Primavera Sound: Kate Tempest critica "dormência" social numa crise que "não é nova"

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Porto Canal com Lusa

Porto, 09 jun 2019 (Lusa) -- A britânica Kate Tempest, que no sábado atuou no Primavera Sound, criticou o estado de "dormência" que o sistema do Ocidente instalou na sociedade atual, ainda que a crise social que atravessa "não seja um momento novo".

A poeta, música, dramaturga e romancista deu uma entrevista à Lusa à margem da atuação no recinto do festival, no Porto, que abriu com a música "Europe Is Lost" ("A Europa Está Perdida", em tradução livre).

Nessa faixa do álbum de 2016 "Let Them Eat Chaos", vê a Europa, a América e Londres como "perdidas", e declara que a sociedade "não aprendeu nada da História", antes de denunciar o efeito das redes sociais numa sociedade cada vez mais individualizada ("Aqui estou eu no palácio do eu", em tradução livre).

Três anos depois desse álbum, Kate Tempest explica à Lusa que o sentimento de um Reino Unido e Europa perdidos continua, mesmo que o momento atual "esteja presente desde a era do Iluminismo e da industrialização", devendo-se "à hiperindividualização capitalista como a conhecemos".

O sistema vigente, afirma, leva à "miséria, [ao] desespero, [à] violência, algo que podemos encontrar em sistemas capitalistas desde há centenas de anos", culminando num momento em que "tudo é insano no Reino Unido, neste momento".

"Mas não me parece um país mais perdido do que estava quando nasci. É o mesmo momento. Há um mito de que o Ocidente se vende a si mesmo sobre o progresso, e acho muito útil lembrar que tudo é construído numa grande mentira", atira, em entrevista à Lusa.

O tom negativo continua ao olhar para um sistema que, embora "explorador, violento e oleado a sangue", possa dar "o privilégio de discutir essas questões", colocando "os dentes em todas as facetas da vida", por todo o mundo.

Na opinião da artista, cujo tom político e crítico da sociedade sempre marcou os primeiros discos, há uma semelhança entre "o que se vê hoje em dia nos países em desenvolvimento" e as "guerras civis, desconforto e violência" na Europa, durante o século XX, em resposta à industrialização.

Ainda assim, o momento pode ser "confortante, porque impede o pânico e questionar as razões de por tudo ser como é", por não ser "um tempo novo", mas antes um regresso à forma em que "se continua a procurar certeza, a liderança de uma voz chauvinista ou um líder masculino carismático".

Para responder a um período que diz marcado pela "dormência na sociedade", considera que o papel dos criadores é o de "inspirar conexão" e poder trazer "positividade" para quem vê concertos ou lê um livro, mesmo que a Europa esteja, "não a encontrar-se de novo, mas no processo oposto".

Aos 33 anos, Tempest, dramartuga, romancista, poeta e 'rapper', teve dois álbuns nomeados para os Prémios Mercury, "Everybody Down", em 2014, e "Let Them Eat Chaos", em 2017, recebeu um Prémio Ted Hughes pela performance de 'spoken word' Brand New Ancients, em 2012, além das nomeações para os Brit Awards.

Foi escolhida como Poeta da Próxima Geração pela Poetry Book Society, na sequência de livros como "Everything Speaks in its Own Way", "Running Upon The Wires" ou "Hold Your Own", e de peças de teatro como "Wasted" ou "Hopelessly Devoted".

Em 2016, estreou-se na escrita de romances, com "The Bricks That Built The Houses", numa carreira em que o tom crítico sobre política e questões sociais a levou a ser traduzida em nove línguas.

A Leya Brasil publicou uma tradução desta obra, assinada por Daniela P.B. Dias, sob o título "Os Tijolos nas Paredes das Casas", a que o mercado português pode aceder através da edição digital.

Em Portugal, embora os álbuns de Kate Tempest estejam disponíveis, apenas é possível encontrar alguns dos seus livros na versão original inglesa, tendo em conta o catálogo da Biblioteca Nacional de Portugal.

SIF // MAG

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