"A sala de aula é o principal espaço de disputa" no Brasil - Bárbara Wagner
Porto Canal com Lusa
Porto, 10 jun 2019 (Lusa) -- A artista brasileira Bárbara Wagner, que representa o Brasil na Bienal de Veneza, disse hoje à Lusa que a sala de aula é "o principal espaço de disputa" na atualidade daquele país.
Bárbara Wagner vai apresentar no Porto, a partir de quinta-feira, o filme "Faz Que Vai", criado em colaboração com o alemão Benjamin de Burca, sobre o frevo de rua, manifestação típica do Recife, numa altura em que a dupla representa o Brasil na Bienal de Veneza de 2019.
À margem desta apresentação, vai decorrer uma aula aberta de Moacir dos Anjos, da Fundação Joaquim Nabuco, e uma oficina de frevo orientada por um dos bailarinos presentes no filme, Edson Vogue.
A dupla vai ainda apresentar "Rise", a curta-metragem filmada em Toronto, com imigrantes na cidade canadiana, no Curtas Vila do Conde, em julho. "Rise" venceu o Urso de Ouro de melhor curta-metragem, no Festival Internacional de Cinema de Berlim, no passado mês de fevereiro.
Em entrevista à Lusa, os artistas consideraram que a presidência de Jair Bolsonaro, no Brasil, afetou o trabalho no campo da investigação e da educação neste país.
"Tenho de imaginar que o Edson [Vogue] estudou num momento muito certo, e essa possibilidade não existe para outros 'Edsons', que estão a chegar hoje a essa fase", apontou o artista alemão, há vários anos a trabalhar no Brasil.
Já Bárbara Wagner destaca que o bailarino é "fruto de um tipo de política que se viu na última década [no Brasil] e que está a desmanchar-se e desmontar-se" desde 2016, com a educação a tornar-se "o principal espaço de disputa" e "o problema mais sério", no país.
"Assistimos ao desmanchar das políticas de incentivo à pesquisa e à educação", diz Bárbara Wagner à Lusa, com Benjamin completando com a ideia de que este efeito torna "o Brasil mais pobre, o que é muito perigoso em vários sentidos".
Edson Vogue "pensou este 'workshop' em torno do frevo e do 'voguing'", depois de um processo em que terminou um estudo sobre as práticas de dança, ao longo da rodagem do filme, resultado apresentado agora no Porto.
Com um trabalho que cruza a música com fenómenos sociais e políticos, mas também antropologia e sociologia, como em "Terremoto Santo", sobre a religião evangélica e a música 'gospel', está sempre presente uma crítica sociopolítica, mesmo que "de forma subtil", considera Wagner à Lusa.
A artista entende ainda a discussão do Brasil com o passado do colonialismo como uma "luta constante", vendo pessoas, com quem trabalha nos vários filmes, a "reverter o jogo de poder colonial todos os dias", sobretudo em questões de raça, mas também de género.
"É muito importante que a discussão esteja em todos os âmbitos, no jornalismo, na academia e nas artes, e há muitas formas de pensarmos sobre isto", acrescenta.
A instalação em torno de "Faz Que Vai" fica patente até 28 de julho no Maus Hábitos.
Os autores de "Swinguerra", filme que exibem no âmbito da Bienal de Veneza, regressam a Portugal em julho, para acompanharem a exibição de "Rise" no Curtas de Vila do Conde, festival onde, no ano passado mostraram a produção documental "Terremoto Santo", sobre a música 'gospel' e a religião evangélica, que gerou reações "bem intensas e diversas".
Em 2017, a Fundação de Serralves mostrou "Esta´s vendo coisas", um filme sobre a música 'brega', na região de Pernambuco.
A escolha de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca para Veneza foi efetuada pela Fundação Bienal de São Paulo, que a anunciou no passado mês de dezembro.
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