscas pelo rapaz de 16 anos que desapareceu na tarde de sexta-feira na praia de Salgueiros, em Vila Nova de Gaia, foram interrompidas pelas 20h14, ao pôr-do-sol, revelou à Lusa o comandante da capitania do Douro.

Vai nascer uma “vila dentro da cidade” de Matosinhos

Está em discussão pública um projeto imobiliário da Mota-Engil que contempla a urbanização de 27 hectares entre Perafita e Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos. O projeto de nome “OPO City” está, de acordo com o Jornal de Notícias, em discussão pública até oito de maio e contempla terrenos circunscritos a uma área composta pela Avenida Vasco Graça Moura, a Avenida Arquitecto Fernando Távora, a Rua Tir e a Estrada Nacional n.º 107.