Comemorações do dia 10 de Junho no Porto 2017, parte 1

VÍDEOS E NOTÍCIAS

OPINIÃO

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Patrícia Reis

CULTURA

A Cultura é, por sistema, a parente mais pobre da política

A 10 de Junho de 1580 morre Luiz Vaz de Camões e a homenagem ao escritor dos Lusíadas é muitas vezes esquecida no âmbito do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Esquecida porque Camões é um nome maior da Cultura nacional e a promoção e divulgação da cultura é essencial para manutenção da nossa identidade.

Temos na Cultura, como em outras áreas, nomes maiores. E continuamos a ter, nas novas gerações, mentes criativas e inovadoras. Não me refiro apenas à Literatura. A nossa Cultura é uma moldura de grande dimensão e reflecte a nossa História, as nossas lendas, os nossos mitos e, ao mesmo tempo, fixa a contemporaneidade.

A Cultura é, por sistema, a parente mais pobre da política. Nos governos sucessivos que preenchem a nossa jovem democracia, a Cultura nunca teve o investimento que deveria ter.

Este 10 de Junho, celebrado na cidade do Porto, é porventura um momento para pensar se temos uma estratégia cultural que acompanhe o facto de Portugal estar na moda, ter tão bons indicadores ao nível do Turismo, e se apostamos ou não em quem insiste em ser agente cultural, artista plástico, escritor, músico, etc.

Há ainda uma reflexão adicional que deveremos fazer, sobretudo num país que parece estar cada vez mais deslumbrado pela juventude: apoiamos ou não apoiamos os mais velhos que contribuem significativamente para este património que é nosso, a Cultura Portuguesa?

Marcelo Rebelo de Sousa esteve mais de uma década na televisão como comentador. Sempre teve uma rubrica de livros. Há uns tempos, confidenciou-me que gostaria de ter feito um programa de livros na televisão. Pode ser que ainda venha a fazer. O único programa sobre livros que existe é na RTP 2. As outras estações de televisão dizem que a Cultura é uma chatice, pouco comercial, não ajuda aos shares e outras coisas.

Marcelo Rebelo de Sousa, homem culto, tem corrido feiras do livro, festivais literários, lançamentos e é um Presidente atento à cultura. Há muito tempo que não tínhamos um Presidente para quem a Cultura fizesse diferença. Pode ser que aconteça algo de extraordinário e o Presidente consiga que o resto das instituições oficiais entendam que sem Cultura não existe a soberania, não existem as comunidades portuguesas e, consequentemente, não existe necessidade para um 10 de Junho.

Patrícia Reis
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Mr Dheo

CULTURA

Ser Português nem sempre é fácil

Hoje, mais do que nunca, é dia de refletirmos. Hoje, mais do que nunca, devemos perceber quem somos. De onde viemos e o que conseguimos. Devemos olhar para nós próprios e hoje, mais do que nunca, dizer com orgulho que somos Portugal.

Quando era miúdo acreditava num sonho impossível. Sabia que aqueles rabiscos que fazia a spray nas paredes iriam, um dia, ser a minha vida. Que iria viajar pelo mundo e ver o meu trabalho reconhecido. Naquela idade não tinha a perceção de como parecia tão ingénuo aos olhos dos demais, e à medida que fui crescendo foram vários os momentos em que quase cedi e lhes dei razão. Parecia que neste contexto nunca poderia ser alguém. Mas, a cada dez portas que me fechavam eu abria uma janela. A cada momento em que sentia que o meu sonho não era levado a sério, mais a sério eu sonhava. Hoje, mais do que nunca, não me arrependo de ter sonhado.

Às vezes dou por mim a pensar que aqueles que definem ‘o meu hoje’ como sorte não fazem ideia de que ‘o meu ontem’ foi tantas vezes um azar. O azar de não ser bom o suficiente para ver o meu trabalho exposto, o azar de não ser astuto o suficiente para ver o meu trabalho recompensado ou o azar de ter nascido num país onde me vi obrigado a trabalhar dez vezes mais para ter as mesmas oportunidades que outros tiveram apenas e só porque eram bons e porque o mereciam. Hoje, mais do que nunca, tenho a plena consciência de que nada é fruto da sorte e que tudo é fruto de muito trabalho. Ser Português nem sempre é fácil.

E por isso, hoje, mais do que nunca, é imperativo que valorizemos o que temos cá dentro em detrimento do que vemos lá fora. Que gostemos e defendamos aquilo que é nosso. Que entendamos que a nossa evolução passa por motivar os mais jovens de que eles podem e devem sonhar, e sobretudo que acreditemos neles, sempre. Hoje, mais do que nunca, é obrigatório que tenhamos orgulho em ser Portugal.

Mr Dheo
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Edite Fernandes

DESPORTO

Ainda existe discriminação no desporto feminino

Ainda existe discriminação no desporto feminino. Para além da comparação em relação ao destaque que quando uma atleta feminina ganha algo, ou até mesmo uma equipa feminina, a diferença ainda é muita e o destaque não é relevante. Sem falar na questão monetária, onde existe uma discrepância muito grande nos salários dos atletas masculinos para os femininos. Não digo que deveria ser exatamente igual, mas que a diferença não fosse tão grande.

Também nós mulheres atletas conseguimos feitos nacionais e internacionais e deveríamos ser valorizadas por isso.

Edite Fernandes
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Daniel Beça

ECONOMIA

Cada Regime Político teve o seu 10 de Junho, celebrando, cada um, o entendimento que tinha de Portugal

10 de Junho. Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Não foi sempre feriado. E, a partir do momento em que começou a sê-lo, nem sempre celebrou a mesma coisa.

Diz quem sabe que foi pela primeira vez instituído como feriado pela cidade de Lisboa, logo a seguir à Revolução de 5 de Outubro de 1910. Um feriado municipal, celebrando Camões (terá falecido a 10 de Junho de 1580) e, com ele, a República Portuguesa, talvez mais do que a Portugalidade. Continuando a confiar em quem sabe, a data teria sido celebrada pela primeira vez em 1880, quando, ainda em plena Monarquia, os Republicanos terão aproveitado a celebração do terceiro centenário da morte do Poeta para o tornar bandeira da sua causa.

Salazar tornou-o feriado nacional em 1933, ano em que foi também aprovada a Constituição Política do Estado Novo. Chamou-lhe dia de Camões, e de Portugal, a que, em 1944, no dia da inauguração do Estádio Nacional, no Jamor, terá acrescentado o epíteto de Dia da Raça – assim ficando, Dia de Camões, de Portugal e da Raça, até 1974, tendo passado a celebrar também, a partir de 1963 (já em plena Guerra Colonial) as Forças Armadas Portuguesas.

Em 1974, com nova Revolução, adquiriu o nome e o conjunto de conotações (e de valores) que tem hoje.

Permanente, temos Camões. Temos também a República. Subjacente, teremos tido também, sempre, Portugal. A partir daí, cada Regime Político teve o seu 10 de Junho, celebrando, cada um, o entendimento que tinha de Portugal.

Moldado pelo 25 de Abril de 1974, e pelos seus valores, revejo-me no entendimento hoje prevalecente. Celebro Camões (o da epopeia, também eu, que não gosto menos do da lírica). Celebro Portugal. Celebro a língua portuguesa – que Fernando Pessoa fez coincidir com a pátria Portuguesa (em entrevista muito recente, concedida à Revista do Expresso, George Steiner afirmava “vive-se numa linguagem, não num lugar”). Sendo Portugal a língua portuguesa, celebrar Portugal é celebrar também, em primeiro lugar, as Comunidades Portuguesas (dando a Portugal uma extensão muito superior à dos 92.000 Km2, mesmo que, a estes, queiramos adicionar os quase 4 milhões de Km2 da Plataforma Continental).

O que tem tudo isto a ver com Economia? Muito pouco, mesmo para alguém, como o autor, com uma consciência deformada por mais de cinquenta anos de prática profissional nas áreas da Economia e, mais recentemente, da Gestão. Há vida para além da Economia – verdade a que basta, para ser aceite, um pouco de bom senso, ou, no caso de um materialista empedernido, como continuo a ser (“não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência", afirmava Karl Marx, numa das teses do autor a que me mantive mais fiel, ao longo da vida), um quanto baste de dialéctica.

E, no entanto, pensando melhor, talvez tudo isto tenha alguma relação com um pouco de Economia...

Não há Comunidades Portuguesas sem emigração, no presente ou em algum momento no passado. E, pesem embora todo o espírito de aventura, e de abertura ao Mundo, que nos caracterizam como povo, talvez não tenha havido emigração sem sofrimento, começando pelo facto de a Pátria não ter permitido, a muitos, viver no seu território. Emigraram mais cerca de 400 mil, nos anos da troika (estou a falar de activos, não contando com os membros da família, inactivos, que os acompanharam). Celebramos a Diáspora (e o desemprego abaixo dos 10%...) mas continuam a vituperar, alguns, quem, com responsabilidade, um dia considerou que a emigração pode ser uma solução, não a melhor, nem sequer desejável, mas a possível, para quem não consegue encontrar no País um modo de vida condigno ou compatível com as suas aspirações.

Quero que os Portugueses continuem a emigrar, de preferência por vontade própria, e por curiosidade, não por necessidade. Quero que vão e que voltem, uma e outra vez, fazendo circular conhecimento, e experiência, cada vez mais valorizados, como activos, na Economia do presente e do futuro – com mais valor do que, por exemplo, o “mercado da saudade”, pese embora a importância deste para algumas actividades económicas ditas mais tradicionais.

Custa-me que o Estado Português continue a contar cêntimos quando se trata de manter, e de expandir, a rede de estabelecimentos de ensino da língua e da cultura portuguesas junto das Comunidades emigrantes – que, de resto, só se tornaria factor de custo para o Estado, e para os contribuintes que este, agora, também diz querer proteger, quando, e onde, viesse a deparar com beneficiários economicamente menos favorecidos, a quem não pudesse aplicar-se o princípio saudável do “utilizador pagador”. Custa-me que os sindicatos de professores do meu país se encontrem agora empenhados em fazer prevalecer um princípio de reforma sem penalização ao fim de 36 anos de serviço (como forma de manter a dimensão do corpo de “professores” onde já não há alunos que a justifiquem, depois de esgotada a via da redução do número de alunos por turma...), não lhes tendo ocorrido o potencial de criação de postos de trabalho decorrente da expansão do ensino da língua e da cultura portuguesas no exterior. E talvez nem fosse necessário, para seguir esse caminho, obrigar ninguém a partir (ainda que por períodos limitados), sendo suficiente o espírito de aventura, e a curiosidade, de muitos professores mais jovens.

Revejo-me na decisão do Presidente da República de passar a celebrar o 10 de Junho em duplicado, dentro e fora: em França, em 2016, no Brasil, em 2017, nos Estados Unidos, no próximo ano. Fiel a um princípio, que aplica de forma consequente. Atento a oportunidades, se bem imagino, na hora de escolher os países em concreto. Conduzido por afectos, não acreditando que, em momento algum, tenha recorrido à Economia para, como esta recomenda, ponderar os custos e os benefícios de cada uma das escolhas em concreto, tanto das que efectuou como das que, em alternativa, poderia ter efectuado.

Somos assim, desde 1143, vão quase nove séculos (e, cada vez mais, quase metade da vida na Terra depois de Cristo). Não sei se vamos mudar ou se é sequer desejável que mudemos muito. Talvez, a mudarmos alguma coisa, possamos começar por tomar consciência de que a maior de todas as ameaças à nossa independência, no sentido da independência do Estado que também somos, vem da Economia (ou da falta dela) e das Finanças. Isto digo, e desejo, eu, a quem não custou reconhecer, atrás, que há vida para além da Economia, rendido, com gosto, ao espírito do 10 de Junho e ao que ele significa, hoje, no que se refere a Portugal e à Portugalidade.

Daniel Bessa
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Manuel Serrão

NORTE

10 de Junho, somos PORTUGAL

Durante a chamada longa noite fascista, o 10 de junho era o Dia de Portugal, mas era também o dia da Raça. Na verdade e porque acontecia quase sempre na Capital, onde tudo se passava nessa época, era uma espécie também de dia da Raça lisboeta, que pouco dizia e por isso também pouco interessava ao resto do país. Depois do 25 de Abril de 74, e com especial enfâse nos mandatos dos últimos Presidentes, este dia 10 de Junho que continuou a ser Dia de Portugal, mas também dia das Comunidades Portuguesas, começou a sair amiúde de Lisboa e as suas cerimónias protocolares têm-se vindo a registar fora da Capital e até fora do país. Isto reflete o entendimento de que a Nação portuguesa não se resume, como é evidente, aos portugueses que nasceram e vivem em Lisboa, mas também não se resume aos nossos compatriotas que atualmente vivem no território Continental ou Ilhas adjacentes.

A Nação portuguesa somos todos nós, portugueses, vivamos em Portugal ou vivamos Portugal no estrangeiro, para onde fomos de livre vontade ou por imperiosa necessidade. Somos todos Portugal e este ano em que o Presidente Marcelo escolheu e bem, dividir as comemorações entre o Porto e S. Paulo, continuaremos a ser todos Portugal, atravessando o Atlântico. Oceano Atlântico, esse mar que já foi nosso um dia e que é importante que todos os dias descobrir que tem de ser nosso outra vez, no sentido de que não pode quebrar os laços nacionais, de nação, que existem entre os portugueses do lado de cá e os do lado de lá.

No Porto também somos uma comunidade que tem uma história invicta e leal na defesa de Portugal. No Porto mesmo quando Somos Porto, somos sempre Portugal.

Manuel Serrão
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Emídio Gomes

NORTE

O futuro passa pelo Norte

A crise da qual felizmente parece que estamos paulatinamente a sair de forma lenta, mas segura, deve continuar a merecer uma atenção cuidada de todos, quanto mais não seja pela razão simples de que almejamos não repetir a situação no futuro. Não adianta imaginar que tudo se deveu ao colapso do sistema financeiro, por mais inacreditáveis que sejam alguns dos episódios que vamos conhecendo. Foi sobretudo a aposta maioritariamente orientada para o setor dos serviços não transacionáveis que acabou por se revelar absolutamente desastrosa enquanto base estrutural do desenvolvimento da economia. E o que nos dizem agora em uníssono: que o futuro passa pelo crescimento das exportações de bens e serviços transacionáveis! E que uma parte muito importante desse crescimento passa pela região Norte de Portugal e pela sua base industrial mais sólida!

A saída desta situação implica muito trabalho, sacrifício e persistência, com objetivos bem definidos. Exigirá ainda políticas públicas sérias e orientadas para suporte do desígnio enunciado. Teremos que aceitar vencer o desafio da competitividade e da internacionalização, assente na capacidade de conceptualizar, analisar e perspetivar novos produtos, serviços ou negócios, em alternativa ao modelo baseado na competição pelo preço baixo ou pela encomenda de terceiros. A competitividade das regiões assenta cada vez mais na qualidade e rapidez da informação, no conhecimento e na competência dos seus recursos humanos. Daí que os fatores decisivos sejam a inovação, o desenvolvimento tecnológico, a capacidade estratégica e de organização das pessoas e das empresas. Só isso qualifica o emprego e melhora a sua remuneração.

A análise da evolução dos últimos vinte e cinco anos da região do norte de Portugal permite hoje uma leitura suficientemente sólida, distanciada no tempo e nas diversas conjunturas políticas. De 89 a 2014 a região decresceu comparativamente ao país e à união europeia quando usamos o pib per capita como indicador de riqueza. Os piores valores de ciclo foram mesmo atingidos por alturas de 2003 e 2009. Quando o país cresce, a região não acompanha esse crescimento, quando a crise nos atinge, chega sempre aqui primeiro. Por isso mesmo já em 2007 e 2008 as empresas da região antecipavam a tempestade que se avizinhava, como forte impacto negativo no emprego.

Mas curiosamente é este mesmo espaço territorial que a partir de 2010 dá uma enorme lição ao país. Paulatinamente melhora de forma consistente a produtividade do trabalho e o seu tecido empresarial fortemente exposto à concorrência externa vai ganhando batalhas, acrescentado cerca de 1000 milhões de euros de saldo positivo à balança de transação de bens em cada ano. Para 2016 os dados apontam para um valor record superior a 6000 milhões de euros. Lentamente vai recuperando no emprego, embora ainda com o estigma do valor dos salários, sempre sob forte pressão e nivelamento abaixo do desejado numa sociedade moderna. Mas os últimos dados reportados sobre o emprego científico são também muito animadores. As relações de proximidade com a Galiza atingem um nível de profundidade invejável. Os setores da metalomecânica, têxtil e turismo, por exemplo, cooperam de forma regular e consistente, o mesmo começando também a acontecer entre instituições do ensino superior.

O caminho para o futuro é sempre difícil, lento e com dor, como todos percebemos bem por aqui. Mas com verdade, trabalho e sem ilusões, sabemos bem que o futuro passa pelo Norte.

Emídio Gomes
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Jorge Fiel

POLÍTICA

O Dia de Portugal é uma enorme parvoíce, penso eu de que…

Deixem-me que vos diga que, no geral, acho uma enorme parvoíce esta história dos Dias de … incluindo obviamente o Dia de Portugal que está em grande destaque nos lugares cimeiros da minha lista de pequenas e médias irritações.

Espero que não me levem a mal pelo desabafo. E, por favor, não façam confusão. Como fiz questão de sublinhar no parágrafo anterior, apliquei a etiqueta “enorme parvoíce”, tendo o cuidado de frisar que me estava a referir aos Dias de … “no geral”, ou seja com excepções no particular de categorias bem específicos, que passo a detalhar.

Não me agradam, mas compreendo (e por isso tolero) os Dias de.. espetados no calendário com intuitos essencialmente comerciais, como o Dia da Mãe, o Dia do Pai ou do Namorado, só para citar três exemplos.

A ideia é criar uma oportunidade/obrigação de compra para a mãe, pai ou namorado/a, de um livro, swatch, perfume, flores, capa de telemóvel ou ofícios correlativos, o que gera um impacto positivo no crescimento da nossa anémica economia, que tão precisada disso anda.

Quanto mais depressa a massa circular, mais cresce a economia, e por isso o consumo deve ser estimulado - a qualquer custo, na ideia da dupla Costa/Centeno, que para meu gosto negligenciam, nos seus esforços doutrinários, o apelo a suavizar esta voracidade pelas compras com a manutenção dos nossos salutares hábitos de poupança, que parecem ter entrado em vias de extinção, mas disso já é outra história, que não é para aqui chamada…

E confesso-vos que até simpatizo muito com Dias de… que foram inventados com o louvável intuito de atrair os holofotes para causas minoritárias e grupos mais desprotegidos, como, só para citar três exemplos, o Dia das Mulheres Frígidas e Ejaculadores Precoces, o Dia dos Anões e Liliputianos ou o Dia dos Descendentes de Alemães dos Sudetas que Preferem Riesling a Cerveja Pilsener - não tenho bem a certeza que este último dia já tenha sido oficializado no calendário da ONU, que creio ser a entidade que superintende a estas coisas, mas estou em crer que lá chegará, nem que para isso eles tenham de mobilizar a atenção do secretário geral, o nosso bondoso António Guterres…

Voltando à vaca fria. Gosto muito (cada vez mais) de Portugal. Mas não acho, nem nunca achei graça nenhuma ao Dia de Portugal, que sempre olhei como uma coisa bolorenta, despropositada, apesar de útil para aos canais generalistas que já começavam a ressacar da overdose de guloseimas proporcionada pelo 13 maio/papa Xico, tetra do Benfica e a vitória do Salvador na Eurovisão, e andam ávidos à espera de efemérides que lhes aumentem directos interminavelmente estúpidos, esteticamente insípidos e absolutamente sonolentos e desprovidos de interesse, salvos aqui e ali por pérolas de humor involuntário proferidas pelos pobres dos locutores de serviço.

Há quem se orgulhe da feliz originalidade portuguesa da escolha de uma data relacionada com a cultura (a morte de Camões) - ao contrário da generalidade dos países que preferem celebrar um evento político marcante da sua história como dia nacional.

Esta diferença, que ajuda a completar a imagem de país de poetas que gostamos de vestir, não me comove. E não posso deixar de vos confidenciar que considero completamente despropositadas as pobres e ridículas exibições que fazem parte do ADN do Dia de Portugal.

O 10 de Junho é também pretexto para o Presidente da República distribuir umas medalhas e comendas (como amigo de longa data do Juca estou feliz por ele ter sobrevivido a esta pandemia, mas temo que não consiga escapar a mais seis anos de Marcelo) e pronunciar o seu discurso sobre o Estado da Nação.

Percebo perfeitamente que o Marcelo delira com isto do 10 de Junho, porque é patriota (tinha a mania de nos tratar por patriotas, algures no início dos anos 80, quando fiz parte da equipa fundadora do extinto Semanário e trabalhei dois pares de anos às ordens dele) e o Dia de Portugal é uma oportunidade de ouro para selfies, horas de televisão, imersão no povo, fotos maravilhosas e, ainda para ir até ao Brasil ver o filho, a comunidade portuguesa e dar um chega para lá à classe política brasileira, que dá dez a zero à nossa na forma despreocupadamente despudorada e generalizada com que se deixa corromper.

Chegado a este ponto deste longo texto, para que ele não pareça apenas um mero exercício de bota-abaixismo e, também, para premiar os estóicos leitores que aguentaram chegar até aqui (um truque inspirado na antiga prática de algumas bandas, que incluíam uma faixa secreta, no final dos LP de 33 rpm ou nos singles e EPs de 45 rpm), deixo ficar duas sugestões positivas (a gratuitas) aos camaradas Marcelo e Costa:

1. Fazer o rebranding do 10 de Junho para Dia de Portugal, de Camões, do Cristiano Ronaldo e das Comunidades Portuguesas. Até 1977, o Dia de Portugal era singelamente baptizado de Dia da Raça, denominação pouco consentânea com os novos pergaminhos democráticos da nação. Quarenta anos volvidos, está na hora de alargar ao futebol o perímetro das comemorações e celebrar o mais português vivo (dizem…) num refresh inovador - assim, o rapaz já tem um busto e o nome num aeroporto;

2. Adotar um mecanismo para que o Dia de Portugal calhe sempre a um dia de semana, de preferência a um terça ou quinta-feira, para dar pretexto a uma sempre saborosa ponte. Sugiro duas maneiras de viabilizar esta feliz ideia que estou certo agradará ao camarada Costa, um homem bom e generoso sempre pronto a não desperdiçar uma boa oportunidade para libertar os seus compatriotas (em especial os funcionários público) das agruras do trabalho. Este ano, para mal da generalidade dos portugueses que nutrem menos amizade pelo trabalho, o 10 de junho calha a um sábado, uma traição do calendário, que arranjou maneira de compensar os lisboetas (com feriados a 13 e a 15, não precisam de se maçar na próxima semana) mas, em contraste, numa óbvia e condenável manifestação de centralismo, castigou os portuenses agendando para sábado o feriado do S. João. Uma pulhice! Estas contrariedades podem ser evitadas antecipando os feriados para a sexta-feira anterior, ou adiando-os para a segunda-feira seguinte, os feriados que calhem ao fim-de-semana. A segunda hipótese é a de alternar a data, consoante a conveniência do inalienável direito à preguiça (tão bem pregado por Paul Lafargue), tirando partido da possibilidade em aberto pelo alargamento ao CR7 do âmbito do Dia de Portugal. Mas temos de reconhecer que não é uma ideia tão boa. Nem sempre daria resultado, como é o caso gritante deste ano, pois a data de nascimento do Ronaldo (5 de fevereiro) calhou num domingo. Pelo seguro (calma que não me estou a referir ao António José), mais valia esperar pela canonização da irmã Lúcia (que foi ultrapassada pelos muitíssimo mais apagados e menos célebres Jacinta e Marto, apesar do seu processo já ir em 15 mil páginas, ainda lhe está a faltar um milagre, o que me leva a fazer uma terceira sugestão, endereçada à Maria Manuel Leitão Marques, de exportar o Simplex para o Vaticano), e acrescentá-la à designação: Dia de Portugal, de Camões, do Cristiano Ronaldo, da Irmã Lúcia e das Comunidades Portuguesas. O que vos parece?

Jorge Fiel
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Padre Lino Maia

SOCIAL

Portugal Solidário

No decurso da história da Pátria, antes do mais, a solidariedade social sempre tem sido - e continua a ser - uma expressiva vivência cultural. Cultura judaico-cristã...

Uma cultura sustentada, em que cada um se vê como "guarda" do seu irmão. Cultura judaica, mas, também, cultura cristã do "parar para acolher", "abraçar" para "fazer andar" e "curar" para "anunciar" alguma intemporalidade. Uma cultura em que muitos se mobilizam, não responsabilizando outros por aquilo que eles próprios têm condições para realizar. E, então, cada um assume como imperativa e a si mesmo dirigida a ordem "dai-lhes vós de comer", sabendo que aquilo que faz "a um dos mais pequeninos" é anúncio e culto a um Deus que se "crê" estar em todo aquele que se "sente" e é assumido como próximo.

Uma solidariedade que se foi expressando, também, numa proteção social direta adotada pela comunidade que, assumindo como sua ventura a sorte do seu próximo, se foi organizando na subsidiariedade, ancorando caridade, cidadania e gratuitidade. Com inovação, solidariedade, envolvência e opção preferencial pelos mais carenciados. Prática multissecular que lhe conferiu competência e ciência e que não tem concorrência. Com as expressões mais variadas.

É o que se confere desde a aldeia mais nordestina do distrito de Bragança até à mais ocidental da ilha das Flores, nos Açores, percorrendo todo o território português. As pessoas interessam-se umas pelas outras. E fazem bem umas às outras. E sentem-se bem a fazerem bem. E felizes por fazerem cada vez melhor. Formal ou informalmente...

São organizações que têm a forma de associações, cooperativas, fundações ou mutualidades de solidariedade social, centros sociais paroquiais, institutos de organização religiosa ou misericórdias, com respostas para acolhimento institucional para crianças e jovens em perigo, de alojamento social de emergência, cantinas sociais, casas abrigo, centros (de acolhimento, de convívio, de dia e de noite para pessoas idosas, de apoio à vida e a toxicodependentes, de apoio familiar e aconselhamento parental, comunitários e protocolares, de atividades ocupacionais e de tempos livres), creches, cuidados continuados integrados, jardins-de-infância, lares (de infância, juventude ou pessoas idosas), serviços de apoio domiciliário...

São organizações que são Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS): mais de 70 por cento da ação social direta que entre nós é desenvolvida é precisamente da responsabilidade destas organizações. O que tem permitido a muitas crianças crescer no sentido da plenitude, a muitos jovens valorizarem-se na promoção da cidadania, a muitas pessoas com deficiência serem integradas e respeitadas e a muitos idosos verem reconhecido o seu percurso de vida e encontrarem uma qualidade de vida que os faz saber continuar a sonhar.

Estas Instituições constituem o Sector Social Solidário, que não só tem crescido em número, particularmente nos tempos do regime democrático, como, pela sua distribuição por todo o território e junto das comunidades em que estão inseridas, passou a assumir uma importância social e económica de elevado relevo. Hoje são cerca de 5.000 Instituições, dirigidas por voluntários, que apoiam diretamente mais de 650 mil utentes e indiretamente muitos mais ainda, empregam mais de 200 mil trabalhadores e representam um bom indicador de atividade económica.

O Sector Solidário, que está implantado, organizado e solidificado, é, também, uma pluralidade conciliada de credos, expressões de cidadania, ideologias e manifestações de solidariedade.

Muito embora o espaço do Sector Solidário seja o espaço social, a sua dimensão é a da capilaridade, a sua filosofia é a da envolvência, a sua matriz é a do voluntariado, a sua opção é a de privilegiar os mais carenciados, a sua presença é a da proximidade, a sua qualidade é a da solidariedade e o seu produto é serviço público. Mas onde Sector Solidário está perfeitamente individualizado é na sua estratégia, que é a da Cooperação com o Estado. Aquilo que estas Instituições fazem é o que um Estado ao serviço dos cidadãos tem de idealizar e garantir que seja desenvolvido no respeito pela dignidade de cada um e de todos e na direção de uma sociedade mais inclusiva e mais igual.

Ao acordar para a proteção social direta, o Estado poderia nacionalizar as muitas expressões e equipamentos já então existentes mas não o fez porque tal seria frustrar uma das caraterísticas de excelência da comunidade nacional. Preferiu valorizar a expressão e a vocação da sociedade e das suas organizações. Celebrou acordos de cooperação, típicos e atípicos. Confiou algo do pouco que desenvolvia a quem melhor o fazia. Desenvolveu concursos para novas respostas sociais e para o alargamento e a beneficiação da rede de equipamentos sociais. Promoveu um Pacto de Cooperação para a Solidariedade Social.

Hoje, por direito próprio, em colaboração com os serviços públicos, o Sector Social Solidário integra o sistema nacional de proteção social, constituindo uma componente essencial do Estado Social. Aliás, é uma das suas principais âncoras.

No Dia de Portugal, celebrando a esperança que se refortalece entre nós, este sector clama por uma programa público que vise contrariar a desertificação do nosso Interior e promover uma maior equidade. E Portugal pode contar e conta com as IPSS...

Padre Lino Maia

O RETRATO

POPULAÇÃO

0

Residentes em Portugal

0

Nascimentos

0

Estrangeiros em Portugal

0

Crianças e jovens até aos 14 anos

0

Idosos com mais de 65 anos

0

Maiores de 85 anos

FAMÍLIA

0 e 0

Idade média ao 1º casamento

0

Casamentos

0%

Casamentos não católicos

0

Divórcios

0%

Bebés fora do casamento

0 anos

Idade média da mãe ao nascimento do primeiro filho

SAÚDE

0

Mães adolescentes

80.4,
83.2 anos

Esperança de vida geral

0

Mortes por ano

0%

Mortes devidas ao cancro

0

Número de habitantes por médico

0

Turberculose por 100 mil habitantes

0

Mortes no primeiro ano de vida

2.92

Mortalidade infantil (por 1.000 nascimentos)

PAÍS

0

SMN

0

Sessões de cinema

0

Museus

0

Passageiros embarcados em aeroportos nacionais (dez 2016)

0

Reclusos

0

Condenações em processo-crime

0

Mortes na estrada

0 km

Extensão da rede ferroviária

0% do PIB

Poupança bruta dos particulares

0

Estabelecimentos hoteleiros

0

Dormidas em hotéis

0

Carros novos registados por ano (ligeiros)

EDUCAÇÃO

0

Professores em funções

0%

Taxa de analfabetismo (2011)

0

Alunos matriculados no ensino secundário

0

Doutoramentos em Portugal ou no estrangeiro reconhecidos por universidades portuguesas (2013)

EMIGRAÇÃO

0

Portugueses espalhados pelo mundo: 0% (2015)

País com maior taxa de emigração

0

para o Reino Unido em 2015

0

Portugueses a viver em França

EMIGRAÇÃO DE PORTUGUESES

 

 

 

EVOLUÇÃO DA ECONOMIA

1977

Primeiro resgate financeiro a Portugal

Mário Soares era o Primeiro-Ministro, Ramalho Eanes era o Presidente da República e Medina Carreira ocupava a pasta das Finanças na primeira vez que o Fundo Monetário Internacional chegou a Portugal. O desemprego estava nos 7%, a inflação não parava de subir e o escudo estava desvalorizado como nunca. A entrada do FMI foi discreta mas as dificuldades do país em obter financiamento obrigaram ao acordo de estabilização económica. A redução de salários e a subida de impostos foram duas das propostas em cima da mesa.

1983

O segundo resgate, seis anos depois

Reinava o 'bloco central' liderado por Mário Soares com a aliança de PS e PSD. As Finanças estavam a cargo de Hernâni Lopes e ao Governo apelidava-se de 'Emergência Nacional' devido à conjuntura da época. As taxas de juro fazeram a dívida externa subir sem parar e o desemprego estava nos 11%. A receita foi semelhante à de 1977, aumento de preços, travão no investimento público e etc.

1986

A adesão à CEE e a chegada dos Fundos Comunitários

Mários Soares abriu a porta à modernidade com o pedido de adesão à Comunidade Económica Europeia, em 1985. Em 1986, a entrada na CEE, junto com Espanha, fez com que Portugal recebesse mais de cem mil milhões de euros provenientes de Fundos Comunitários que tinham como objetivo aproximar Portugal do desenvolvimento da média europeia, o que não se concretizou devido à aposta excessiva em infraestrututas rodoviárias e a outros erros na aplicação do investimento.

2002

O Euro

Dia 1 de janeiro de 2002 entra em vigor em 12 países da União Europeia a moeda única. 200,482 escudos valiam 1 euro. A ideia da conversão ainda distraiu boa parte dos portugueses mas a subida da inflação foi notória. Um café, por exemplo, passou de 50 escudos para 100 escudos (50 cêntimos). Para alguns partidos políticos, o euro continua a ser uma 'arma de arremesso' já que o culpam pelo fraco crescimento da economia e pela subida brutal da dívida.

2011

Troika chega pela terceira vez a Portugal

Em 2011, já há muito ecoava que era necessário pedir ajuda externa e foi José Sócrates que fez esse mesmo pedido. O Primeiro-Ministro da altura culpou a situação difícil nos mercados financeiros. O FMI, a Comissão Europeia e o BCE negociaram um empréstimo de 78 mil milhões de euros a três anos. Em troca, Portugal ficou sujeito a um plano de ajustamento que se traduziu em medidas de austeridade para os portugueses, como cortes nos salários e aumento de impostos.

 

SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL