Designação de candidatos à Comissão é "apenas um passo" - Durão Barroso
Porto Canal
O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, admitiu hoje que a designação de candidatos à sua sucessão é "apenas um passo", e disse não ter "ilusões", pois no atual sistema ainda não é possível, nem necessária, uma eleição direta.
Intervindo num debate em Bruxelas, José Manuel Durão Barroso lembrou que foi ele próprio o primeiro a propor, no Parlamento Europeu, a designação de candidatos aos principais postos das instituições comunitárias, mas acrescentou que fez essa proposta "sem qualquer género de ilusões".
"Claro que é apenas um passo, mas pelo menos é um passo para ter uma abordagem mais europeia às eleições. Isto não era possível há uns anos", disse, acrescentando que a eleição direta do presidente do executivo comunitário é um cenário ainda irrealista, em boa parte porque ainda não existem "verdadeiros partidos políticos europeus".
"O mesmo partido que diz uma coisa no governo, diz exatamente o oposto no Parlamento Europeu. E refiro-me exatamente ao oposto, não estou a falar de nuances", afirmou, dando o exemplo dos "eurobonds" (títulos de dívida europeia): "alguns dos adeptos mais entusiastas dos eurobonds no Parlamento Europeu são precisamente os maiores opositores nos governos. E claro que tal torna a vida difícil para qualquer presidente da Comissão Europeia, e veremos o que acontece com o próximo", disse.
Por outro lado, Durão Barroso sustentou que, mesmo nos moldes atuais, o presidente da Comissão não deixa de ter legitimidade democrática, e, referindo-se ao seu caso concreto, vincou que foi designado pelo partido político ao qual pertence (Partido Popular Europeu) e teve de se sujeitar ao processo de eleição no Parlamento Europeu, através de voto secreto.
"E posso dizer-lhes: é mais difícil obter uma maioria no Parlamento Europeu do que em muitos dos nossos parlamentos nacionais na Europa, porque nos parlamentos nacionais, em princípio, o partido tem uma maioria ou faz uma maioria de coligação. Quando fui ao Parlamento eu não tinha uma maioria", disse.
Em contraste, "muitos primeiros-ministros na Europa não foram eleitos", apontou, arrancando risos à plateia, e, depois de o moderador dar o exemplo mais recente, o do italiano Matteo Renzi, Durão Barroso juntou os do britânico Gordon Brown e do francês Dominique de Villepin.
Durante a conferência em Bruxelas organizada pela ESPAS (Sistema de Estratégia e Política Europeia de Análise), Durão Barroso nunca se referiu ao seu futuro pessoal, embora pareça cada vez mais certo que não concorrerá a um terceiro mandato à frente do executivo comunitário, cargo que ocupa desde 2004.
No quadro das primeiras eleições europeias realizadas à luz do Tratado de Lisboa, que conferiu mais poderes à assembleia, incluindo o resultado do sufrágio ser "tido em conta" na designação do presidente da Comissão (que continua a pertencer ao Conselho), pela primeira vez as famílias políticas apresentam candidatos à presidência do executivo comunitário, mas não é líquido que os Estados-membros escolham o candidato da família mais votada.